Polícia conclui inquérito e constata crime de tortura em clínica de reabilitação, em Pontal do Paraná


Por Redação Publicado 01/05/2023 às 17h03 Atualizado 18/02/2024 às 10h26

A delegacia de Pontal do Paraná concluiu, na última sexta-feira (28), o inquérito que investigava o tratamento dado a pacientes do Líber Centro Terapêutico, que funciona no balneário Pontal do Sul, em Pontal do Paraná. Conforme noticiou o JB Litoral, três pessoas foram presas, em 17 de abril, e vários pacientes conduzidos à delegacia, onde registraram boletins de ocorrência denunciando crimes de maus tratos, tortura e cárcere privado ocorridos no interior da clínica, a qual oferece tratamento para dependentes químicos.

Os três responsáveis detidos em flagrante tiveram as prisões convertidas em preventivas e seguem presos. Eles são Felipe Pagano, que consta nas redes sociais da clínica como supervisor; Narcizo Possebon, terapeuta, e Pablo Fernandes, contratado poucos dias antes da prisão, como coordenador. Ele foi o único dos três a não ser indicado pelo crime de tortura.  

NOVAS INVESTIGAÇÕES


De acordo com delegado responsável pelo caso, Thiago França, o inquérito inicial foi concluído, mas as investigações continuam.

Dois foram indiciados por tortura e as investigações irão continuar, pois surgiram outros suspeitos da prática do crime de tortura envolvidos com a clínica Líber. Eles ainda serão qualificados no decorrer desse novo inquérito instaurado. Agora cabe ao MP e ao Poder judiciário decidir sobre a manutenção da prisão”, disse, em conversa com o JB Litoral.

REVOLTA DOS FAMILIARES


Após a publicação da primeira reportagem, o JB Litoral recebeu diversos relatos de familiares de pacientes, que terão suas identidades preservadas. Confira alguns deles:

Eu coloquei meu irmão nesta clínica com o maior amor do mundo, na intenção de ele se recuperar, pagando R$ 2 mil por mês, que não é um valor barato. Agora, 50 dias depois, descobri que os internos sofriam maus tratos, a clínica sem estrutura física nenhuma, sem profissionais adequados. Graças a Deus meu irmão não sofreu nenhuma agressão porque percebeu, desde o começo, como funcionava o negócio lá dentro. Se o interno ameaçasse contar qualquer coisa que acontecia lá para a família, eles torturavam, batiam, deixavam dias amarrados e presos, sem comer”, disse uma irmã de paciente.

Eles manipulam as famílias dizendo que é normal o interno mentir, reclamar, que é por causa da abstinência, que faz parte do processo de tratamento, que todos agem assim. A família acabava acreditando e deixando a pessoa lá sofrendo. Que a justiça seja feita e que paguem por tudo”, completou.

Em outro relato, uma mãe afirma que o filho está mais abalado depois de passar pelo atendimento no Líber Centro terapêutico. “Meu filho estava nessa clínica, estou revoltada. Paguei mais de R$ 3 mil reais e, em dois meses, ele está com psicológico mais abalado do que quando entrou lá”, afirmou.

A tia de um outro paciente ainda contou que os internos nem chegavam a receber os alimentos levados pelos familiares.

Meu sobrinho também estava lá e passou por maus tratos. A dona da clínica conversa com a família com a maior frieza, falando que estão sendo bem cuidados. As pessoas vão lá para ser ajudadas e, no fim, fazem toda essa crueldade. Eles batem, torturam, deixam algemados. Horrível, eles precisam ser presos e pagar por toda essa crueldade. Pagamos R$ 2 mil por mês, fora remédios, roupa e comida que levamos e eles nem davam para os internos”, detalhou a familiar.

O pai do meu filho, infelizmente, estava nesse lugar maldito. Tinha saído de lá para um lugar mais decente, mas como esse era mais barato, colocaram ele lá novamente. Eu cansei de avisar que aquele lugar cheirava mal, mas não tinha provas. Deus é mais, saiu a prova para todo mundo ver”, comentou a ex-companheira de outro paciente.