População de Morretes vive incerteza do funcionamento da saúde pública


Por Marinna Prota Publicado 24/04/2021 às 18h24 Atualizado 16/02/2024 às 00h22

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Uma das mais turísticas cidades do litoral do Paraná vive um momento de pré-colapso. Na segunda semana de abril, um vídeo publicado pela própria administração do Hospital e Maternidade de Morretes mostrava o diretor da instituição, Manoel Medeiros Machado, informando que não haveria médicos para atender a população na sexta-feira (16), durante o dia.

A informação chocou a população, que já havia passado por um susto na mesma semana, quando uma médica plantonista chegou para trabalhar e acabou tendo um ataque de pânico e crise de choro, ficando sem condições de realizar o serviço. Segundo o diretor do hospital, ela já está recuperada e de volta à escala de plantões.

Segundo o secretário de Saúde de Morretes, Vinicius Uyemura, “o hospital tem duas empresas que são terceirizadas que participam de licitação, uma para o hospital e outra para a Ala Covid. Elas são responsáveis por cumprir o contrato para dar prestação de serviços médicos e equipe de enfermagem. São vários médicos na equipe deles, mas como a gente está em um momento bem complicado de pandemia e de epidemia de dengue está faltando profissional no mercado”.

O hospital de Morretes possui um quadro com 100 funcionários e só na última semana foram afastados por Covid-19 dois médicos, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem e uma cozinheira. Além deles, um médico e uma técnica de enfermagem estão se recuperando após terem contraído a dengue, segundo a prefeitura.

Os profissionais afastados representam 7% do total disponível para o hospital, que é referência no atendimento à Covid-19 na cidade, tendo inclusive uma ala específica para isso. Em média, a instituição atende entre 50 e 80 pacientes por dia.

Contratos

No Portal da Transparência, é possível observar que existem dois contratos vigentes para atender o município. Como citado pelo secretário de Saúde, a empresa Exalife Serviços Médicos Ltda ME. é responsável pelos profissionais que estão no Pronto Atendimento (PA) da unidade e a K.J.R. – Gestão, Vida e Saúde, empresa que possui um ex-candidato a vereador em 2016 na cidade, mas que não foi eleito, como sócio, pela Ala Covid do hospital.

Segundo o edital, a K.J.R. foi a mais barata entre as empresas que estiveram no edital, com o pagamento de R$1.230,00 por plantão para os médicos e R$ 450,00 para os enfermeiros. O valor total do contrato é de R$ 384.800,00 ( trezentos e oitenta e quatro mil e oitocentos reais) e a homologação do documento dispensou licitação por se tratar de um regime de urgência para atendimento à Covid-19. Todos esses valores seriam o suficiente para manter um médico, um técnico de enfermagem e um enfermeiro no atendimento.

Já a Exalife, que também ganhou o processo licitatório por menor preço, estipulou o pagamento de R$1.440,00 por plantão para os médicos e R$ 410,00 para os enfermeiros, chegando a um valor total de contrato de R$561.600,00 (quinhentos e sessenta e um mil e seiscentos reais). Os atendimentos fornecidos por esta empresa, são tanto para ao Pronto Atendimento (PA), quanto para a Ala Covid-19. No entanto, apesar de que os responsáveis do município afirmarem que as duas empresas estão em operação, o contrato da Exalife venceu em 11 de abril, conforme consta no Diário Oficial, que indica a vigência do contrato de até 120 dias.

Mas, a K.J.R recebeu um aditivo, aumentado dos cerca de 200 plantões para 350 no início deste mês de abril, só que ainda assim não foi possível garantir que não haveria problemas de falta de pessoal na unidade de saúde de Morretes. Segundo o diretor do hospital de Morretes, Manoel Machado, “teoricamente cada dia são dois plantões de 12 horas em cada setor, no PA e na Ala Covid. Alguns médicos repetem o plantão, por isso fica difícil dizer quantos são. Quem faz a gestão desses contratos é a própria empresa. O município não tem médico contratado”.

Procuradas, as duas empresas responsáveis pelos contratos com os médicos não retornaram aos pedidos de explicações enviados pelo JB Litoral. Segundo a prefeitura, o problema da falta de profissionais foi solucionado antes que a população acabasse sem atendimento médico em plena pandemia.