Quadrilha de tráfico internacional usava caminhoneiros e trabalhadores do TCP


Por Marinna Prota Publicado 27/08/2021 às 12h11 Atualizado 16/02/2024 às 11h26

Nesta semana vídeos de um dos depoimentos de envolvidos no esquema de tráfico internacional de drogas em Paranaguá, investigados pela Operação Enterprise, vazou na internet. No material é possível acompanhar a delação feita por um dos homens suspeitos de envolvimento no esquema. A quadrilha utilizava caminhoneiros e também trabalhadores do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) para efetuar o transporte do produto até outros países.

Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como Major e chefe do esquema de tráfico internacional de drogas. (Foto: Arquivo/ OJACARÉ.com.br)

O esquema descoberto fazia com que toneladas de cocaína saíssem pelo TCP para países, principalmente da Europa. O delator, identificado como Jorge Santos Zela, o “Zóio”, foi preso na Operação Enterprise em novembro do ano passado, pela Polícia Federal (PF).

Segundo a polícia, ele é apontado como chefe de um dos dois grupos que agem no Porto de Paranaguá. O mandante do esquema é identificado pela PF como Sérgio Roberto de Carvalho, o “Major”, chefe da quadrilha e ex-oficial da Polícia Militar de São Paulo e segue foragido.

A delação de Zela foi homologada pelo juiz após acordo com o Ministério Público e Polícia Federal e por isso ele revelou detalhes de parte do esquema.

Como funcionava?

O esquema todo começava os países da América Latina com alta taxa de produção de drogas ilícitas, como Colômbia, Peru, Bolívia e Paraguai. Nestas regiões, a cocaína era comprada de fornecedores, que enviavam os lotes para o Brasil em aviões particulares, que pousavam em fazendas da quadrilha. Depois, os criminosos colocavam a carga em caminhões e vans e direcionavam para as regiões portuárias, uma delas era o litoral paranaense.

“Essa droga vinha de São Paulo, geralmente em vans e sprinters com carroceria. Pessoal vinha junto abatendo até chegar em Paranaguá. Eles me avisam antes de chegar aqui, o horário que eles iam chegar e eu marcava um local na entrada da cidade para cruzar com eles na BR e ir guiando eles até o lugar para descarregar”, diz o delator.

Depois que a droga era descarregada na cidade, iniciava o processo de “contaminação”, que era a entrada da cocaína de maneira escondida no TCP e a infiltração dos pacotes dentro dos contêineres, em uma metodologia conhecida como HipOn HipOff, quando os donos da carga eram alheios aos acontecimentos criminosos e tinham seus produtos utilizados para disfarçar o transporte da droga.

De acordo com o relato, um ex-funcionário do terminal foi contratado pela quadrilha para administrar uma equipe de criminosos dentro do TCP, que faziam o procedimento no local. “Ele tinha três pessoas cada turno. Tem quatro turnos no dia, mais ou menos umas 12 pessoas”, revelou Zela.

Para vários países

Apontado como líder do esquema, “Major” era o organizador dos contatos com o exterior. Ele seria incumbido de avisar o grupo qual deveria ser o país de destino da carga. Desta forma, o grupo que atuava dentro do TCP procurava um contêiner com a bandeira descrita e “contaminava” a carga com as drogas. “

O delator disse que a quadrilha mandava, pelo menos, um carregamento de cocaína por mês desse jeito. Contudo, a Receita Federal descobriu o esquema e passou a fazer apreensões seguidas de droga no porto. Os traficantes, então, foram obrigados a mudar de tática.

Para tentar escapar da fiscalização, eles passaram a esconder os pacotes de cocaína no sistema de refrigeração dos contêineres, também com ajuda de trabalhadores do terminal. “A gente usava eles de dia para verificar espaço, abrir o contêiner, ver se tinha espaço para colocar dentro e efetuava, geralmente, um dia antes ou uma hora antes do navio”, explicou Zela no depoimento dado a PF.

Operação Enterprise