“Queremos o Exército para tomar conta disso aqui”, diz manifestante para agente da PRF em tentativa de negociação na BR-277


Por Luiza Rampelotti Publicado 01/11/2022 às 16h25 Atualizado 17/02/2024 às 20h36
Manifestante não concordou com os pedidos da PRF e disse que estão em

Na manhã desta terça-feira (1), agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) se reuniram com manifestantes que estão interditando a BR-277, na entrada de Paranaguá. O protesto que começou com caminhoneiros que pedem por intervenção militar após a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições do último domingo (30), ganhou adesão de parte da população bolsonarista.

Durante a conversa, gravada e transmitida ao vivo pela emissora de televisão local, um agente da PRF não identificado pela reportagem tentava negociar com os militantes. “A gente é uma polícia de Estado e não de governo. A PRF é PRF há quase 100 anos, foi no FHC, quando Lula foi presidente, quando Dilma foi presidente, e agora com essa decisão nas urnas, será Lula [novamente presidente] provavelmente, e posteriormente, daqui há 4 anos, ninguém sabe. E a gente continuará sendo PRF”, disse para tentar acalmar os ânimos dos manifestantes.

O policial continuou dizendo que os agentes têm família, emprego, matrícula, que precisam levar comida para suas casas e que apenas respondem ordens. “A gente pode, pessoalmente, por baixo da farda, não concordar com algumas leis, mas o nosso serviço é fazer cumpri-las”, afirmou.

Ele informou aos manifestantes que tinha em mãos a decisão da Justiça Federal do Paraná que ordena a reintegração de posse – desobstrução das vias. “Muitos aqui sofreram as consequências do lockdown na pandemia, todo mundo sofreu, agronegócio, empresários, comerciantes, caminhoneiros. Isso que acontece hoje, apesar de ter reinvindicações diferentes, pode trazer consequências muito parecidas.  Nós temos fora do nosso controle medicamentos parados, produtos que podem estragar, carga viva, ônibus com pessoas, ambulâncias, carros particulares que precisam fazer consultas médicas”, falou.

Ao tentar negociar a desobstrução da via, agente da PRF afirmou que “pode, pessoalmente, por baixo da farda, não concordar com algumas leis, mas o nosso serviço é fazer cumpri-las“. Foto: Reprodução/Vídeo TVCI


Agente da PRF pede colaboração para desobstrução gradativa

O profissional destacou que a ordem é para que os agentes da PRF conversem com os manifestantes e ‘tentem ver uma maneira de ir desobstruindo as rodovias’. Ele ainda deu a opção para que aqueles que quiserem continuar no movimento [de paralisação das vias] conversem entre si e formem lideranças para o apontamento das reivindicações.

A gente é uma polícia da presidência da República que, até segunda ordem, continua até 31 de dezembro. Quero conversar com vocês da possibilidade de a gente, – vocês sabem o povo de bem que vocês são e a polícia de bem que a gente é – de forma pacífica, desobstruir aos poucos”, pediu aos militantes.

O policial também afirmou que a manifestação, sem prejuízo do ir e vir das pessoas, é legal, tranquila e que estava sendo pacífica. “A gente sabe que aqui não tem bandido, é apenas a PRF fazendo o trabalho dela. Foi exigido isso da gente, é uma decisão judicial, então a gente pede a colaboração de vocês”, solicitou novamente.

Manifestantes não acatam o pedido

Manifestante não concordou com os pedidos da PRF e disse que estão em “momento de desobediência civil”. Foto: Reprodução/Vídeo TVCI

Apesar das tentativas de diálogo e desobstrução pacífica da rodovia, os manifestantes não atenderam ao pedido. Um deles, também não identificado, afirmou que os participantes estão “em um momento de desobediência civil”. “Queremos o Exército para tomar conta disso aqui”, disse. Após a fala, ele foi aplaudido pelos demais militantes bolsonaristas.

Outro participante pediu um prazo maior para que todos conversassem entre si e decidissem se iriam acatar ao pedido do policial rodoviário federal.

O JB Litoral questionou a PRF sobre a identidade do agente citado e o que ele quis dizer quando afirmou que “provavelmente” Lula será presidente novamente. “A PRF é uma força de Estado e como tal atua na preservação da ordem pública, na segurança viária e na garantia da mobilidade. Estamos envidando todos os esforços para desobstruir as rodovias e nesse caso em questão, faremos a apuração do fato para tomar as medidas cabíveis”, afirmou. Sobre a identificação do policial em questão, não houve retorno.  

Ordem para desobstrução

Desde a noite de segunda-feira (30), há determinação da Justiça Federal do Paraná para o impedimento dos manifestantes realizarem bloqueios nas rodovias federais do Estado. Na teoria, o descumprimento da ordem pelos participantes deve ser penalizado em pagamento de multa diária de R$ 10 mil para cada réu, independentemente de ser líder ou militante, além de outras sanções penais cabíveis.

Apesar do encontro entre os agentes e os manifestantes, até o momento, a rodovia continua bloqueada. De acordo com a PRF, a instituição está liberando os pontos interditados e o processo de liberação seguirá “durante todo o período necessário até que se restabeleça a total fluidez nas rodovias“.

Questionada pelo JB Litoral sobre a previsão para a liberação da BR-277, em Paranaguá, que está bloqueada em ambos sentidos a partir do KM 5 (sentido crescente), na entrada da cidade, o órgão afirmou que está “em negociação“.