Sonho antigo: a necessidade de um novo acesso alternativo e estratégico a Paranaguá via BR-101


Por Luiza Rampelotti Publicado 07/12/2023 às 13h53 Atualizado 19/02/2024 às 06h58

O porto de Paranaguá, um dos mais importantes do Brasil e da América Latina, enfrenta um desafio para o seu desenvolvimento: o acesso limitado pela BR-277, a única rodovia que conecta à cidade. Especialistas apontam que a solução para esse problema reside na implantação da BR-101 no trecho do Paraná, uma proposta que ganha destaque pela sua capacidade de melhorar significativamente a conectividade da região.

Juliano Elias, renomado engenheiro civil, especialista em gerenciamento de projetos de estradas e projetista de drenagem e pavimentação, ressalta a importância dessa iniciativa. Com uma experiência que inclui mais de 500 km de projetos, inclusive, para as concessionárias RodoNorte e Ecocataratas e, também, para o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR), Juliano destaca a relevância de um novo acesso rodoviário para o desenvolvimento de Paranaguá.

O principal desafio enfrentado por Paranaguá é o acesso limitado pela BR- 277. Embora haja discussões sobre uma nova estrada, a principal barreira é o orçamento necessário“, destaca. Ele argumenta que a proposta de ligar a BR-101, começando em Garuva (SC) até a Estrada da Limeira, em Morretes, cria três conexões vitais para Paranaguá: norte, sul e centro, potencializando não apenas o acesso ao porto, mas também impulsionando o crescimento econômico da região.

Segundo o especialista, o traçado começaria na divisa com Santa Catarina, formando um entroncamento com a BR-376 e passaria nos fundos da baía de Guaratuba para formar um entroncamento com a BR-277, na Estrada da Limeira, terminando na BR-166, perto da divisa com São Paulo.

Custo de R$ 1 bilhão

A numeração das BRs, conforme explica Juliano Elias, segue uma lógica que indica o sentido da pista e sua posição no eixo do Brasil, por isso, um novo traçado na BR-277, por exemplo, não seria possível. A ausência da BR-101 no Paraná é um gargalo que a proposta busca resolver, criando uma rota estratégica para o escoamento de mercadorias e o desenvolvimento logístico do Litoral do Paraná.

Desafios ambientais são inerentes a projetos dessa magnitude, mas Juliano destaca exemplos bem-sucedidos, como o Complexo Anchieta-Imigrantes em São Paulo, que utiliza soluções inovadoras, como túneis, pontes e reversibilidade de pistas, para minimizar impactos ambientais e melhorar a eficiência do tráfego. Segundo ele, um projeto como esse custaria cerca de R$ 1 bilhão.

Investimentos significativos são necessários, mas o exemplo de Santa Catarina, com um projeto de desvio para a BR-101, mostra que é possível quando há vontade e recursos”, afirma.

Impactos negativos x Potencial de crescimento

José Alberto Pereira Ribeiro, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) e coordenador do Conselho Temático de Infraestrutura da entidade, fala sobre os impactos negativos da inexistência da BR-101 na região paranaense. “A falta de uma ligação direta da BR-101 a Paranaguá faz com que o setor produtivo do Paraná continue dependendo exclusivamente da BR-277 para transportar suas cargas ao porto, uma rodovia que hoje está saturada, recebendo 70% das cargas do nosso sistema portuário instalado”, explica ao JB Litoral.

Ele ainda avalia que o potencial de crescimento econômico para o Paraná, com a BR-101, é imensurável. “Contamos hoje com um sistema viário de carga e passageiros obsoleto, impedindo o crescimento sustentável que o nosso estado tanto necessita. Essa rodovia é primordial para a expansão de todas as atividades econômicas nos próximos anos. Por isso, entendemos a necessidade de que os setores produtivos paranaense elejam esta obra como prioritária em qualquer planejamento do Estado do Paraná e do Governo Federal”, diz José Alberto Pereira Ribeiro.

O Paraná é o único estado brasileiro que não é cortado pela rodovia BR-101, que vai do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, margeando o litoral, com 4.650 km de extensão. Foto: PRF/ Divulgação


Necessidade de intervenções na 277

Contudo, para além da implantação de uma nova rodovia, o engenheiro Juliano Elias destaca a necessidade da manutenção e intervenções na já existente BR-277. Ele aborda os pontos críticos da estrada, como o km 42, onde caíram as barreiras em 2022, o Viaduto Caruru e o Viaduto dos Padres.

Essas estruturas receberam a última manutenção há mais de 10 anos e são muito vulneráveis. Caso haja qualquer ruína em algum dos viadutos, por exemplo, a reestruturação levaria cerca de um ano, isso significa 12 meses sem nenhum acesso ao Litoral e, principalmente, ao porto”, diz.

De acordo com ele, são necessárias intervenções, como a construção de túneis, para garantir a segurança e a continuidade do acesso, evitando possíveis interrupções que poderiam impactar negativamente a economia local. “Os túneis desviaram o trânsito dos três pontos críticos citados. Além disso, seria importante incorporar a reversibilidade de pista para otimizar o fluxo, algo que já é utilizado em outros lugares, como no Complexo Anchieta-Imigrantes“, destaca Juliano Elias.

Sonho antigo, mas estagnado

A discussão para a implantação da BR-101 no Paraná se estende desde a década de 1980, com diversas idas e vindas. A situação permanece estagnada na fase inicial de estudos, sem avançar para um projeto concreto.

Em 2007, o Departamento de Infraestrutura de Transportes do Paraná (DNIT-PR) iniciou o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) para avaliar a construção, cuja conclusão não foi divulgada até hoje. Já em 2014, o governo paranaense tomou a frente e solicitou uma licença prévia ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Dois anos depois, uma convocatória para avaliar a viabilidade da implantação foi lançada. No entanto, devido à falta de recursos para financiar o projeto, a única empresa que se candidatou desistiu da empreitada.

A partir desse ponto, o Estado se retirou da iniciativa, e os estudos continuaram sob responsabilidade do DNIT. Recentemente, o órgão informou à Tribuna do Paraná, veículo de comunicação, que está atualmente “trabalhando na elaboração do denominado Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA)“. Contudo, o órgão não forneceu detalhes adicionais, argumentando que os documentos são sigilosos durante os estudos preparatórios. Porém, destacou que não há um projeto ou estimativa concreta para a construção da BR-101 no Paraná. O que existe é apenas um estudo destinado a desenvolver o melhor traçado, sem implicar na contratação das etapas subsequentes.

Juliano Elias é engenheiro civil, especialista em gerenciamento de projetos de estradas e projetista de drenagem e pavimentação. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

No entanto, neste ano, o governador Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD) demonstrou que a possibilidade de construção da rodovia não foi esquecida por sua gestão. Isto porque na série de obras de infraestrutura e logística que o governo indicou para o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, consta o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental para a implantação da BR-101 no estado.

A execução do traçado da BR-101 cortando o Paraná não apenas resolve questões logísticas, mas também abre caminho para um futuro mais próspero para Paranaguá e toda a região”, finaliza Juliano Elias.