Tecnologia para espantar a solidão – projeto conecta voluntários a idosos do Lar Perseverança por meio de chamadas de vídeo


Por Luiza Rampelotti Publicado 20/10/2022 às 14h28 Atualizado 17/02/2024 às 19h44

A pandemia de Covid-19 afetou a saúde mental de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. A necessidade de isolamento social, associado às demais preocupações que a doença trouxe, despertou sentimentos de angústia e ansiedade em muitas pessoas.

Para os idosos, os primeiros afetados pelo isolamento e, principalmente, por serem do grupo de risco, a pandemia trouxe ainda mais insegurança e solidão. Por isso, o Lar dos Idosos Perseverança, em Paranaguá, tentou contornar a situação utilizando a tecnologia.

Atualmente, 68 idosos vivem no Lar, e, apenas recentemente, as visitas de familiares foram retomadas. As demais visitações de voluntários e grupos religiosos, por exemplo, continuam suspensas. No entanto, não são todos os moradores que possuem família e, por isso, continuam sem receber nenhuma visita.

Pensando nessas pessoas, o projeto Meu Bom Amigo, que surgiu em 2020 para unir pessoas de boa vontade, do Brasil e do mundo, tem o intuito de melhorar a qualidade de vida dos idosos que estavam isolados durante a pandemia. A ação acontece 100% on-line e conecta pessoas – verdadeiros bons amigos – com idosos e idosas de todo o País que estejam se sentindo solitários, promovendo amizade, escuta amiga, tempo de qualidade, conversas construtivas e a companhia através de vídeo chamada, mensagens e chamada de voz.

Interação faz com que eles não se sintam tão sozinhos


A assistente social do Lar Perseverança, Veronica Amorim, conta sobre a importância do projeto para os idosos. “É maravilhoso. Acontece às terças e quintas, das 10h às 11h, e os idosos que participam adoram. É importante demais para a saúde mental deles, porque não são todos que têm família, então não recebem visita física. Essa interação e acesso à internet faz com que eles não se sintam tão sozinhos”, diz.

Dona Cezarina Batista, de 72 anos, vive há 27 anos no lar. Ela é uma das idosas que participam da ação e, no dia e horário certo, está pronta para atender a vídeo chamada e conversar com um ‘bom amigo’.

Eu falo sempre com o Ricardo, ele me ensina bastante coisa, me mostra a cidade dele, a gente bate papo, ele me mostra as letras. Faz bastante falta as pessoas vindo visitar a gente, mas pelo projeto podemos conhecer amigos. Só que a vídeo chamada mata a vontade, mas não é como ver pessoalmente, é bom quando a pessoa tá bem perto da gente”, comenta.

Ricardo Luiz Chaves Dias, de 60 anos, é professor em São Paulo e um dos voluntários do ‘Meu Bom Amigo’. Toda terça-feira, às 10h, ele liga seu computador e faz uma vídeo chamada para o Lar Perseverança.

Colaborar com parte do meu tempo para proporcionar uma conversa acolhedora com uma pessoa idosa é fantástico. Sempre aprendo algo, ouço atentamente e conheço suas preferências. Aí é possível, com auxílio das tecnologias, fazer ‘passeios’ compartilhando minha tela por locais da infância, escolas que ela citou, museus onde frequentou, igreja onde se batizou, comércios conhecidos e até praias”, conta.

População pode agendar chamadas de vídeo


As vídeos chamadas têm tido boa aceitação no lar e, agora, ainda mais idosos poderão participar. Até recentemente, a instituição contava com apenas um computador para ser utilizado pelos moradores, mas o banco Itaú fez uma doação de 10 tabletes e dois notebooks que serão usados tanto para um projeto de inclusão digital quanto para o ‘Meu Bom Amigo’.

Por incrível que pareça, não temos nenhum voluntário de Paranaguá, ou do Paraná. Os voluntários são de São Paulo e Brasília, mas nossa intenção é que as pessoas saibam que esse projeto ocorre e que tenham interesse em participar”, diz Veronica Amorim.

Ela destaca que os moradores de Paranaguá podem entrar em contato com a instituição e agendar um horário para conversar com os idosos pela internet enquanto as visitas presenciais não retornam completamente. O telefone para realizar o agendamento é o (41) 9952-5678.

“Hoje, graças à tecnologia, podemos driblar a solidão do isolamento com a troca de contato e experiências através das vídeos chamadas. A pessoa pode doar 30 minutos do seu tempo, uma hora, e com certeza tanto o voluntário quanto o idoso ficará muito feliz. Os idosos falam que se sentem esquecidos, porque a época delas já passou, mas queremos que isso mude, que eles se sintam acolhidos, não só pelo lar, mas pela comunidade, por isso, é tão importante que as pessoas entrem em contato conosco e agendem esse contato on-line”, explica a assistente social.  

Dona Cezarina adora participar do projeto, mas, ainda assim, conta que é melhor quando “a pessoa tá bem perto da gente”. Foto: JB Litoral


Não tem quem não saia feliz”, diz seu Luiz


Outro idoso que tem participado das vídeos chamadas é Luiz Carlos Niz, de 72 anos. Escritor, poeta e aposentado no ramo de transportes, ele vive no Lar Perseverança há 4 anos e conta que foi na instituição que “nasceu de novo”.

É aqui que me sinto mais feliz na minha vida. Sempre vivi sozinho, e nesse lugar tenho tantas amizades. Aqui tive um infarto e foram as técnicas de enfermagem que me salvaram, então aqui nasci de novo. Não troco esse lugar por nada”, diz.

“Não tem quem não saia feliz das vídeos chamadas, é só alegria, e é só isso que a gente precisa”, diz seu Luiz Niz. Foto: JB Litoral

Sobre o ‘Meu Bom Amigo’, ele comenta que a facilidade da comunicação pela internet é um conforto para todos. “Gostamos de sempre estar conversando com alguém e como não estamos tendo esse contato por causa do portão, estamos substituindo pela internet. Não tem quem não saia feliz das vídeos chamadas, é só alegria, e é só isso que a gente precisa”, conta.

A radiologista Andrea Soares Freire Rondon, de 45 anos, é moradora de Brasília e voluntária do ‘Meu Bom Amigo’. Ela conta que o projeto completou sua vida.

Sempre gostei de ter contato com idosos, acho incríveis as histórias deles, além da companhia que faço a eles. Aprendo muito em todos os sentidos, como dar valor a vida, o quanto eles têm a nos ensinar, e isso me faz refletir sobre valores. Cada um tem suas particularidades, tenho um carinho enorme por cada um deles. Chego a sentir saudades no decorrer da semana, aguardando nosso tempo de conversa, que sempre são muito alegres”, conclui.