Trabalhador acidentado relata negligência e ameaças em empresa metalúrgica de Paranaguá


Por Luiza Rampelotti Publicado 22/06/2023 às 16h32 Atualizado 18/02/2024 às 14h54

Um trabalhador da empresa Instech Industrial Eletromecânica, sediada em Paranaguá, veio a público relatar uma série de problemas enfrentados após um acidente ocorrido em suas atividades laborais. Ubirajara Barbosa Júnior, de 46 anos, auxiliar de pintura, alega negligência da empresa em relação aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a falta de assistência durante seu período de afastamento médico. Além disso, ele acusa o proprietário da empresa, Fábio Ricardo Angelozi Ribeiro, de ameaçá-lo de forma violenta e humilhante.

O acidente aconteceu no dia 16 de abril, quando Ubirajara estava realizando jateamento e as fagulhas do jato atingiram sua perna devido à falta de segurança na bota utilizada pelos funcionários. Agora, ele possui uma ferida no tornozelo direito que não cicatriza devido à insuficiência venosa crônica.

O trabalhador afirma que a empresa não abriu um Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), o que configura uma violação das normas trabalhistas. Ao procurar atendimento médico, no dia 22 de abril, Ubirajara alega que a médica sequer examinou sua ferida.

Após diversos dias de dores intensas no pé, o trabalhador buscou auxílio médico por conta própria, recebendo um atestado e a solicitação de um raio-x. No entanto, de acordo com ele, a empresa considerou suas ausências como faltas, gerando impactos negativos em sua situação financeira. A Instech, posteriormente, marcou uma consulta com um ortopedista para o dia 11 de maio, a qual também foi considerada uma falta.

Demissão, humilhação e ameaças


Apesar do raio-x não constatar nenhum problema grave, a ferida seguiu infeccionando. Ubirajara continuou trabalhando, mas precisou tirar alguns dias de licença médica devido à intensa dor que sentia. No último atestado entregue à empresa, em 12 de junho, ele relata que foi dispensado e solicitado a cumprir aviso prévio. No entanto, no dia 13, sentindo-se mal, precisou de outro atestado médico. Ao retornar ao trabalho no dia 14, encontrou-se com Fábio Ricardo Angelozi Ribeiro, proprietário da Instech.

Ubirajara o confrontou sobre sua demissão durante o período de problemas de saúde. Em resposta, Fábio teria alegado que o desligamento ocorreu porque o funcionário não estava trazendo lucro suficiente para a empresa e que, ainda, teria o humilhado, dizendo que era uma vergonha ele ter 46 anos e ser apenas um auxiliar de pintor. O trabalhador afirma que foi arrastado para fora da empresa e ameaçado de violência física e até mesmo de morte.

Ele me humilhou dizendo que era uma vergonha eu ter 46 anos e ser auxiliar de pintor; disse que minha filha e minha mulher tinham vergonha de mim. Quando falei que se não recebesse assistência colocaria a empresa na Justiça, ele ficou louco, me disse para não entrar mais na Instech porque senão me encheria de porrada, que daria um tiro na minha cara. Não me deixou nem pegar meus pertences. Tive que buscar minhas coisas com a PM”, conta Ubirajara ao JB Litoral.

O auxiliar de pintura de 46 anos conta que se acidentou no trabalho, não recebeu assistência, foi demitido e ainda humilhado e ameaçado pelo proprietário da Instech. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

Dificuldades financeiras


Após a situação, Ubirajara acionou a Polícia Militar (PM) e registrou um Boletim de Ocorrência, narrando o ocorrido. Ele também conseguiu abrir um Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT) em 17 de junho, uma vez que a empresa e a médica que o atendeu anteriormente não o haviam feito. A CAT garante estabilidade no emprego e evidencia a negligência por parte da empresa.

Agora, enquanto luta por justiça e assistência, por meio de uma advogada particular, sua situação tem sido afetada negativamente pelas despesas médicas necessárias para tratar sua ferida. Ele relata dificuldades em pagar consultas médicas, medicamentos e até mesmo dívidas com fornecedores, como o aviário onde comprou ração para seus animais.

Eu estava contando com o salário integral para fazer compras para dentro de casa, mas as várias faltas indevidas vão me prejudicar muito. Para as consultas médicas e remédios, minha mãe que me deu o dinheiro, pois eu não tenho mais”, lamenta. 

A incerteza sobre como gerar renda torna a situação ainda mais preocupante para Ubirajara, que vive com sua esposa, sua filha de 7 anos e seus animais.


Sindicato dos Metalúrgicos também denuncia a empresa


Silvio Martins Nunes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e do Material Elétrico de Paranaguá e Litoral, também conversou com o JB Litoral. Ele denunciou diversas irregularidades praticadas pela Instech, incluindo a falta de respeito aos trabalhadores, a ausência de assistência em casos de acidentes de trabalho e a prática antisindical.

Segundo o presidente, há relatos de outros trabalhadores demitidos sem receber, e até mesmo de um técnico de segurança que foi dispensado após tentar assinar uma CAT de um funcionário que, atualmente, se encontra com pó de ferro no pulmão devido ao uso irregular do EPI. De acordo com ele, o sindicato está tomando medidas legais para garantir assistência e estabilidade a Ubirajara, além de auxiliar em outros casos através de ações trabalhistas.

Hoje não podemos, como movimento sindical, deixar que a empresa faça um tipo de serviço desse, principalmente quando ela atende a muitos terminais na região, inclusive, multinacionais. Estamos cobrando não só da empresa, mas dos terminais, para que seja tomada uma providência contra esses casos”, afirma.

Ubirajara e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Silvio Nunes, que também denuncia outras irregularidades supostamente cometidas pela empresa. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

O que diz o proprietário


O proprietário da Instech, Fábio Ricardo Angelozi Ribeiro, em resposta ao questionamento feito pela equipe de reportagem do JB Litoral, afirmou que iria verificar o ocorrido e retornaria com um posicionamento. Ribeiro ainda alegou não conhecer Ubirajara e afirmou ter pouca relação com a administração da empresa, que conta com mais de 200 funcionários.

Sobre as acusações de ameaça, ele se limitou a sugerir que a equipe de jornalismo conversasse com outros funcionários para “confirmar seu caráter”.