Tragédia anunciada: morador de Morretes morre após cair em ponte molhada e ser arrastado pela água

Era final de tarde do dia 11 de outubro quando seu Jomar Rodrigues de 70 anos, mais conhecido como tio Celso, estava se dirigindo para sua casa, em Morretes, pela ponte molhada que liga a região do América à Fortaleza. A força da água correndo sobre a ponte era grande e, por infelicidade, tio Celso acabou tropeçando em um dos buracos que há anos estão na estrutura.

O homem foi arrastado pela correnteza e, no dia seguinte, seu corpo sem vida foi encontrado no rio Marumbi. A situação trágica da morte que poderia ter sido evitada e reacendeu as discussões sobre a necessidade da manutenção da ponte molhada.

A sobrinha de Jomar, Aline Maciel, conta que no momento da queda haviam testemunhas no local. “Quem estava junto contou que meu tio não subiu para levantar a mão, não tentou fazer alguma forma de chamar atenção para pedir socorro. Então acreditamos que ele tenha batido a cabeça nas pedras e desmaiado no mesmo momento”, diz.

Ela ainda comenta que as testemunhas – que estavam do outro lado do rio – gritaram para que o homem não passasse pela ponte. Apesar da dor, ela entende que quem visualizou a cena não poderia fazer nada para ajudar. “Se eles pulassem na água, seriam outras vítimas, pois disseram que não sabem nadar. Então nós, como família, entendemos o lado deles”, fala.

O que Aline e a família não entendem é o motivo de a ponte molhada da região não ter sido reformada – pedido feito há anos pela comunidade e vereadores do município. Depois do acidente, na sessão legislativa do dia 19 de outubro, a Câmara Municipal aprovou o Requerimento nº 073/2022, de autoria da vereadora Luciane Costa Coelho (Podemos), que pede ao prefeito Sebastião Brindarolli Junior (PSD) informações acerca das providências que estão sendo tomadas referentes à referida estrutura.

Pedido de respostas

O documento solicita respostas sobre a reforma ou manutenção da ponte, bem como a informação se existe algum estudo técnico, avaliação ou prazo para reforma. “É necessário que medidas sejam tomadas com urgência, pois a ponte tem trazido periculosidade à população. Lamentavelmente, viemos a perder um munícipe devido ao fato de não ser realizada manutenção”, diz Luciane.

Ela ainda destaca que existem várias proposições, efetuadas pelos parlamentares, solicitando a restauração da mesma, porém, não foram atendidas pelo Executivo. O vereador Celso Ferreira de Souza (PROS), o Celsinho das Alface, também afirma que a população e a Câmara precisam de esclarecimentos sobre o motivo de a ponte continuar da mesma maneira.

“Desde o ano passado venho fazendo indicações [para a manutenção da ponte], e o presidente da Casa, Deimeval Borba, me falou sobre um sistema de ponte eficiente para aquele lugar, com um preço acessível, então tem condições de o Município aplicar aquele projeto. Nós precisamos fazer uma nova ponte de qualidade”, comenta. O sistema citado foi apresentado em 2021 para o prefeito Brindarolli Junior, pelo vereador Deimeval Borba (PSC).

Histórico

Em uma pesquisa realizada pelo JB Litoral no portal da Câmara de Vereadores, foram encontradas sete solicitações feitas pelos parlamentares ao poder municipal, do ano passado para cá, sobre o mesmo assunto. A primeira foi feita pelo vereador Julio Cesar Cassilha (MDB), em fevereiro de 2021, por meio da Indicação nº 63/2021, que solicitava a realização de um estudo para a possibilidade de iniciar a obra de restauração da ponte molhada. Depois, em abril de 2021, o vereador João Vitor Peluso (PSD) fez a Indicação nº 0205/2021, sugerindo ao prefeito que solicitasse à secretaria competente a possibilidade de reparo e manutenção da estrutura.

Já em fevereiro de 2022, Casilha fez a Indicação nº 058/2022, que pedia o início da obra de restauração da ponte molhada. No mesmo mês, João Vitor fez a Indicação 027/2022, reiterando o pedido feito por ele 10 meses antes, uma vez que não havia sido respondido.

Em agosto deste ano, o vereador fez novamente uma indicação, de número 0277/2022, reiterando as sugestões feitas em fevereiro de 2022 e em fevereiro de 2021. Ele justificou o pedido afirmando que a ponte estava em péssimas condições de uso, não proporcionando aos moradores e aos demais usuários segurança ao utilizá-la.

Depois, em 14 de outubro, dois dias depois da morte de Jomar, o vereador Celso das Alface fez a Indicação nº 0347/2022, sugerindo ao prefeito Brindarolli Junior que solicite à secretaria competente para estudar a possibilidade de realizar serviço de restauração da mesma. De acordo com ele, a estrutura está deteriorada, com grande quantidade de buracos existentes, e a morte demonstrou a urgência e necessidade da reforma.

Por fim, em 19 de outubro, foi feito o Requerimento nº 073/2022, da vereadora Luciane, que solicitou respostas ao prefeito sobre o assunto. No entanto, cinco pedidos para manutenção da ponte foram feitos antes da tragédia, demonstrando que a situação já era prevista e poderia ter sido evitada.

Empréstimo para manutenção aprovado

Para o vereador Julio Cesar Cassilha, os motivos para a não realização da reforma pelo Poder Executivo ainda não estão claros. “Desde 2015 venho, anualmente, solicitando a reforma dessa ponte molhada. Neste ano, essa Casa autorizou o Município a fazer um empréstimo de R$ 3 milhões, sendo que R$ 500 mil seriam destinados à manutenção de pontes, e isso ainda não aconteceu”, diz.

Segundo ele, a última informação obtida foi de que o Corpo de Bombeiros havia pedido a readequação do projeto de reforma das pontes. “A estrutura continua lá, cada dia pior, então peço ao prefeito e a secretaria competente celeridade nesse processo. Precisamos o quanto antes da restauração (na verdade, creio que seja necessário fazer uma nova, pois do jeito que está, nem reparos cabem mais) para que situações como essa, do tio Celso – que não deveriam acontecer – não aconteçam mais”, conclui.

O JB Litoral questionou o prefeito sobre o motivo de a manutenção da ponte ainda não ter sido executada. De acordo com ele, a estrutura foi construída entre 2003 e 2004 e a atual gestão descobriu que a manutenção realizada em administrações anteriores, ao longo dos anos, destruiu os gabiões (telas que seguram a ponte).

“Imediatamente iniciamos com as atividades para iniciarmos o projeto de uma nova ponte, que deverá ser mais alta e mais segura. Mas a situação do município em todos os seus aspectos, no que diz respeito a questões financeiras e fiscais, dificultaram e muito a velocidade que gostaríamos em encontrar as soluções para ações como esta”, diz Brindarolli Junior.

Nova ponte deverá ser construída em 2023

Ele ainda lamenta a morte ocorrida no trecho citado. “Ficamos tristes e consternados com o acidente fatal, conversamos com familiares, expomos nossas condolências e nos colocamos à disposição para qualquer situação que pudéssemos esclarecer”, comenta.

Quanto ao projeto de uma nova ponte, ele informa que está em andamento e que deverá ser finalizado nos próximos dias. Brindarolli ressalta que o objetivo é construir a nova estrutura entre abril e agosto de 2023 e que os recursos – R$ 500 mil – já estão reservados.

“Nossas equipes fazem manutenção periódica, sempre depois das enxurradas, mas, com o maior período de chuvas contínuo desde 1997, em quase todo mês de outubro, a ponte se encontrou com uma camada de água sobre ela, dificultando a passagem de pedestres e a manutenção necessária”, finaliza o prefeito.