Trazendo a comunidade para a faixa do cais: Corrida do Porto de Paranaguá deve ser incluída no calendário de eventos da cidade


Por Luiza Rampelotti Publicado 22/11/2023 às 15h00 Atualizado 19/02/2024 às 04h59

O porto de Paranaguá, um dos mais importantes do Brasil, tem buscado estreitar seus laços com a comunidade local por meio de iniciativas inovadoras. Uma dessas ações foi a Corrida do Porto, em abril deste ano, que comemorou o aniversário de 88 anos do porto parnanguara com a população, em uma prova que levou cerca de 1.200 pessoas para a faixa do cais.

Em uma entrevista exclusiva com o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, ele revelou detalhes sobre a realização do evento, que não apenas promoveu a integração entre a cidade e a empresa pública, mas também recebeu reconhecimento internacional.

Iniciativa de integração com a comunidade


Luiz Fernando Garcia assumiu a posição de diretor-presidente da Portos no início da primeira gestão do governador Ratinho Júnior (PSD), em 2019. Segundo ele, o convite foi feito ainda em 2018, após a vitória nas urnas, mas ele recebeu uma missão: aproximar o porto da comunidade.

Naturalmente, o porto é um lugar fechado por questões de segurança nacional e alfandegárias. Infelizmente, não ficamos mais abertos como num passado não tão distante, em que as pessoas ainda têm memórias de quando vinham trabalhar com seus pais, conhecer os navios”, comenta Garcia.

Contudo, ele destaca que sua administração passou a estudar quais mecanismos utilizar para promover essa aproximação entre porto e cidade. “Às vezes, aquilo que já trazemos para a cidade fica um pouco escondido, como a informação de que 60% dos empregos diretos e indiretos em Paranaguá, e 80% em Antonina, são decorrentes da atividade portuária. 55% da arrecadação de impostos municipais referentes ao ISS também. Então, para além disso, nós precisávamos estabelecer uma relação ainda mais próxima da comunidade, e que as pessoas conseguissem observar a olho nu. Esse era o desafio”, diz.

Como surgiu


Diante da missão, ainda em 2019, a diretoria da Portos do Paraná começou a buscar ideias e referências de quais atividades promover para essa aproximação. Mas, foi a esposa de Luiz Fernando Garcia, Andrea Meyer, que deu à luz a condução dos acontecimentos, resultando no que foi visto em 16 de abril de 2023.

A minha esposa Andrea trouxe a ideia da corrida quando ela viu em outro país portuário um evento parecido. Conversamos sobre isso e, depois, a Luciana Picanço, que já organiza a Corrida e Caminhada contra o câncer de Paranaguá há muitos anos, nos trouxe um esboço da ação, que foi o que nos colocou no caminho para a materialização da Corrida do Porto”, conta Luiz Garcia.

Luiz Fernando Garcia, sua esposa Andrea Meyer, e os filhos participaram da 1ª Corrida do Porto. Foto: Luiza Rampelotti/JB Litoral

Com a chegada da pandemia de coronavírus no Brasil, em 2020, a ideia precisou ser adiada devido aos protocolos de segurança. Em 2022, quando a vida já estava “retornando ao normal”, o projeto foi retomado e, então, a Corrida do Porto começou a ser estruturada.

Desde o começo nós defendíamos a proposta original, que era colocarmos os corredores dentro da faixa do cais para o percurso. Então tivemos vários desafios para conseguir tirar a ideia do papel”, relembra.


Desafios superados


O diretor-presidente enfatiza que a realização da corrida exigiu esforços consideráveis para obter aprovação de órgãos como a Receita Federal e a Polícia Federal. Além disso, foi necessário interromper temporariamente as operações portuárias, além das chegadas de trens e circulação de caminhões, para garantir a segurança dos participantes.

Para nossa surpresa, a receptividade desses órgãos foi tremenda. E quando eles dão um sinal verde quando um protocolo de segurança portuária é estabelecido, aí sim ganhamos confiança e começamos a desenhar o percurso. Então, sem o apoio desses órgãos nós não conseguiríamos realizar essa proposta”, diz Garcia.

Emoção e participação comunitária


Luiz Fernando Garcia participou da corrida com toda sua família: dois filhos e a esposa. Toda a diretoria da Portos do Paraná, bem como colaboradores, também participou.

O diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, recebeu a equipe do JB Litoral para um bate-papo sobre a corrida na segunda-feira (6). Foto: Felipe Luiz Alves/JB Litoral

Além disso, dos 1.200 inscritos na prova, cerca de 50% vieram de outras cidades do Brasil; atletas profissionais e amadores participaram, além daqueles que só queriam conhecer o cais e confraternizar. 

O diretor-presidente avalia que o ponto alto da corrida foi a emoção compartilhada pelos participantes ao cruzarem a faixa do cais. Para ele, a iniciativa foi além da integração, proporcionando um momento de confraternização única.

Quando os corredores cruzaram para a faixa do cais, foi uma das imagens mais bonitas que eu tive. Eles começaram a vibrar, diziam que nunca tinham visto os navios, o espaço. Foi uma cena em que vi muita gente puxando o celular do seu bolso e parando para tirar foto com os navios. Além disso, a tripulação teve uma reação inesperada, não tinha nada combinado e eles começaram a aplaudir as pessoas correndo, gritaram motivando o pessoal. Eu também escutei algumas pessoas dizendo: ‘meu pai trabalhou aqui a vida inteira e eu nunca pisei aqui, agora que estou vendo’”, comenta.


Veja em vídeo;


Ação beneficente e impacto na comunidade


A corrida não foi apenas um evento esportivo, mas também uma ação beneficente. O valor de todas as inscrições foi revertido em cestas básicas, totalizando 14 toneladas de alimentos doados às instituições locais.

A corrida também tem esse propósito, além de integrar, podemos ajudar a nossa comunidade mais necessitada e, por isso, o pagamento das inscrições”, explica Garcia. 

Reconhecimento internacional


Para coroar o trabalho realizado pela Portos do Paraná com a Corrida do Porto, em outubro, a empresa pública recebeu uma premiação internacional. A ação foi premiada nos Estados Unidos, com o Lighthouse Award da American Association of Port Authorities, prêmio tido como o “Oscar dos Portos nas Américas”.

Nós participamos da Associação Americana das Autoridades Portuárias (AAPA) e, anualmente, ela promove alguns seminários e convenção anual, onde realiza um evento grandioso, com repercussão nos Estados Unidos, e abre categorias de premiação. Neste ano, foram 11 premiados entre ações diversas e a Portos do Paraná teve a honra de estar entre os vencedores”, comemora o diretor-presidente. 

A Corrida do Porto participou da categoria de “ações de comunicação” e foi selecionada como a melhor ação a promover integração entre porto e comunidade. Para Garcia, a premiação demonstrou a relevância do evento.

Ser coroado com um prêmio internacional, que há tantos anos não era obtido pelos portos paranaenses, foi incrível e fortaleceu o sentimento que já tínhamos de que foi uma grande ação e que vale ser repetida e melhorada”, confessa.

Segundo ele, com a premiação, a Portos do Paraná carrega um peso maior para manter a “régua elevada” e um porto atrativo, não apenas com investimentos, mas como um “vizinho que, além dos ônus, promova bônus para a comunidade”. “Sabemos que há um ônus em ser uma cidade portuária, como o movimento de trens, de caminhões, os barulhos que trazemos, mas também somos um vizinho que traz bônus para a população, como os empregos, impostos e, agora, eventos que garantem essa integração e também saúde, entretenimento, confraternização e solidariedade”, avalia.

A ação foi premiada nos Estados Unidos com o “Oscar dos Portos nas Américas”, que reconheceu a promoção da integração entre porto e comunidade com a corrida. Foto: Felipe Luiz Alves/JB Litoral


Missão sendo cumprida e boa notícia


O diretor-presidente considera que a missão dada pelo governador Ratinho Júnior, lá em 2018, de aproximar o porto da cidade, está sendo cumprida. “Nosso objetivo tem sido atingido nesses anos todos e queremos continuar aperfeiçoando nossas ações para, cada vez mais, promover essa integração com a sociedade”, destaca.

Ele ainda dá a boa notícia de que a Corrida do Porto deve ser mantida no calendário de eventos de Paranaguá e, inclusive, do Paraná. “Estamos discutindo com a Secretaria de Estado a possibilidade de inserir a corrida como um evento integrante da área de atletismo do Paraná. E a ideia é que a gente repita a experiência melhorada, incluindo mais categorias, novos desafios e atrativos”, adianta.

A proposta é para que em março de 2024, ou em data próxima aos 89 anos do porto de Paranaguá, a Corrida do Porto tenha a dose repetida. “Essa ação celebra a nossa relação com a comunidade e tem o benefício direto à população mais necessitada através das ações beneficentes, sejam com aquisição de alimentos ou outras, que reverte a arrecadação da prova em benefício à comunidade”, conclui Luiz Fernando Garcia.