Vereador Adalberto, de Paranaguá, é denunciado por quebra de decoro parlamentar por fala contra mulheres


Por Luiza Rampelotti Publicado 23/02/2022 às 12h50 Atualizado 17/02/2024 às 02h32

A fala do vereador Adalberto Araújo (MDB) no plenário da Câmara, na sessão de terça-feira (15), segue gerando repercussão mesmo após mais de uma semana. Desta vez, além dos comentários indignados feitos nas redes sociais, contrários ao parlamentar, os vereadores da base utilizaram o mesmo plenário, na segunda-feira (21), para repudiar a fala, bem como para informar que foram tomadas medidas legais contra o pronunciamento anterior.

Entenda: em sua declaração na qual cobrava por mais transparência e agilidade do Poder Executivo, Adalberto comentou que daria “nome aos bois e às vacas” do secretariado municipal que não “o respondiam, nem atendiam e bloqueavam no WhatsApp”. O ditado comum “dar nome aos bois” que, sabidamente se refere tanto ao gênero masculino quanto feminino, foi incrementado para dar ênfase às mulheres que estão à frente de alguma secretaria na atual gestão.

O ato rendeu nota de repúdio até mesmo do próprio partido do vereador, o MDB, e teve repercussão negativa nas redes sociais, onde homens e mulheres acusaram Adalberto de machismo. Já na segunda-feira (21), as consequências passaram a ser formalizadas e poderão render, inclusive, perda de mandato.

A presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Paranaguá e Litoral (SISMUP), Janete Isabel Passos, fez um Pedido de Desagravo Público, por meio do protocolo 227/2022, com o intuito de “demonstrar a ilegalidade do ato cometido pelo vereador”. Em nome do sindicato, ela afirmou que Adalberto, em sua fala, “ofendeu às secretárias municipais, ofensa essa que se estende às demais servidoras municipais”.

O vereador fez questão de se referir às mulheres como vacas, de forma totalmente pejorativa e desrespeitosa, ofendendo-lhes a honra e dignidade profissional e como mulher. (…) É inadmissível isso a um representante da população, por certo eleito com votos de inúmeras mulheres, que dentro da Câmara tem um papel importante quanto no mínimo zelar pelo respeito ao gênero feminino. Por isso, requer a concessão de Desagravo Público”, destacou.

Denúncia por quebra de decoro e nota de repúdio da IEQ

Além disso, durante a mesma sessão, foi registrado o protocolo 223/2022, da Procuradoria Geral do Munícipio, que realizou uma denúncia contra Adalberto por quebra do decoro em razão do pronunciamento em questão.

Já o vereador Ezequias Rederd (Podemos), o Maré, fez questão de ler uma nota da Igreja Evangélica Quadrangular (IEQ) de Paranaguá repudiando a fala. “A IEQ vem por meio desta se manifestar em público, em nota de repúdio, a qualquer expressão de caráter pejorativo direcionados a outrem, sobretudo por palavras ofensivas e tendenciosas. Repudia-se, portanto, sobretudo a correlação tanto do discurso quanto do autor do discurso com a comunidade evangélica”, dizia a nota.

Visivelmente emocionada, a vereadora Vandecy Dutra (PP) que é, ainda, a Procuradora Especial da Mulher da Câmara, também utilizou a tribuna para lamentar as palavras de Adalberto. “Sem nenhum respeito ou decoro, o parlamentar usou um termo pejorativo às mulheres, na intenção de ridicularizar as servidoras públicas municipais, uma vez que chamar uma mulher de vaca é uma forma machista de depreciar a mulher simplesmente por ser mulher”, disse.

Ela seguiu informando que uma denúncia foi encaminhada à Procuradoria da Mulher da Câmara e que o órgão tomará “as medidas legais cabíveis e necessárias”.

Em seu pronunciamento na sessão de segunda-feira (21), Adalberto Araújo falou que a frase foi retirada do contexto, porém, afirmou que falou “o que muitos parnanguaras gostariam de falar”. “Continuarei sendo porta voz dessas pessoas aqui, nas redes sociais, nos bairros, ouvindo e clamando pelo povo e exigindo que esses secretários trabalhem de verdade, que façam jus aos seus altos salários”, disse. Ele ainda se desculpou somente com “aqueles que se sentiram genuinamente ofendidos”.