Deterioradas e com aspecto de abandono, estações ferroviárias em Morretes viram alvo do Ministério Público


Por Flávia Barros Publicado 18/09/2021 às 12h17 Atualizado 16/02/2024 às 13h44

Poderia até ser uma referência ao poema de Vinicius de Morais, musicalizado por Toquinho, “era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...”. Mas o estado em que se encontram as Estações Marumbi e Engenheiro Lange, cujos prédios atuais, em alvenaria, são quase centenários, está longe de ser engraçado. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) instaurou dois inquéritos civis que apuram de quem é a responsabilidade sobre os imóveis, e também cobra dos responsáveis a restauração e a manutenção das estações.

cO órgão cobrou, então, que a prefeitura de Morretes esclarecesse qual o vínculo estabelecido com a empresa Serra Verde Express, no que tange ao prédio da Estação Ferroviária Engenheiro Lange, bem como a referida pessoa jurídica, a fim de que informasse quais as providências estão sendo tomadas para a revitalização do citado local, diz o documento. Ao MP a prefeitura afirmou que não possui vínculo com a manutenção da estação ferroviária, e que tal obrigação é de competência da empresa Serra Verde Express, exploradora dos serviços turísticos do trecho. E, ainda, que realizou uma vistoria no local e constatou a sua deterioração.

Já a empresa respondeu ao MP que realiza o acompanhamento da estrutura da edificação e tem adotado medidas para evitar a deterioração do imóvel e a ação de vândalos. A Serra Verde Express também afirmou que, no monitoramento realizado em março deste ano, não foram constatados danos estruturais na edificação, embora tenha sido visualizada a necessidade de intervenção no telhado.

PREFEITURA DE OLHO

O JB Litoral conversou com o prefeito de Morretes, Sebastião Brindarolli Junior (PSD). De acordo com ele, a Secretaria de Urbanismo, motivada pelo Inquérito Civil, do Ministério Público, realizou uma visita técnica, no dia cinco de julho, à Estação Engenheiro Lange, para averiguar a situação da edificação. Foi constatado que o telhado havia cedido, expondo a edificação às intempéries, o que pode vir a causar maiores danos estruturais. Diante desse risco, a Serra Verde Express e a Rumo foram informadas e temos certeza que agirão com prontidão para evitar danos maiores a estas estruturas, que fazem parte do nosso patrimônio, disse Brindarolli.

OBRAS COMEÇAM ESTE MÊS

A Serra Verde Express admitiu ao JB Litoral que houve queda do telhado da Engenheiro Lange e que fará a recuperação. A boa notícia é que não vai demorar. De acordo com ela, a obra já está contratada, seguirá um cronograma e começa no final desta semana, dia 17. A Serra Verde Express também esclareceu que todas as entidades legais foram posicionadas e que o telhado cedeu durante o período de pandemia.

A empresa revelou, também, ao JB Litoral que, durante a vigência da operação, iniciada em 1997, a Estação Engenheiro Lange foi recuperada duas vezes pela Serra Verde Express, que tem, ainda, o projeto de construir um Museu da Mata Atlântica no local e está em conversas avançadas com parceiros. Embora seja responsável pela estação, a parada dos trens turísticos ocorre na Estação Marumbi e não na Engenheiro Lange.

PREÇO NÃO CONDIZ COM A SITUAÇÃO

O estado precário das estações não condiz com os valores pagos pelos turistas, e também por paranaenses, para realizarem o passeio de trem considerado um dos mais bonitos do Brasil, de Curitiba a Morretes, com passagem por Antonina. Existem pacotes básicos, que não incluem almoço, a partir de R$139 por pessoa acima dos 12 anos, até os mais luxuosos, na litorina, a partir de R$435 por pessoa. Nesses passeios há a parada na Estação Marumbi, que também está na mira do Ministério Público.

Denúncias anônimas e material postado por turistas na internet basearam o inquérito civil que apura a deterioração da estação Engenheiro Lange / (Crédito: Reprodução / MPPR)
ESTAÇÃO MARUMBI

Instaurado no final do mês passado, o inquérito civil que apura as condições precárias da Estação Ferroviária do Marumbi considera as informações prestadas pela Coordenação do Patrimônio Cultural do Estado do Paraná e notificou a Rumo Malha Sul S.A. Em documento assinado pelo promotor de justiça Sílvio Rodrigues dos Santos Júnior, foi determinada a realização de obras para a reforma da estação e que fossem adotadas medidas para a manutenção do imóvel.

REFORMA AINDA SEM PRAZO

O JB Litoral procurou tanto a Rumo, como o governo do Estado.

A Rumo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que foi notificada pelo Governo do Paraná, sobre o caso, e afirmou que está em tratativas com fornecedores para a contratação do projeto de reforma da Estação do Marumbi, bem como está buscando reunião com os órgãos públicos envolvidos para que a realização dos reparos atenda às especificações técnicas. No momento, a empresa está fazendo o levantamento técnico de todas as normativas necessárias, incluindo eventuais necessidades de atos autorizativos do Poder concedente e de órgãos ambientais para definição do cronograma. A empresa mantém equipes de vigilância que fazem rondas nas áreas de concessão para tentar coibir atos de vandalismo, no entanto é uma prática recorrente. A Rumo também fez um apelo para que, ao presenciar essas situações, a população denuncie pelo telefone 0800 701 2255.

MÃOS ATADAS

Já o Governo do Paraná afirmou, por meio do Instituto Água e Terra (IAT), que, no dia 23 de agosto, notificou as empresas responsáveis pela gestão dos prédios históricos, localizados no Parque Estadual do Marumbi. O órgão estadual solicitou providências referentes ao reparo e manutenção de edificações históricas no interior da Unidade de Conservação e mantém diálogo com as empresas. O IAT esclarece ainda que, conforme disposto na Lei n° 11.483, do Governo Federal, e publicada no dia 31 de maio de 2007, fica encerrado o processo de liquidação e extinta a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). A Lei também diz que os bens imóveis da extinta RFFSA ficam transferidos para a União. Caberia, assim, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) receber e administrar os bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural, oriundos da extinta RFFSA, bem como zelar pela sua guarda e manutenção, disse a nota, dando a entender que o Governo do Paraná, que formalizou as denúncias, as quais levaram à abertura do inquérito pelo MP, está de mãos atadas nessa questão.