Conscientização do Autismo: conheça a jornada de amor e aceitação na maternidade atípica


Por Luiza Rampelotti Publicado 02/04/2024 às 21h40

Nesta terça-feira (2), é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, e o JB Litoral traz uma história de amor, determinação e aceitação que mostra o que significa criar uma criança neurodiversa em uma sociedade ainda pouco consciente. No cenário ainda mais complexo da maternidade atípica, a parnanguara Letícia Moroski se viu diante de desafios inesperados quando sua filha, Arya, aos 4 anos de idade, foi diagnosticada com autismo.

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Letícia, o esposo, Carlos Eduardo, e as filhas, Sara e Arya. O diagnóstico de autismo de Arya veio no ano passado. Foto: Arquivo pessoal

Desde os primeiros momentos da vida de Arya, Letícia descreve sua filha como uma bebê dócil e tranquila. No entanto, à medida que os anos passavam, pequenas mudanças começaram a surgir, sinalizando que algo estava diferente.

Aos dois anos de idade, Arya passou por uma mudança significativa em seu comportamento. Anteriormente calma, ela se tornou agitada e começou a demonstrar dificuldades em habilidades que antes dominava, como dormir sozinha. “Ela virou uma criança muito agitada, de uma forma que não conseguíamos controlar e começou a perder alguns sentidos que tinha conquistado“, diz a mãe.

Sintomas

Tudo isso acontecia durante a gestação de sua segunda filha, e Letícia atribuiu as mudanças no comportamento de Arya à chegada de um novo bebê. No entanto, conforme a pequena crescia, ficou evidente que algo mais estava acontecendo. Ela tinha dificuldade em se comunicar verbalmente, preferindo cantar, e demonstrava comportamentos repetitivos, como empilhar objetos. Além disso, a criança também apresentou seletividade alimentar.

Por muito tempo, me acomodei nesse pensamento, de que era por conta da chegada do bebê. Mas, conforme ela crescia, percebemos que estava com dificuldades para começar a falar, ela cantava. Ela não respondia quando a chamávamos pelo nome. A Arya gostava de empilhar coisas, brincar com rodas, virar a cabeça para baixo para brincar. Foram essas pequenas coisas que fomos observando, mas na época eu não sabia que era autismo, achava que era normal”, conta.

O ponto de virada

Além disso, Arya também começou a ter crises que eram confundidas com birras, especialmente em ambientes agitados e cheios de estímulos sensoriais. Foi durante um passeio ao Beto Carrero World que Letícia se convenceu de que realmente havia algo diferente com a filha.

O Beto Carrero é um lugar que muita gente frequenta, vai gente de todo o Brasil e tem dias que fica muito cheio. Tivemos o azar de ter ido em uma semana muito cheia. E quando chegamos, ainda não sabíamos que era autismo, mas ela começou a querer ir aos brinquedos e por onde olhava tinha gente e muita cor, muita coisa, e ela começou a ter ataques de crise de ansiedade. Ela se jogava no chão, chorava. Ela não se divertiu”, relembra Letícia.

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Nós temos uma vida normal, viajamos, brincamos, levamos ela para os lugares. Vocês vão ver minha filha em todos os lugares possíveis que eu puder tentar levá-la”, diz Letícia. Foto: Arquivo pessoal

Ela conta que ver que sua filha não estava se divertindo em um “lugar que foi feito para as crianças se divertirem” foi o “ponto de virada” em sua percepção sobre Arya. “Foi naquele momento que eu e meu marido olhamos para ela e falamos, não, realmente a Arya tem alguma coisa, não é normal isso. A irmã já tem um ano e meio, já era para ela ter se acostumado com a irmã. Então, precisamos procurar ajuda. Foi quando decidimos procurar o neurologista”, diz.

O diagnóstico

A partir dali a família foi em busca de um médico. No ano passado, Arya foi diagnosticada com autismo e ela recebeu o laudo. Mas o diagnóstico trouxe consigo uma mistura de emoções para Letícia. “Realmente demorou para cair a ficha, porque a gente tem um estereótipo muito grande do que é uma criança autista”, conta.  

A mãe destaca que é muito importante que a sociedade tenha empatia com a questão. “Muitos acham que ela está fazendo birra, que está sendo mal-criada, sabe, ou coisa do tipo. Mas não, eles apenas têm essas crises de ansiedade, porque é uma informação muito grande para eles, um acúmulo de informação. E é por isso que sempre tentamos andar com o cordão de identificação”, afirma.

Ela conta que a internet se tornou uma porta aberta para que ela, como mãe, pudesse compreender o autismo e entender que sua filha pode ter uma vida normal. “A Arya é uma criança saudável, extremamente inteligente, faz cálculos, tem facilidade com o Inglês. Ela tem amigos, tem um convívio social normal, maravilhoso com a escola”, diz.

Letícia também ressalta que a filha recebe as terapias necessárias por meio da Secretaria Municipal de Inclusão. “Temos a psicopedagoga, que faz acompanhamento semanal, vai começar a nutricionista e também vai começar a terapia ocupacional de forma gratuita. Tenho esse privilégio de fazer todas as terapias dela de forma gratuita, que muitas pessoas, infelizmente, não têm”, reconhece.

Para ela, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo é uma oportunidade de conscientizar a comunidade de que autistas merecem espaço de convívio social. “Nós temos uma vida normal, viajamos, brincamos, levamos ela para os lugares. Vocês vão ver minha filha em todos os lugares possíveis que eu puder tentar levá-la”, diz.

Autismo não tem cara

De acordo com dados recentes, estima-se que 1 em cada 54 crianças é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. Apesar da prevalência, o autismo ainda é cercado por estigmas e falta de compreensão. “Autismo não tem cara“, afirma Letícia, desafiando os estereótipos associados à condição. “Arya é uma criança saudável, inteligente e merece seu espaço na sociedade“, destaca.

Hoje, elas enfrentam juntas os desafios do autismo, enquanto celebram suas conquistas e aprendem a navegar por um mundo que nem sempre compreende suas necessidades únicas. “Tenho me informado bastante sobre autismo desde que ela foi diagnosticada e tenho sido muito acolhida por mães também. Nossos filhos apenas veem o mundo de outra forma, não são diferentes de nenhuma outra criança, apenas têm suas necessidades sociais que precisam ser compreendidas pelas pessoas ao redor deles”, conclui.

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