Real oficial: Barreado é patrimônio do Litoral do Paraná reconhecido pelo INPI

Aquela carne bovina que derrete na boca porque cozinhou por horas em panela de barro lacrada com goma de farinha de mandioca, como manda a tradição, com vários temperos que ajudam a dar o sabor inconfundível, servida com farinha de mandioca e banana. Todo caiçara sabe que essa delícia inconfundível é o Barreado que, depois de décadas sendo “disputado” agora foi reconhecido. E é daqui, é patrimônio do Litoral paranaense.  

A Indicação Geográfica (IG) do Barreado na categoria “Indicação de Procedência” reconhece o Barreado como prato, cujo preparo e características típicas se tornaram símbolo da cultura gastronômica na região. O reconhecimento é feito pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e foi divulgado nessa terça-feira (6).

LONGO CAMINHO ATÉ A CERTIFICAÇÃO

Uma tradição que começou há mais de dois séculos e que levou sete anos para ser documentada. “A possibilidade de conseguirmos uma Indicação de Procedência do Barreado teve início em 2014, quando fomos procurados pelo Sebrae, e, a partir daí, um grupo de 11 empresários e vários consultores da entidade trabalharam juntos, durante praticamente sete anos”, disse Tania Madalozo, empresária e presidente da Associação dos Restaurantes e Similares de Morretes e Região (Arsimer).

Tania também revelou que o grupo levou quase dois anos fazendo o levantamento da história do Barreado, de documentos e a elaboração do Caderno de Especificações Técnicas que deverá ser integralmente seguido pelos estabelecimentos para receberem a certificação.

“Até abril de 2021, quando foi protocolado o documento junto ao INPI para o reconhecimento da Indicação de Procedência do Barreado como sendo do Litoral do Paraná, ficamos fazendo o levantamento de documentos e cumprindo exigências do INPI”, falou a empresária ao JB Litoral.

HISTÓRIA

Ficou comprovado que o Barreado teve a sua história na época do Entrudo (festa popular realizada nos três dias antes do começo da Quaresma, que entrou em declínio no Brasil em meados do século 19, dando lugar ao moderno carnaval), onde nessas ocasiões, nas zonas rurais, amigos e vizinhos se reuniam em forma de mutirões para ajudar os donos das lavouras, na colheita, e, em agradecimento, era oferecida festa com fandango e barreado.

“Assim sendo, esse reconhecimento público feito pelo INPI, com a Certificação de Indicação de Procedência do produto Barreado, que agora passa a ter uma identidade que é do Litoral do Paraná, irá nos ajudar a manter a receita original do Barreado, modo de preparo e de servir. Nossa região terá uma visibilidade bem maior e haverá a valorização do Barreado, tendo em vista a qualidade diferenciada do prato oferecido pelos restaurantes”, finalizou a presidente da Arsimer e proprietária do restaurante Madalozo, um dos mais tradicionais de Morretes e que serve o prato desde os anos 70. A estimativa da Associação é que, atualmente, os estabelecimentos do Litoral servem entre 2,5 e 3 mil pessoas por final de semana.

ENTRE OS MAIS RECONHECIDOS

A IG do Barreado tem um número redondo, é um marco, pois é a 100ª Indicação do Brasil e a 12ª do Paraná, que é o terceiro estado em número de Indicações Geográficas, atrás apenas de Minas Gerais (16) e Rio Grande do Sul (13). O certificado também foi festejado pelas prefeituras da região, a exemplo de Morretes, que divulgou a IG em suas redes sociais, e de Paranaguá. “O reconhecimento do INPI é muito importante para o nosso destino turístico, já que o Litoral se torna uma das poucas regiões turísticas do Brasil com mais de um produto com indicação geográfica, sendo a Bala de Banana e, agora, o Barreado”, comentou Maria Plahtyn, secretária de Cultura e Turismo.

SEM BAIRRISMO, COM UNIÃO

Para a Agência de Desenvolvimento Cultural e do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur Litoral), é uma referência para o turismo ter um produto sendo reconhecido pelo INPI com selo de procedência. “É um ganho imensurável. Sempre erguemos essa bandeira como prato típico do Litoral do Paraná, mas também tinha uma característica muito ligada a Morretes. E com esse selo e reconhecimento de IG todos podem tomar posse dessa identidade e falar que o Barreado é nosso, é do Litoral”, defendeu a diretora executiva da Adetur Litoral, Patrícia Assis, em conversa com o JB Litoral.

A gestora também ressaltou a importância para a promoção turística de toda a região. “Torna mais uniforme a forma com a qual a gente vai fomentar e trabalhar esse posicionamento de mercado, essa promoção do prato atrelada à cultura e ao turismo da nossa região”, finalizou Patrícia.

ONDE COMER BARREADO “CERTIFICADO”

A Indicação Geográfica foi concedida à Associação de Restaurantes e Similares de Morretes e Região, que engloba 11 restaurantes de Morretes, Antonina e Paranaguá. No regulamento consta que deverá haver um conselho que irá fiscalizar se os atuais e outros estabelecimentos que desejarem receber a certificação a partir de agora estão ajustados às normas do Caderno de Especificações Técnicas.

Por enquanto, os que se enquadram nas regras são:

Em Morretes, o Restaurante Casarão, Restaurante Casa do Rio, Restaurante Empório do Largo, Restaurante Madalozo, Restaurante Nhundiaquara, Restaurante Olimpo, Restaurante Ponte Velha, Restaurante Terra Nossa e Restaurante Villa Morretes.

Em Antonina o Restaurante Buganvil, e, em Paranaguá, a Casa do Barreado.