Mulheres portuárias – elas superam desafios e se destacam no porto de Paranaguá
Com informações de Portos do Paraná e Associação Brasileira dos Terminais Portuários
No passado era muito difícil encontrar mulheres atuando nos portos brasileiros. As poucas que se interessavam pela carreira eram mais observadas nos setores administrativos, como de limpeza, recursos humanos e recepção.
Com o avanço dos debates sociais sobre políticas de igualdade de gêneros, a presença feminina em setores predominantemente masculinos, como o portuário, foi, timidamente, aumentando.
Hoje, quando se analisa o perfil de quem trabalha na área, é possível observar o crescente número de mulheres que se interessam pelas carreiras portuárias, em relação a anos atrás.
Em parte, isso se deve à própria força das mulheres em vencer resistências, até mesmo culturais, e abrir espaço em um mercado tradicionalmente ocupado por homens. Além disso, as empresas do setor têm constatado que elas prestam inestimáveis contribuições para o desenvolvimento corporativo, seja no ambiente de trabalho, seja nos resultados.
O resultado disso é: um aumento de 136% no número de mulheres que atuam na atividade portuária do Paraná nos últimos cinco anos. Em 2017, 123 trabalhadoras fizeram crachá para trabalhar no cais e demais áreas do porto de Paranaguá. No ano passado, foram 291, conforme a empresa pública que administra o porto, Portos do Paraná.
Todos os funcionários da empresa pública e das operadoras privadas precisam do documento para acessar o local. Segundo o sistema de controle de acesso ao porto paranaense, foram 979 novos crachás emitidos para mulheres entre 2017 e 2021.
“Antes desse período não há registro porque o sistema era outro, mas é visível que a presença feminina aumentou nos últimos anos”, diz o diretor presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia.
Histórico de machismo
A técnica em Segurança do Trabalho, Jamile Marçal, acredita que é necessário ter um ambiente de trabalho mais equilibrado na questão de gênero. “É preciso que mais mulheres escolham essa área, busquem a capacitação e venham contribuir para o desenvolvimento dos portos. Devemos resistir através da competência técnica para, aos poucos, conseguir diminuir essa desigualdade de gênero”, comenta.
Já na visão da bióloga e analista portuária Andréa Lopes, que também trabalha diariamente no local, enfrentar esse campo ainda bastante masculino é um desafio. “Não é raro eu participar de reuniões com 15, 20 pessoas e, facilmente, eu ser a única mulher presente. Então ainda há, em alguns casos, um desafio em ser ouvida e ter a opinião respeitada”, afirma.
Para ela, o mais importante é tornar o ambiente portuário seguro para as mulheres. “É essencial abrir espaço e acolher estas profissionais. Por mais que elas estejam entrando no mercado, muitas ainda desistem por conta do histórico de ser uma atividade masculina, de machismo”, justifica.
Terminais privados na vanguarda
O aumento da participação feminina nas atividades portuárias é uma tendência seguida também pelas empresas privadas. A Cotriguaçu Cooperativa Central, por exemplo, está na vanguarda da contratação de mulheres para funções tidas como masculinas pela sociedade.
Aos 18 anos, Lucinéia Bozi da Silva Amorim foi chamada para um estágio na Cotriguaçu, mas soube que as vagas para o setor administrativo já tinham sido preenchidas. No entanto, havia uma para balanceiro, profissional que cuida da pesagem de caminhões e vagões nos portos.
Ela conta que foi avisada que a vaga era para ser preenchida por um homem, já que o trabalho não era indicado para uma mulher. Mas, disposta a conseguir seu primeiro estágio, tanto insistiu que foi aceita para a função. Se tornou, assim, a primeira mulher a trabalhar como balanceira no terminal próprio da Cotriguaçu, situado no porto de Paranaguá.
A determinação de Lucinéia é emblemática. Depois que a companhia constatou que foi um grande acerto contratar uma mulher para as funções na balança, apenas mulheres passaram a ser contratadas para este serviço, diz ela.
O 1º estágio virou 1º emprego, que dura até hoje. Seu talento falou mais alto, foi contratada em definitivo e subiu na carreira, passando pelas áreas administrativa e também a de exportações, onde foi escolhida para substituir o antigo superior. Está na Cotriguaçu há 24 anos, completados no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. A menina, desbravadora na balança daquele terminal portuário, agora é Encarregada de Logística da companhia, que opera na cidade desde 1975.
Ser mulher portuária, para Lucinéia, é “gostar muito deste mundo portuário. É uma loucura, bem estressante. Mas é também apaixonante, desafiador. Você se entrega totalmente e é um caminho sem volta, muito promissor. Tenho muito orgulho desta profissão e deste setor”.