Caso Super Rede: Polícia Civil conclui inquérito e detalha falhas que provocaram a tragédia


Por Redação JB Litoral Publicado 08/05/2024 às 16h34

A Polícia Civil do Paraná (PCPR) concluiu o inquérito que apurava o desabamento da laje do supermercado Super Rede, no balneário Canoas, em Pontal do Paraná, ocorrido em 22 de março, que provocou a morte de três funcionárias e deixou outras 12 pessoas feridas. Em entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira (8), na sede da PCPR, em Curitiba, foram apresentados pela Polícia Científica os laudos complementares que ainda estavam pendentes, conforme antecipou o JB Litoral, no último dia 24. O documento, com quase 300 páginas, mostra as análises técnicas realizadas pelos peritos criminais, as quais concluíram que o desabamento da laje aconteceu por falhas na execução da obra.

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Gambiarras em vigas e lajes teriam levado ao colapso. Foto: Reprodução

As falhas


De acordo com o perito criminal, Luiz Marukawa, durante a perícia técnica foram encontrados diversos erros nas lajes que desabaram, que demonstram que a tragédia poderia ter sito evitada.

Entre eles eu posso citar falta de grauteamento [técnica referente ao preenchimento das cavidades dos blocos de cerâmica e colunas de alvenaria estrutural, que possui grande destaque e importância, já que é responsável por reforçar a estrutura e facilitar a distribuição uniforme de cargas na alvenaria] e a falta de peças estruturais entre vigas e pilares. Também havia uma gambiarra onde foi colocada madeira para preencher um espaço vazio entre o pilar e a viga. Além disso, temos a questão do cobrimento da laje, chama-se capeamento, com uma especificação menor do que o projeto que era para ser de 10 centímetros e nós apuramos que ela variava de 6 a 8 centímetros”, detalhou o perito.

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Ao centro, o perito Luiz Marukawa, detalhou as falhas encontradas pela Polícia Científica. Foto: Reprodução

Ainda segundo Marukawa, o projeto não estava errado, mas, com essas falhas, a execução não foi adequada. O perito também ressaltou que a força da água contida nas seis caixas com capacidades entre 10 mil e 15 mil litros, evitou que a tragédia fosse ainda maior.

Na hora que a laje desabou, as caixas tombaram e a água proveniente desta queda provavelmente salvou vidas, porque quando a água cai daquela torre em grande volume nós temos a energia potencial. A água desce, adquire velocidade e, quando atinge o solo, empurra as pessoas que estavam próximas”, completou.


Indiciados


O delegado responsável pelo inquérito policial, Jader Roberto Ferreira Filho, confirmou o que havia antecipado ao JB Litoral, na semana em que completou um mês da tragédia: o proprietário do supermercado, da construtora e o responsável pela obra foram indiciados por três crimes de homicídios culposos e 12 lesões corporais, também culposas.

As lesões corporais serão aferidas no decorrer do tempo, pois existe uma vítima que está um pouco acamada e ainda não sabemos se voltará a andar”, disse.

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Rayssa, Camille e Priscila (da esquerda para a direita) são as vítimas mortas após laje de supermercado em Pontal do Paraná desabar. Foto: Prefeitura de Pontal do Paraná

O delegado também destacou a questão da negligência por parte dos indiciados.

A Polícia Civil entende que o dono do supermercado e esse responsável por executar a obra foram imprudentes em inaugurar um empreendimento sem a documentação necessária. O dono da empresa contratada para administrar essa obra foi negligente, porque há relatos de testemunhas de que estava havendo vazamento”, finalizou.


Segue fechado


O local onde aconteceu o desabamento segue interditado. O JB Litoral procurou o proprietário da rede de supermercados Super Rede, Eduardo Dalmora, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
A PCPR não divulgou os nomes dos indiciados, mediante argumento de que fere a Lei de Abuso de Autoridade (Lei Federal 13.689/2019). No entanto, a corporação cedeu imagens contidas nos laudos periciais que ilustram onde começou o colapso, no terceiro pavimento. Como a viga que sustentava essa laje não suportou o peso devido às “gambiarras” apontadas pela perícia, a estrutura desabou, provocando o colapso das outras duas lajes abaixo dela, atingindo a parte dos fundos do supermercado, que havia sido aberto ao público naquele mesmo dia.

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