ACIAP prevê mais de cinco mil demissões devido aos impactos do coronavírus
A partir de 2014, os índices de desemprego no Brasil dispararam, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cenário apresentou uma leve melhora no mês de janeiro deste ano, quando a taxa de desemprego nacional foi de 11,2%, número inferior ao ano anterior.
Os economistas esperavam que o desemprego continuasse em queda e a economia voltasse a crescer em um ritmo mais forte em 2020. Mas a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que chegou ao Brasil no final de fevereiro e já fez milhares de casos e dezenas de mortes, trouxe muita incerteza e virou de cabeça para baixo o quadro que se imaginava para o mercado de trabalho. Agora, a dúvida é sobre qual será o tamanho do desemprego e quando será o pior período. “O impacto econômico da pandemia no mundo será trágico e perdurará por algumas gerações, pois, de repente, o mundo se viu tolhido de algo imprevisível que alterou, drasticamente, o comportamento do Estado e das relações de consumo”, comenta o economista Daniel Lúcio de Souza, que foi professor universitário, atuou como diretor do Porto de Paranaguá e, atualmente, é consultor da Ecoport Services.
De acordo com ele, o mundo deve levar cerca de cinco anos para se reestabelecer em seus níveis de produção econômica equivalente ao ano de 2019. “No Brasil, teremos uma brutal recessão e redução do Produto Interno Bruto (PIB). O governo tinha projetado 2.2% de crescimento para este ano e, agora, com o coronavírus, ele diminuiu esse número para 0.02%. Na minha percepção como economista, teremos uma redução do nosso PIB de, no mínimo, 2%”, diz.
Em decorrência da recessão, Daniel explica que o desemprego será brutal.
“A taxa atual de desempregados e desalentados, que é de cerca de 13 milhões de pessoas, deverá dobrar, e os impactos econômicos no comércio, nos profissionais liberais, autônomos, pequenos negócios informais, entre outros, será cruel”.
Desemprego na cidade
O cenário do desemprego em Paranaguá ainda não está definido, e não há uma média de quantos trabalhadores perderam seus empregos ou perderão no decorrer das próximas semanas. Na cidade, o comércio, além de bares e restaurantes e outras atividades consideradas não essenciais seguem fechados.
A Secretaria Municipal de Trabalho, Comércio, Indústria e Assuntos Sindicais informa que ainda é cedo para se ter um balanço sobre este período.
“É um momento sem precedentes para a economia mundial, mas, tanto o governo Federal, quanto o Estadual e, em breve, também os municípios, estarão discutindo meios para tentar minimizar os efeitos para o mercado de trabalho”, afirma o secretário do Trabalho, Brayan Roque ao JB Litoral
O Sindicato dos Empregados no Comércio de Paranaguá (SINCOPAR) comenta que não tem controle em relação ao desemprego no setor, pois, após a aprovação da Reforma Trabalhista, em 2017, não há mais a obrigatoriedade da homologação da rescisão de contrato no sindicato. “São poucas as empresas que encaminham seus funcionários até a entidade para efetuar as homologações. Pelo meu conhecimento, ainda não houve dispensa em massa, a qual caberia atuação do sindicato neste sentido”, diz a vice-presidente Aglaci Zela Miranda.
“Pedimos aos empregados no comércio de Paranaguá e Litoral que tenham paciência, se cuidem e que cumpram o decreto da prefeitura local (de fechamento do comércio). Da nossa parte, estaremos atentos a qualquer notícia e repassaremos por meio do nosso site www.sincopar.com.br”, declara.
“Deve haver mais de cinco mil demissões”
O presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (ACIAP), Eloir Martins, também informa que não é possível, neste momento, precisar a quantidade de demissões realizadas na cidade. Porém, segundo ele, essas informações serão oficializadas a partir de abril, por intermédio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).
“A ACIAP enxerga com muita preocupação as mudanças advindas das inúmeras normas editadas pelas autoridades competentes para o combate à proliferação do contágio da Covid-19. Se este cenário nebuloso persistir, o movimento demissional será inevitável. Nos bastidores, sabemos de empresas que projetam o encerramento de suas atividades, outras planejam a redução de seu quadro de colaboradores, mas, ainda não se pode determinar, em virtude do desencontro de informações sobre as medidas governamentais de socorro aos empregados e empregadores”, explica Eloir.
Já o presidente da Câmara Setorial do Comércio Varejista e SPC da ACIAP, Anwar Hamud Hamud, estima que com as medidas adotadas pelo Poder Executivo, tanto estadual, quanto municipal, devam haver mais de cinco mil demissões em Paranaguá. “Por isso, entendo que deve haver alguma flexibilização dos decretos municipais, para permitir que o comércio varejista funcione, mesmo que de forma diferente do habitual, com vistas a reduzir os nefastos impactos econômicos a serem experimentados”, afirma.
“Paranaguá tem uma vantagem: o porto”
Para buscar driblar as inevitáveis consequências negativas no mercado de trabalho, o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio e do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Paranaguá (Sindilojas), Said Khaled Omar, informa que houve um acordo com o SINCOPAR para evitar as demissões. “Estamos antecipando férias ou dando as férias de direito. Somente demitiremos se o fechamento durar mais do que 20 dias. Além disso, estamos conversando com fábricas, bancos e poder público para que nos prorroguem prazos de pagamento, assim, aguentaremos alguns dias”, diz.
Apesar da previsão negativa para o cenário econômico mundial, o economista Daniel Lúcio acredita que Paranaguá tem uma vantagem em relação aos demais municípios. “Aqui temos o porto, que é uma atividade essencial por excelência. Não podemos deixá-lo fechar e nem perder sua operacionalização, salvaguardando toda a questão da segurança aos trabalhadores portuários”.
Ele afirma que o Porto de Paranaguá é fundamental para a economia brasileira, especialmente neste momento. “Estamos em um período de colheita de soja, exportação de soja e farelo, importação de fertilizantes, que é a matéria prima fundamental para o preparo do plantio das próximas safras. O mundo vai precisar comer e nós podemos oferecer isso por meio do porto”, comenta.
Para a recuperação do setor comercial, ele prevê que deva acontecer daqui a três ou quatro meses. “A curto prazo, o comércio já está sendo brutalmente impactado. Mas, a cidade terá uma possibilidade de recuperação daqui a três ou quatro meses, o comércio, em especial, além de bares, restaurantes e atividades de lazer”, conclui.