Cientistas da UFPR trabalham no desenvolvimento de vacina contra a COVID-19


Por Redação JB Litoral Publicado 22/06/2020 às 11h12 Atualizado 15/02/2024 às 11h38

Cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão utilizando nanotecnologia para desenvolver uma vacina contra a COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). O método escolhido proporciona baixo custo no produto final e pode ser replicado em vacinas para outras enfermidades. O projeto tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

De acordo com Marcelo Müller dos Santos, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, a técnica escolhida já foi empregada com sucesso para imunizar camundongos contra tuberculose e hepatite C. “Empregando essa técnica, os cientistas podem criar uma coleção de proteínas ou peptídeos sintéticos, baseados nos originais, unidos a proteínas que apresentem antígenos do vírus e imunizar os animais em testes pré-clínicos para escolher as combinações mais eficientes”, disse Santos

O grupo de pesquisa já trabalha há mais de 30 anos nessa linha de pesquisa. Por isso, pretende associar o que já estão fazendo para desenvolver uma tecnologia, contribuindo assim no combate à COVID-19.

Etapas

Atualmente, o projeto está na fase pré-clínica. Os pesquisadores esperam que dentro de um mês tenham o primeiro lote de nanopartículas prontas para realizar os testes em camundongos. Caso as avaliações comprovem ser possível induzir anticorpos nos animais, e que não havendo risco para seres humanos, a vacina passará para a fase clínica.

A fase clínica é composta por três estágios de testagens. A primeira é realizada em dezenas de voluntários. Na segunda, os testes são estendidos para centenas de voluntários e, além da indução de anticorpos, é verificada a segurança. O último estágio testa a eficácia da vacina para proteger toda uma população contra a doença e inclui milhares de voluntários. “Os resultados de todas as fases são submetidos às autoridades de saúde para liberar o produto. Só aí passamos para a etapa de produção. Isso tudo deve demorar pelo menos dois anos”, conta Santos.

Segundo o professor, o objetivo é transferir a tecnologia de forma rápida para que algum órgão federal especializado ou instituições do setor privado possam iniciar os testes clínicos o quanto antes.

Outras vacinas

Os especialistas afirmam que a técnica utilizada nesta vacina é diferente das demais que estão na fase dois, de testes clínicos. As substâncias produzidas tanto pela Universidade de Oxford, quanto por uma empresa chinesa usam um adenovírus como vetor para expressar proteínas de SARS-CoV-2 e imunizar os pacientes. Santos também alerta para um problema mencionado por esse tipo de vacina: caso o paciente já tenha entrado em contato com o adenovírus, o sistema imune dele pode atacar a vacina, reduzindo sua eficácia.

Santos considera muito importante haver várias técnicas de produção da vacina em andamento. “A que propomos utiliza métodos de fermentação e purificação de proteínas já desenvolvidos na indústria e que podem ser adaptados facilmente para a produção da vacina. Certamente terá um custo mais baixo do que vacinas que utilizam vetores virais e possivelmente também terá um custo competitivo frente àquelas com vírus atenuados. E mais, teremos uma plataforma tecnológica que poderá ser usada para desenvolver vacinas para outras doenças”.