Ações marcam “Setembro Azul” e datas comemorativas da comunidade surda


Por Flávia Barros Publicado 21/09/2022 às 20h46 Atualizado 17/02/2024 às 17h50

Setembro tem algumas datas alusivas à comunidade surda, como o 23, Dia Mundial das Línguas de Sinais; 26, Dia Nacional do Surdo; 27, Dia Mundial do Surdo e 30, Dia do Tradutor Intérprete – de línguas orais e de sinais. Para comemorar e conscientizar a população, algumas atividades estão sendo realizadas na cidade, como a confraternização que aconteceu nesta quarta-feira (21) entre intérpretes da Central Municipal de Libras de Paranaguá e alunos da Escola Bilíngue de Surdos ‘Nydia Moreira Garcez’.

Além das crianças empolgadas com pinturas artísticas e guloseimas, estiveram presentes a secretária da Assistência Social, Ana Paula Falanga; a diretora da Escola Nydia Moreira Garcez, Fátima Gonçalves e a anfitriã do evento, a superintendente da Central de Libras, Gisele Cuch.

Pioneirismo


A Escola Nydia Moreira Garcez atende 24 crianças em tempo integral e também alguns alunos do 6º ao 9º ano e Ensino Médio, que necessitam reforçar a língua de sinais e língua portuguesa. A diretora da unidade reforçou o pioneirismo da cidade em ter um espaço voltado exclusivamente para oferecer intérpretes de libras e a importância de promover essa integração. “Ter essa recepção e parceria com a gestão municipal é criação de memórias afetivas com nossos alunos. Nossa cidade tem uma Central de Libras que muitos estados não têm ainda. Temos também a escola bilíngue, professores surdos atuantes, uma vereadora surda e muitos profissionais de outras áreas; tudo isso é motivo para comemoração neste mês em especial”, disse Fátima Gonçalves. A diretora também ressaltou a importância da escola especial nos primeiros anos de vida.

É a única escola bilingue no litoral, que atende desde a educação infantil até o 5º ano. Depois eles vão para o ensino regular comum, pois já têm a formação em libras e em língua portuguesa escrita, como segunda língua. Todos os nossos professores se comunicam em libras, temos quatro que são surdas e foram nossas alunas. Nós tratamos a surdez como uma diferença, e não como uma deficiência, eles têm uma outra língua. Essas crianças nascem em uma família de ouvintes e vêm para a escola para aprender a língua de sinais e poderem se comunicar normalmente com todos. Por precisar dessa comunidade linguística, em que elas convivem com outras crianças surdas e também adultos, para que a língua circule, nós defendemos a escola de línguas, pelo menos nesses anos iniciais, porque é a língua que dá conforto. Em seguida elas também aprendem a língua portuguesa na forma escrita, para ser sua segunda língua”, explicou Fátima.

Para a secretária de Assistência Social, Ana Paula Falanga, prover os espaços que possibilitam educação e inclusão são missões do Executivo. “Nosso prefeito é um gestor inclusivo, que se importa com a comunidade surda. Nada melhor do que mostrar esse carinho, neste mês em especial. Foi um dia muito importante, recreativo e de integração com a comunidade. Também teremos outras atividades, nesse sentido, até o final do mês”, explicou a secretária.
Além da Escola Nydia Moreira Garcez, o Colégio Estadual Professor Vidal Vanhoni tem uma sala de Recurso da Surdez e uma da Surdo-Cegueira.


Outras atividades


Mais atividades promovidas pela Escola Bilingue Nydia Moreira Garcez estão programadas até o final do mês. Na sexta-feira (23) haverá uma passeata no Aeroparque, com a Guarda Civil Municipal. Na próxima segunda-feira (26), quando é comemorado Dia Nacional do Surdo, a escola estará aberta para receber a comunidade surda de todo o Litoral. “É um evento mais voltado à comunidade surda durante o dia, e à noite a programação será aberta ao público em geral, com apresentações e um café estilo americano, onde todos podem levar algo para se juntar a nós, em comunhão”, informou a diretora ao JB Litoral.  

Fátima também contou o que já foi realizado em comemoração ao Setembro Azul nos últimos dias. “Aqui na escola sempre damos visibilidade a esses eventos, em especial neste mês. Desde o dia 1º abrimos as comemorações com o ´Cine-Pipoca’, com os nossos vídeos com história do povo surdo ao longo da História.

Dia três tivemos um dia especial com as famílias, em que compartilhamos do ambiente das crianças com suas famílias, as mães trocarem impressões, conversarem mais com os profissionais, brincamos todos juntos e orientamos sobre todas as capacidades dos seus filhos. Claro que temos muito que avançar, mas também a comemorar. Nossa escola bilingue é uma realidade, enquanto ainda é um sonho, uma luta para tantos lugares. No dia 5 visitamos a Escola Castelo Branco, onde nossos alunos fizeram uma oficina para mostrar a capacidade deles para crianças ouvintes. Somos mantidos pela Associação dos Colaboradores da Escola de Deficientes Auditivas de Paranaguá (Aceda), que é a nossa mantenedora, e também temos convênios com a Prefeitura de Paranaguá e o governo do Estado. No dia 9 houve atividades recreativas; dia 13 estivemos no Instituto da Educação, fazendo oficinas; na Riso Lanches, onde nossos estudantes ganharam uma tarde com lanches e doces; recebemos alunos da Escola Iracema, de Ilha dos Valadares, enfim, é um mês intenso para dar visibilidade à comunidade surda”, finalizou Fátima, que trabalha na escola há 21 anos.

A escola para surdos existe desde 1989, quando iniciou o atendimento na Escola Faria Sobrinho. Depois foi para o José Bonifácio, onde, devido ao aumentou do número de estudantes, um grupo de professores, pais e amigos fundaram a Aceda e conseguiram o local onde a unidade funciona atualmente.

Origem da cor


Para entender o motivo que leva ao nome da campanha, Setembro Azul, é preciso voltar a um fato histórico nada louvável. A simbologia vem da Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas queriam, no entendimento deles, “livrar o mundo daqueles considerados inferiores”. Com isso, todas as pessoas com deficiência eram identificadas por uma faixa azul no braço – o que incluía a população surda. Mas agora a cor representa a riqueza cultural de uma comunidade que vence as barreiras com orgulho, além de servir como incentivo para mudanças.