Conheça Cecília Leal, a escritora parnanguara que tomará posse como imortal da Academia de Letras do Brasil


Por Flávia Barros Publicado 30/07/2023 às 21h24 Atualizado 18/02/2024 às 18h42

Vinte e seis livros, dois bacharelados (Direito e História), mais de 10 vezes considerada um dos 250 melhores poetas brasileiros pelos concursos da Vivara Editora Nacional e, agora, indicada para assumir uma das cadeiras da Academia de Letras do Brasil – seccional Paraná. Os números indicam a trajetória de sucesso da parnanguara Cecília Leal, de apenas 23 anos, que já nasceu carregando o nome de uma das grandes escritoras brasileiras. Tal qual Cecília Meireles, a Leal começou a escrever ainda criança.

Os livros sempre estiveram na minha vida, desde que me lembro por gente. A leitura foi fundamental na minha infância e se tornou uma paixão muito cedo. Eu nem imaginava ser escritora, não conhecia nenhum autor pessoalmente, mas minha imaginação era muito fértil e não tardei em começar a escrever livros. Aos 11 anos de idade, desenvolvi minha primeira obra de ficção infantojuvenil que rendeu uma saga de quatro livros; Os Gêmeos Férreo, os quais publiquei por meio de editora independente, aos 15 anos”, conta Cecília Leal, ao JB Litoral.

Desde muito menina, ela se encontrou nas artes marciais e, também, na poesia. “Aos 12 anos já compunha músicas e, antes mesmo do primeiro livro, havia encontrado a poesia”, relata. Mas foi aos 16 anos que ela escreveu a primeira obra a ser publicada por uma grande editora: Aos Olhos de Um Tigre, não ficcional, publicada e divulgada em âmbito internacional pela Chiado Editora Global (2017). “É um livro sobre o Karatê, do estilo Goju-Ryu. Eu era campeã na arte marcial e, aos 17 anos, tornei-me faixa preta no meu estilo”, explica.

Ler muito, é o que a escritora parnanguara orienta para quem também quer se tornar um escritor. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

Nunca mais parou


No mesmo ano em que publicou Aos Olhos de Um Tigre, Cecília se mudou de Paranaguá para Curitiba, onde iniciou duas graduações ao mesmo tempo, em Direito e História. “Estudava pela manhã e à noite, mas escrevia sempre que dava. Em 2018 publiquei As Crônicas de Sensei Aníbal, livro composto por contos verídicos em ordem cronológica sobre a vida do saudoso mestre de Karatê, Aníbal de Jesus Severo, e em 2019 lancei Livrecontos, uma obra composta por contos metafóricos, ambos pela Editora Multifoco”, detalha.

No ano de 2021, mesmo em meio à pandemia, publicou sua quarta obra Arigatai, Arigatou: A História de Vida de Kikue Hayashida, também em âmbito internacional (Chiado Editora Global).

Mas as obras publicadas são uma pequena parcela da produção literária da parnanguara. “Apesar de ter publicado somente quatro obras literárias, além da saga infantojuvenil, no total, eu escrevi 26 livros (seis apenas nesse ano)”, diz a escritora.

Lendo desde a primeira infância, Cecília escreveu o primeiro livro aos 11 anos. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral
Lendo desde a primeira infância, Cecília escreveu o primeiro livro aos 11 anos. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

Reconhecimento


Mas foi neste mês de julho que Cecília recebeu o convite para se juntar à Academia de Letras do Brasil – seccional Paraná, como acadêmica imortal efetiva. Ela expressou sua gratidão pelo convite. “Receber o convite já foi indescritível. Representar Paranaguá em uma academia tão relevante para a literatura e cultura paranaense é uma honra em todos os sentidos. Tenho como patronesse Júlia da Costa, a primeira poeta paranaense que também era parnanguara. Paranaguá é a Cidade Mãe do Paraná e eu tenho muito orgulho de dizer que esta é a minha cidade natal”, afirma.

A posse na Academia ocorrerá nesta quinta-feira (3), em Curitiba. Questionada sobre como avalia o mercado literário atualmente, a escritora declara que está em crescimento em muitos países e que o Brasil tem suas peculiaridades. “Aqui surgiram muitas editoras independentes e prestadoras de serviço que não visualizam as obras literárias em seu aspecto cultural, mas sob um viés de obtenção de lucro. É complicado entrar em contato com boas editoras e ter livros nacionais atuais de qualidade nas livrarias”, diz.

As obras clássicas são as mais divulgadas, o que é bom, mas, por outro lado, não há muito espaço para o novo, sobretudo se tratando de literatura juvenil por autores brasileiros. Sendo assim, o público-alvo de adolescentes e jovens acaba por consumir obras estrangeiras traduzidas, deixando de conhecer bons autores atuais do nosso país”, complementa Cecília.

Pouco acessíveis


Para ela, o fator preço também dificulta o acesso dos jovens às produções de qualidade. “Os livros encareceram tanto na publicação quanto na venda. Houve uma época em que obras de mais de 200 páginas custavam no máximo R$ 30. Hoje os mesmos livros estão no mínimo custando o dobro! E as livrarias famosas que tínhamos no país acabaram falindo e fechando. Então eu vejo que estamos em um momento de maior aceitação e empoderamento dos autores brasileiros, mas sempre há o que melhorar”, finaliza Cecília Leal.