“Esquecidos”: moradores da comunidade Sarapiá, em Morretes, denunciam descaso da prefeitura com estradas e saneamento básico na região

Muita lama, acesso cheio de buracos e dificuldade até na comunicação. Esses são alguns dos problemas cotidianos enfrentados pelos moradores de Sarapiá 1 e 2, comunidades rurais de Morretes. Eles procuraram o JB Litoral para denunciar um cenário de descaso dos órgãos públicos em relação às suas necessidades mais básicas. Composta por cerca de 80 famílias, as comunidades enfrentam uma série de problemas de saneamento, pavimentação e iluminação que afetam diretamente a qualidade de vida de quem vive nelas.

Luciana Dallabrida, professora do Colégio Estadual Rocha Pombo e moradora há nove meses da localidade, explica que, apesar de seu curto tempo ali, já conseguiu algum avanço, como dispor de um serviço de internet. Mas, segundo a professora, o maior problema, que assola os habitantes há mais de 12 anos, é a precariedade e falta de pavimentação da estrada que liga as comunidades de Sarapiá 1 e Sarapiá 2.

Ela conta que as obras de pavimentação foram iniciadas pela prefeitura em junho deste ano, mas, até o momento, nenhuma melhoria perdurou. “Como resultado, as estradas ficaram repletas de buracos e os restos de asfalto que colocaram se deteriorou rapidamente”, conta.

A professora ainda destaca que a estrada fica intransitável em dias chuvosos. “Quando chove é impossível andar por ela sem afundar na lama, e essa situação afeta principalmente nossos agricultores que necessitam de acesso, inclusive para caminhões”, destaca.

Promessa não cumprida

Morador da comunidade há 12 anos, Enoel José dos Santos afirma que a promessa feita pela gestão municipal era de melhorar toda a extensão da estrada, além de construir uma ponte de concreto no lugar. No entanto, ele afirma que as melhorias na via foram insuficientes e, até hoje, eles esperam pela construção de uma nova ponte, já que a atual, feita de madeira, está em condições precárias e coloca em risco a vida dos pedestres.

“Nessa estrada é sempre a mesma coisa, eles passaram várias vezes para arrumar, mas nunca arrumaram de verdade. A gente queria que as autoridades olhassem com mais carinho para nossa comunidade. De vez em quando eles até mandam roçar, mas a estrada é o que a gente mais precisa“, destaca.

Serviços ausentes

Além dessa questão, a comunidade também clama pela solução de problemas como a falta de água encanada (utilizam água de poço), ausência de saneamento básico (os moradores constroem fossas sanitárias), insuficiência da iluminação pública e precariedade de coleta de lixo, com o serviço disponível apenas na via de acesso.

“São vários os problemas que enfrentamos aqui e cada um faz o que pode para contornar, mas há serviços que a prefeitura poderia oferecer com facilidade, como a coleta de lixo por toda Sarapiá. A lixeira coletiva fica localizada a cerca de 300 metros da comunidade, o que nos obriga a coletar o lixo em casa e levar até lá”, relata Luciana.

O que diz a prefeitura

O secretário de Obras de Morretes, Guilherme Machado, explica que o município possui mais de 600 km de estradas rurais e, nesta época do ano, enfrenta um grande período de chuvas, que impossibilita a manutenção delas. “Quando o período de chuvas é muito extenso, prejudica todo o cronograma e calendário de obras nas estradas”, diz.

Ele ainda destaca que, em junho, a pasta aplicou patrola e rolo compactador nas estradas e, em alguns pontos, também colocou fresado (resto de asfalto) e seixo rolado (material graúdo do fundo dos rios) para melhorar as condições da via.

“As nossas equipes ficaram durante duas semanas realizando esse trabalho na região. Também não podemos deixar de comentar que, em uma das ruas, recebemos o relato de um morador antigo da região, o Senhor Leônidas, que nos disse que as máquinas da prefeitura nunca tinham entrado em sua rua ao longo de 40 anos”, destaca o secretário.

Quanto aos problemas relatados pelos moradores, ele garante que a pasta planeja estender a iluminação no local e construir a ponte de concreto em Sarapiá 1, uma demanda antiga dos moradores.

“Algumas obras de infraestrutura estão sendo planejadas para a comunidade, como a extensão da rede de iluminação pública, que já se encontra com o processo em andamento na COPEL, e também a construção de uma ponte de concreto, que se encontra em trâmite de licitação. Tudo isso pensado para resolver alguns dos problemas crônicos da comunidade”, conclui o secretário, sem detalhar prazos.

Ainda em outubro

Em consulta ao Portal da Transparência da Prefeitura de Morretes, o JB Litoral verificou que a ponte em concreto, pedida pelos moradores do Sarapiá, faz parte de um pacote de obras para a construção de sete pontes, orçado em R$ 936.231,50. O projeto, feito na modalidade Tomada de Preços, foi publicado na última quinta-feira (5) e tem abertura prevista para o próximo dia 23. As pontes a serem construídas ficam, além de Sarapiá, nas comunidades rurais de Candonga, Pitinga, Mundo Novo (duas pontes), Cruzeiro e Bom Jardim.