Familiares alegam execução de jovens em suposto confronto com a PM; capitão fala sobre o caso


Por Redação Publicado 07/06/2023 às 18h12 Atualizado 18/02/2024 às 13h33

Familiares de Bruno Costa Pires, de 22 anos, que foi morto em um suposto confronto armado com a Polícia Militar na última sexta-feira (2), na Ilha dos Valadares, em Paranaguá, têm contestado a versão dos policiais. Cláudio Pires, pai do jovem, fez uma publicação em seu perfil no Facebook questionando a situação e informando que fará uma manifestação, junto com mais pessoas, para pedir justiça.

Tiraram cruelmente a vida do meu filho Bruno (…). O dever da polícia é render e recolher, [e o suspeito] será julgado e, se condenado, pagará pelo seu erro. A polícia não [tem] capacidade de julgar ninguém. Por que fazem isso? Por que estão julgando? E a sentença deles é a morte. Então pegam, matam e depois jogam uma arma, uma droga, e fazem pessoas passarem por criminosos”, afirma em seu post.

De acordo com ele, seu filho nunca teve envolvimento com o crime e nenhuma passagem pela polícia. “Já falamos com cinco famílias que passaram pela mesma situação e que não conseguiram fazer nada para ter justiça”, diz.

Devido às contestações à versão oficial do acontecido na tarde do dia 2 de junho, registrada em Boletim de Ocorrência, o capitão Zenildo Caetano das Neves conversou com a imprensa para esclarecer sobre o procedimento da corporação em casos como este na manhã desta quarta-feira (7).

Esse fato na Ilha dos Valadares se tratou de mais um confronto armado no Litoral. Desde o primeiro momento, foram tomadas as medidas necessárias para a devida persecução criminal sobre o caso”, informa ao JB Litoral.

PMPR sofre rigoroso controle externo

De acordo com ele, a apuração relacionada à situação de morte começa logo após a ocorrência, com o isolamento do local, acionamento da Polícia Científica, responsável pela perícia e apreensão das armas dos policiais e dos suspeitos. “As armas dos suspeitos vão para a delegacia e a dos policiais ficam recolhidas no Batalhão até que sejam encaminhadas para a perícia”, explica.

Além disso, o capitão também esclarece que todas as comunicações necessárias acerca do caso foram feitas. “O Gaeco foi comunicado, a Corregedoria Geral da PM também, de maneira que todo o aspecto legal da ação seja observado. Esse é o protocolo da Polícia Militar em qualquer caso de confronto armado que tenha como resultado feridos ou morte. Não existe uma ação clandestina”, garante.  

O capitão Zenildo destaca que a corporação sofre um controle externo bastante rigoroso por parte do Ministério Público, o que ele avalia como positivo para o trabalho dos policiais militares. Ele fala que o mesmo controle também é feito de maneira interna, através da Corregedoria da Polícia Militar.

Respeitamos o posicionamento da família, mas, ao mesmo tempo, confiamos naquilo que nossos policiais registraram no BO. Eles não foram lá por acaso, foram averiguar uma denúncia que envolvia aqueles suspeitos com um homicídio ocorrido anteriormente, no dia 1º de junho, no bairro Beira Rio. Durante a verificação aconteceu o confronto”, afirma.

Possibilidade de execução é remota, diz capitão

Ele também declara que a opção pelo confronto não é do policial, que vai para uma ocorrência buscando abordar os suspeitos dentro das técnicas e da lei. “Mas, infelizmente, o pessoal opta por confrontar e acontece essas mortes em decorrência da ação policial”, analisa.

Sobre as alegações dos familiares de que não houve confronto, mas, sim, execução, o capitão dá sua opinião. “Tudo o que acontece no local da morte é consubstanciado no laudo e local de morte. Se há alguma alteração, a perícia constata, e nossos policiais são bastante preparados para evitar isso, que caracteriza fraude processual. Acho bastante remota essa possibilidade, para não dizer impossível. É uma fantasia imaginar algo assim; estamos no século 21, onde tudo é bem registrado, filmado e fotografado”, diz.

Inquérito policial em andamento; prazo de 60 dias para conclusão

A ocorrência que resultou na morte dos suspeitos Bruno Costa Pires e Pedro Renato da Silva, de 23 anos, já está passando por investigação. Um inquérito policial foi instaurado, com prazo de 40 dias para conclusão, prorrogáveis por mais 20 dias.

Ao final do inquérito, um relatório será encaminhado ao Poder Judiciário, que decidirá a respeito da conduta dos militares envolvidos na ação. No momento, os policiais têm a presunção da inocência, uma vez que os atos administrativos têm o pressuposto da legitimidade.

Não vamos trabalhar para provar que o BO é falso, mas, sim, para comprovar que tudo o que está descrito no Boletim de Ocorrência de fato ocorreu”, conclui o capitão Zenildo.