Feira da Catedral completa 30 anos promovendo o encontro popular entre todas as idades
Por Luiza Rampelotti com informações de Maria Wanda de Alencar
Neste mês de maio, a tradicional feira regional de produtos agrícolas, pesca e artesanato, conhecida como Feira da Catedral, em Paranaguá, completa 30 anos. Desde 1991, os sábados pela manhã são marcados pela movimentação nas cerca de 30 barraquinhas que comercializam produtos agrícolas e alimentos no Largo Iria Corrêa, no Centro Histórico.
Os 30 anos da feira são frutos do trabalho conjunto entre os agricultores, em parceria com a Secretaria Municipal de Segurança, de Agricultura e Pesca e de Saúde, e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR).
No ano passado, em abril, a feira foi interrompida, pela primeira vez, devido à pandemia do coronavírus. Foram três semanas de pausa e o retorno aconteceu seguindo todas as medidas de segurança para evitar a contaminação.
A feira promove o desenvolvimento econômico, social e cultural, facilitando a comercialização da produção familiar, que vende alimentos com preços reduzidos, e valorizando a produção artesanal. Além disso, por meio dela, a integração social e hábitos culturais são preservados.
Para colocar o papo em dia
Nela, as pessoas se encontram, trocam informações, fazem articulações políticas ou simplesmente se divertem. Muitas pessoas vão até à feira por lazer, “para comer pastel, ver amigos e conversar”. É o caso de Luiz Carlos Mendes, de 72 anos. “Sou professor aposentado e minha principal diversão é vir até a Feira da Catedral, todo sábado bem cedinho, e encontrar alguns amigos para comer um pastel quentinho, tomar um suco de maracujá, colocar o papo em dia e já levar a verdura e salada para a patroa preparar o almoço”, brinca.
Ele diz que durante a pandemia, quando a feira foi interrompida, os amigos passaram a conversar pelo WhatsApp, “mas não foi a mesma coisa”. “A tecnologia é muito importante, porque aproxima aqueles que estão longe. Mas ela não ocupa o lugar do encontro físico, do olho no olho, tête-à-tête. Claro que devido ao coronavírus, precisamos nos cuidar e seguir todas as recomendações de saúde, mas, ao mesmo tempo, precisamos dar uma distraída para não surtarmos só dentro de casa”, diz.
Feirantes
Barraca da Ana e Marcelo
Na barraca do Marcelo e da Ana são comercializados diversas hortaliças, temperos e tubérculos, como mandioca, cenoura etc., galinhas e ovos caipiras, patos e outros. Tudo já é vendido limpo e pronto para ir ao fogo. A família produz na Colônia Santa Cruz.
“Comecei a vender na feira desde a época dos meus pais, bem no comecinho. Depois que eles faleceram, continuei com a tradição. É muito gratificante e um meio de sobreviver e sustentar minha família. Não é um grande salário, mas dá para sobreviver”, diz Marcelo Vaz Pereira.
A esposa Anatolia Zakalugem fala sobre o momento da pandemia. “Quando foi necessário parar, nós paramos devido à pandemia. Além disso, pegamos covid-19 e também precisamos fazer uma pausa. Mas agora já está tudo certo”, comenta.
Os feirantes destacam que o local é um ponto de encontro para amigos que combinam de tomar um café juntos. “Quando as baladas estavam funcionando, até o pessoal que saía da balada passava ali primeiro, para tomar café. Todas as idades frequentam a Feira da Catedral, especialmente os mais idosos”, finaliza Marcelo.
Barraca da Inês japonesa
A barraca da Inês, conhecida como a dos sucos naturais da japonesa, participa da feira há 21 anos. Lá, é possível ver disposta a fileira de sucos com inusitados sabores e misturas como inhame com gengibre, banana com limão, araçá pera e muitos outros.
Além disso, é possível experimentar salgados, comprar temperos e ainda fazer uma terapia auricular. “Sou grata e feliz por estar na feira há 21 anos, incentivada pelo amigo da família, o técnico agrônomo Leoclides Lazaroto”, conta.
Segundo ela, a feira se tornou um local de atração para o povo parnanguara e outras regiões do litoral. “Na nossa barraca é possível encontrar uma variedade de sucos naturais, sem corante e nem conservante. Os mais procurados são aqueles que ajudam na imunidade, como inhame com limão, que ajuda a aumentar as plaquetas e fortalece a visão, ossos e coração, fazendo uma limpeza de dentro para fora”, diz.
Inês tem um sítio, na Colônia São Luiz, em que cultiva uma pluralidade de espécies frutíferas, além de mandioca, feijão, cana, flores e criar gado.
Barraca do Breda
A barraca do Breda conta com uma infinidade de conservas de pepino, beterraba, palmito e etc. Tudo já é pronto para ser consumido, e vem direto da produção familiar, na Colônia Santa Cruz. Lá, além de ser o local de cultivo, também é um ponto de apoio para os ciclistas, viajantes e aventureiros das trilhas e paisagens do litoral.
Eliseu Roberto Breda é um dos mais novos feirantes da Catedral. Começou a comercializar seus produtos há cerca de um ano e meio. Mas, para ele, a característica mais importante da feira é a promoção do encontro entre pessoas.
“A feirinha é muito importante porque, além de a maioria dos feirantes sobreviver da renda adquirida com ela, o momento promove, também, o encontro de pessoas de todas as idades, que aproveitam para fazer suas compras e rever os amigos”, comenta.
Barraca da família Auke
Na barraca da família Auke são vendidas muitas delícias de sorvetes, picolés, queijos e iogurtes, de diversos sabores – receitas que são próprias deles. A produção é realizada na fazenda localizada na Colônia Maria Luiza.
“Já faz 20 anos que vendemos na feira. Durante esse tempo, conhecemos muita gente, tivemos muitos clientes, pessoas que desde o primeiro dia compraram conosco e continuam até hoje, já há duas décadas. Só temos que agradecer a todos que têm fidelidade no consumo dos nossos produtos”, agradece Débora Deijkstra Auke.
Ela diz que, apesar da pandemia e da pausa na realização da comercialização, durante três sábados de abril, no ano passado, o movimento está retornando. “Faça chuva, faça sol, estamos lá todos os sábados de manhã”, conclui.
A consumidora Maria Wanda de Alencar, engenheira agrônoma, moradora de Guaratuba, fala sobre sua experiência na Feira da Catedral. “É sempre um prazer visitar famílias tão acolhedoras e cheias de histórias de vida entrecruzadas com a produção, de maneira que, quem está na cidade, pode se nutrir de alimentos frescos e saudáveis”, diz.