Hortas comunitárias em Matinhos promovem alimentação saudável, interação com a natureza e fortalecimento da comunidade


Por Luiza Rampelotti Publicado 28/08/2023 às 05h53 Atualizado 18/02/2024 às 21h30

Quem passa por Matinhos logo observa que, de uns tempos para cá, a cidade está mais florida. É que a Prefeitura tem liderado uma série de projetos de hortas e pomares comunitários em escolas, Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), associações de moradores e espaços públicos. A iniciativa está mudando a relação dos habitantes com a produção de alimentos e com o meio ambiente, impactando positivamente a vida das crianças, famílias e comunidades locais.

Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Sérgio Cioli, o Poder Municipal está comprometido com a promoção da alimentação saudável, a educação ambiental e o fortalecimento da comunidade. Apenas neste ano, o Município já investiu cerca de R$ 655.5 mil em serviços de jardinagem e paisagismo, com fornecimento de mudas; e o objetivo é investir mais R$ 484.6 mil até janeiro de 2024, quando o contrato de R$ 1.1 milhão com a empresa System Seg Serviços vence.

A cidade está passando por uma verdadeira transformação, com a empresa estando encarregada do plantio de flores e árvores frutíferas em órgãos e vias públicas. Além disso, mudas de hortifrúti estão sendo direcionadas para as associações, escolas e CMEIs, visando fomentar ainda mais a cultura de cultivo sustentável.

CMEI Gigi Bonatto: um exemplo de educação alimentar


No CMEI Professora Gigi Bonatto, a cozinheira Ângela Maria Silva Vieira é a força motriz por trás da horta comunitária, chamada de Projeto Semear. Seu compromisso com a alimentação saudável e o meio ambiente a levou a iniciar o projeto cinco anos atrás, que ganhou força durante a pandemia e neste ano recebeu apoio das Secretarias de Meio Ambiente, Educação e Obras.

Ângela Maria ressalta a importância do projeto como uma forma de educação ambiental. “O contato com a terra e o plantio promovem uma consciência ambiental desde cedo. As crianças aprendem sobre a origem dos alimentos, a importância de cuidar da natureza e a relação entre a produção e o consumo”, conta.

A cozinheira Ângela Maria foi quem deu início ao projeto da horta do CMEI. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral


O CMEI Gigi Bonatto atende a 180 crianças, de seis meses a três anos e 11 meses, com turmas no período da manhã e tarde. Todos participam ativamente do cultivo dos alimentos e o resultado é um maior apreço pela hora da refeição.

Ao entenderem que foram elas mesmas que contribuíram para a produção dos alimentos, em vez de vê-los simplesmente vindos do mercado, surge um senso de conexão com todo o processo anterior. Desde o plantio até a colheita, as crianças são responsáveis por cada etapa. Elas regam, cuidam das plantas e colhem, antes de levar os produtos até a cozinheira, que os prepara para as refeições”, explica a diretora Zulminéia Silva.

Ela também destaca que a abordagem não apenas promove uma alimentação saudável para crianças de diferentes idades, incluindo os bebês, mas também integra a educação ambiental de maneira prática. “Mesmo os pequeninos são envolvidos nesse processo, observando atentamente o plantio e a rega, estabelecendo, assim, uma relação precoce e positiva com a alimentação e a natureza”, comenta.

Expansão das hortas comunitárias: um compromisso da Prefeitura

Com a experiência positiva do CMEI Gigi Bonatto e tendo a criação de hortas comunitárias no Plano de Governo do prefeito José Carlos do Espírito Santo (Podemos), o Zé da Ecler, a Secretaria de Meio Ambiente deu o pontapé para a expansão do projeto, que não se limita apenas às escolas, mas se estende também a associações de moradores e espaços públicos.

Além das escolas, estamos plantando mudas e árvores frutíferas em praças e vias públicas. A ideia é fazer com que a população passe a frequentar mais as praças e, automaticamente, proporcionar uma fonte adicional de alimentos saudáveis para eles saborearem”, enfatiza Sérgio Cioli.

Segundo o secretário de Meio Ambiente, Sérgio Cioli, a criação de hortas comunitárias na cidade faz parte do Plano de Governo da atual gestão. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

Ele destaca ainda a ênfase na produção orgânica. “Todas as hortas são livres de agrotóxicos, garantindo alimentos mais saudáveis. Queremos que as pessoas não apenas consumam os alimentos, mas também compreendam o valor de um cultivo orgânico e sustentável”, diz.

Atualmente, o programa se estende por diversas instituições na cidade, abrangendo um espectro variado de espaços educacionais e comunitários. Já foram iniciados projetos em cinco instituições de ensino: Escola Municipal Luiz Carlos do Santos, Escola Municipal Monteiro Lobato, Complexo Educacional Francisco dos Santos Júnior, CMEI Junara e o CMEI Gigi Bonatto.

Além disso, associações de moradores também estão participando ativamente, incluindo a Associação de Moradores da Vila Nova, Associação de Moradores de Albatroz e a Associação de Moradores de Gaivotas. A abrangência é ainda maior, com a implantação de árvores frutíferas atrás da pista de skate, transformando um espaço esportivo em um local de cultivo de várias espécies de frutas.

A iniciativa não apenas enriquece a cidade com vegetação diversificada, mas também promete uma renovação visual e ambiental nos próximos anos. Será uma Matinhos de cara nova”, destaca Cioli.

Engajamento da comunidade e impacto social


As hortas comunitárias vão além da produção de alimentos, desempenhando um papel importante na geração de renda e na união da comunidade. Na Associação de Moradores de Gaivotas, cerca de 30 famílias participam do seu cultivo, que apesar de ser recente, já está produzindo.

Além disso, os moradores estão traçando planos para fortalecer ainda mais o impacto das hortas comunitárias. Entre as iniciativas, destaca-se o planejamento de feiras dedicadas à comercialização dos produtos semeados por eles, incluindo outros alimentos. Esses eventos não só têm o potencial de gerar renda para os participantes, mas também desempenham um importante papel no fortalecimento dos laços da comunidade.

A Prefeitura apoia a associação de Gaivotas com a doação de mudas, árvores frutíferas, terra etc. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral


Experiência pessoal


Moradores engajados do balneário Gaivotas, como o casal Neiva e Jaimir Mauler, compartilham seu entusiasmo com o projeto. A mulher, dona de casa, fala sobre a jornada recente da horta comunitária, destacando o esforço coletivo para transformar um espaço negligenciado em um ambiente próspero.

Ela ressalta que o projeto, embora ainda esteja em estágios iniciais, já demonstra seu potencial de sucesso. “Além de contribuir para um bairro mais atraente, a horta cria uma conexão direta entre os moradores e os alimentos que consomem. Essa mudança não só embeleza o espaço que antes estava abandonado e cheio de sujeira, mas também impulsiona o crescimento da comunidade”, avalia.

O casal Neiva e Jaimir Mauler é voluntário no cultivo da horta de Gaivotas. Eles enxergam a oportunidade como um “refúgio terapêutico”. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

Neiva e seu esposo dedicam-se voluntariamente à horta, uma atividade que vai além do trabalho físico. Ela destaca que, embora os ganhos financeiros sejam limitados, os benefícios psicológicos e emocionais são notáveis. “A horta não é apenas um lugar para o cultivo, mas também um refúgio que oferece uma pausa da rotina e um espaço para a convivência social. Aqui é a minha terapia”, diz.

Jaimir complementa a visão, trazendo suas experiências pessoais e suas raízes rurais. Ele recorda suas vivências na roça, onde colocar as mãos na terra era uma parte essencial da vida. “A oportunidade de se envolver na plantação oferece um espaço de escape para nós. A horta não é apenas um local para mexer com plantas, mas sim um lugar de refúgio onde podemos nos conectar novamente com as nossas raízes e aproveitar momentos de tranquilidade entre as mudinhas cultivadas”, conclui.

Não são apenas as hortas comunitárias que recebem atenção da Prefeitura, vias e espaços públicos também são contempladas com mudas e árvores frutíferas. Foto: Prefeitura de Matinhos