Mãe lamenta falta de atenção por parte de médicos em Paranaguá; filho foi diagnosticado com câncer após exames na rede particular


Por Luiza Rampelotti Publicado 19/07/2022 às 15h18 Atualizado 17/02/2024 às 13h06

[EDIT] – No dia 9 de agosto, Eduardo Gutierrez Lemos faleceu devido ao câncer.

Na terça-feira, dia 12 de julho, a parnanguara Daniela Gutierrez Lemos, mãe de Eduardo Gutierrez Lemos, de 21 anos, fez um desabafo em seu perfil do Facebook. Na publicação, ela conta que, desde abril, levou seu filho mais velho quatro vezes na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Paranaguá, e três vezes no Hospital Regional do Litoral (HRL), com fortes dores no joelho, e nenhum médico decidiu investigar o motivo da dor. Segundo ela, apenas davam remédios para o jovem e o mandavam para casa.

Com as dores se agravando e Eduardo perdendo peso muito rapidamente, chegando, até mesmo, a tossir sangue, ela levou o filho na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Leblon, onde relata ter sido melhor atendida. Lá, o médico responsável solicitou exames, no entanto, o agendamento era só para outubro.

Por isso, Daniela levou o filho a um médico ortopedista na rede privada de saúde, que solicitou um raio-x e ressonância. Os resultados não foram bons, eles indicavam a possibilidade de sarcoma (tumores malignos raros) nas pernas e nos pulmões. Com o choque, ela correu para Curitiba em busca de tratamento adequado.

No dia 20 de junho, Eduardo realizou uma consulta na UPA Cajuru, em Curitiba, onde recebeu encaminhamento para o Hospital Erasto Gaertner devido à “lesão óssea em fêmur distal à direita sugestiva de sarcoma”. “Se me ouvissem na primeira consulta, em Paranaguá, e ao menos fizessem um raio-x, meu filho talvez tivesse mais chances, pois a doença avançou muito rapidamente”, lamenta Daniela.

Jovem está entubado na UTI; câncer avançou

Hoje, o jovem está entubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Erasto Gaertner. Durante o período em que está internado lá, os médicos descobriram que ele teve um derrame no pericárdio e retiraram 500 ml de líquido do coração, segundo a mãe.

Atualmente, Eduardo está entubado na UTI do Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, recebendo a quimioterapia. Foto: Daniela Gutierrez Lemos

Só nesse um mês em que ele está no hospital já saíram dois nódulos no pescoço e o câncer no pulmão avançou. Se tivessem me ouvido, a doença não tinha progredido tanto”, comenta Daniela.

Segundo ela, tudo começou com uma tosse e dores no joelho, mas Eduardo não havia caído e nem tido nenhuma lesão. Por isso, a mãe o levou à rede pública de saúde na cidade, com o objetivo de solicitar um raio-x, mas, de acordo com ela, os médicos disseram que não teria como ver nada pelo exame e só deram medicamentos.

Foi pelo raio-x, que fizemos no particular, que vimos que havia partes moles agrandadas e na ressonância já deu a hipótese de câncer linfoma ou sarcoma. Se tivessem dado importância para o que a gente fala… ele já estava emagrecendo, havia emagrecido 15 kg muito rapidamente. Um raio-x feito com antecedência poderia ter salvado a vida dele. Agora meu filho está nas mãos de Deus”, conta.

Daniela revela que os médicos em Curitiba chegaram a desenganar Eduardo, afirmando que não fariam nem a quimioterapia porque ele supostamente não aguentaria. Mas a mãe não aceitou a decisão e insistiu e, então, o jovem já está indo para a segunda semana de quimio, mesmo entubado.

Perdi 40 dias que seriam cruciais”, diz mãe

Ela comenta que já teve casos de câncer em sua família; seu pai faleceu devido à doença e uma prima também, com o mesmo tipo de câncer de Eduardo. Por isso, ela destaca que o medo sempre esteve presente e, por isso, não se conforma que os médicos não tenham dado a devida atenção.

Ninguém imaginaria que um jovem de 21 anos teria o diagnóstico, mas os médicos têm que dar atenção ao que a gente fala, aos sinais que estavam claros. O que eu posso dizer é que os pais percebam se o filho não caiu, não se machucou, mas se diz que sente dor, então corram para ver o que é, porque pode ser algo grave”, diz.

A mãe conta que sentia que algo não estava certo. Suas amigas diziam que era coisa da cabeça, mas ela afirma que nem dormia esperando os primeiros resultados, até mesmo devido às experiências anteriores na família.

Em Paranaguá, perdi 40 dias que seriam cruciais para o meu filho, pois o câncer se espalhou violentamente em apenas 5 dias”, lamenta.

Daniela é casada e tem mais dois filhos, uma menina de 14 anos e outro menino de 15. Eduardo, o mais velho, tem uma filha de 4 anos, é autônomo e arruma celulares. A mãe pede a oração de todos para que um milagre aconteça.

O que dizem os órgãos de saúde

O JB Litoral entrou em contato com a secretaria municipal de Saúde, questionando o motivo de os médicos da UPA não terem sequer solicitado um exame para o jovem devido às fortes dores, tosse com sangue e perda de peso. No entanto, até o fechamento desta reportagem, não houve retorno.

Eduardo tem 21 anos e uma filha de quatro anos. Ele é o filho mais velho de Daniela e tem outros dois irmãos. Foto: Daniela Gutierrez Lemos

A reportagem também fez os mesmos questionamentos à Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Paraná (FUNEAS), que administra o Hospital Regional do Litoral. De acordo com Hemerson Saqueta Barbosa, diretor geral do HRL, “mesmo o paciente não tendo sido encaminhado via central de regulação de leitos estadual, na data de 18 de junho de 2022, recebeu atendimento na unidade hospitalar, acompanhado por sua mãe, tendo passado por uma avaliação inicial pela triagem da unidade”.

Ele afirma que, conforme a situação de momento, na ocasião, foi realizada a analgesia adequada e indicada a procura da UPA de Paranaguá para os devidos encaminhamentos eletivos com especialistas, continuidade do tratamento e acompanhamento do caso. “Por se tratar de uma unidade hospitalar referenciada pela 1ª Regional de Saúde, o Hospital Regional do Litoral – FUNEAS atende as demandas e encaminhamentos para internamentos conforme priorizado pelo complexo regulador do Estado, que determina os locais onde o paciente deverá ser atendido, conforme vagas disponíveis e especificidade de cada caso. Com isso, destacamos que o fluxo correto para o atendimento é iniciado via UBS, ou UPA, do município de origem do paciente, que farão os atendimentos iniciais, encaminhamentos e devidos acompanhamentos”, diz.

Por fim, a nota afirma que, na fase preliminar do atendimento, a avaliação do especialista da UPA é essencial para a formulação do diagnóstico preciso do paciente e direcionamento à terapia adequada. “Em face do exposto, reafirmamos o nosso compromisso com a qualidade nos serviços de saúde do Estado, e de que estamos sempre disponíveis para os esclarecimentos que se fizerem necessários”, conclui.