Marinheiro resgata cinco homens após naufrágio, na baía de Paranaguá


Por Luiza Rampelotti Publicado 19/04/2022 às 12h40 Atualizado 17/02/2024 às 06h38
Juliano Oliveira é marinheiro da Palangana há 11 anos. Foto: Felipe Luiz Alves/JB Litoral

Na última sexta-feira (15), uma situação de naufrágio na baía de Paranaguá preocupou os moradores e, muito mais, os envolvidos no acidente. Era por volta das 16h30 quando um barco de pequeno porte, com cinco pessoas, afundou nas proximidades do porto. A situação foi filmada e publicada nas redes sociais.

Felizmente, havia um marinheiro por perto que socorreu as vítimas e garantiu que todas elas saíssem com vida do naufrágio. O “herói” se chama Juliano de Oliveira Barbosa, marinheiro da Palangana Transportes Marítimos e Apoio Portuário há 11 anos.

Eu tinha acabado de chegar de viagem e estava encostando o barco quando um rapaz, que estava trabalhando no navio, viu a situação e me avisou. Imediatamente saí com o barco, mas, não se via nada em um primeiro momento, porque o barco já estava no fundo. Só vi cinco pessoas na água”, conta.

Ao chegar próximo às pessoas, todos homens adultos – exceto por um adolescente – a primeira pergunta que Juliano fez a eles foi quantos tripulantes estavam na embarcação. “Se houvesse mais alguém, estaria afundado. Mas eles falaram ‘cinco’ e fiquei mais tranquilo, pois estava visualizando todos”, comenta.

Ele também questionou se havia alguém machucado e a resposta foi positiva; um homem estava com o ombro levemente ferido. “Assim, fui resgatando um por um, jogando a boia e puxando. Depois do primeiro, foi mais fácil, pois tive ajuda para pegar os outros”, diz.

Tripulantes estavam em estado de choque

De acordo com Juliano, os rapazes estavam muito nervosos e gritando por socorro e, ao mesmo tempo, em estado de choque. O marinheiro avalia que a situação teve um desfecho feliz porque ainda era cedo e havia luz natural. “Eles tiveram sorte porque ainda era dia e dava para visualizá-los. Se fosse mais para a noite, poderia ter sido muito pior”, revela.

O JB Litoral perguntou a Juliano qual poderia ter sido o motivo para o naufrágio. Segundo ele, era visível que os cinco homens não tinham experiência com navegação e, além disso, o limite de capacidade do barco de pequeno porte havia sido superado.

Eles contaram que vinham atrás de outro barco e a onda fez com que eles naufragassem. O outro barco foi embora, creio que não tenham visto, porque foi tudo muito rápido. Mas acredito que eles estavam em excesso de tripulação e sem muita experiência no mar”, conta.

O marinheiro também relembra o momento mais marcante do resgate. “Na hora da adrenalina não caiu a minha ficha do que estava acontecendo, mas algo que me marcou foi quando fui resgatar o filho e ele disse: ‘não, primeiro o meu pai’. Enquanto o pai insistiu para que eu pegasse o filho antes. No final, eles agradeceram muito e, em determinado momento, um deles falou que não sabia se veria a filha nascer, já que a esposa está grávida de seis meses”, narra.

Segundo o marinheiro, os ocupantes do barco disseram que eram de São José dos Pinhais. Estavam em três amigos, pai e filho. Todos foram salvos, tiveram os pertences resgatados e o barco também foi recuperado.

Marinheiro, pescador e herói
Natural da Ilha das Peças, Juliano também é pescador. Foto: Felipe Luiz Alves/JB Litoral

Juliano mora em Paranaguá há 16 anos, mas é natural de Guaraqueçaba, na Ilha das Peças. Pescador, ele já tinha muita experiência no mar ainda antes de se tornar marinheiro da Palangana.

Hoje eu faço apoio marítimo no porto, mas o conhecimento do mar está no sangue, pois era pescador. Gosto muito da minha profissão e estou em uma empresa maravilhosa que me deu oportunidade”, diz.

Ele destaca a importância de que os navegadores tenham conhecimento sobre navegação antes de se lançarem ao mar. “No verão, principalmente, o tempo fecha muito rápido. Na parte da tarde, cai um vento que para um barco pequeno é ruim de navegar, então é preciso experiência e conhecimento. Além disso, tem sempre que respeitar a capacidade do barco. A Capitania fiscaliza muito isso, às vezes o pessoal acha ruim, mas eles estão fazendo o trabalho deles para que esse tipo de situação não aconteça”, opina.

Para o marinheiro, a maior alegria foi poder estar no “lugar certo e na hora certa”. Ele também fala sobre a sensação de dever cumprido e se emociona ao descrever como foi recebido por sua família ao chegar em casa. “Primeiro agradeço a Deus por estar na hora certa e no lugar certo, porque poderia ter acontecido uma tragédia. Só existiram perdas materiais, mas as cinco vidas foram salvas. Quando aconteceu aquilo, todos ficaram sabendo, estava nas redes sociais, mas quando cheguei em casa, minhas filhas me receberam com tanto carinho, dizendo: ‘chegou o meu herói’. Fico muito feliz e agradeço muito a Deus” finaliza.

O que diz a Capitania dos Portos do Paraná

A Marinha do Brasil (MB) informa que não foi acionada quanto ao naufrágio parcial ocorrido no dia 15 de abril nas proximidades do porto de Paranaguá. A Capitania dos Portos do Paraná explica que está levantando as informações acerca do ocidente para que seja instaurado um inquérito administrativo, a fim de apurar as causas, circunstâncias e possíveis responsáveis. Assim que concluído e cumpridas as formalidades legais, o inquérito será encaminhado ao Tribunal Marítimo, que fará a devida distribuição e autuação, dando vista à Procuradoria Especial da Marinha, para que adote as medidas previstas no Art. 42 da Lei n°2.180/54.

Ao verificar irregularidades com embarcações, como manobras perigosas; falta de itens de segurança; condutores alcoolizados; e problemas com coletes salva-vidas ou na habilitação dos condutores, solicita-se que a CPPR seja acionada de imediato através do Disque-Segurança da Navegação no (41) 3721-1542. As informações podem ser encaminhadas ainda por e-mail no cppr.ouvidoria@marinha.mil.br. A Marinha do Brasil relembra que disponibiliza, ainda, o telefone 185 para emergências náuticas”, conclui.