Nizinho da Costeira – nem a morte ofuscou a caminhada de 98 anos do ancião mais antigo do bairro


Por Denise Becker Publicado 07/09/2022 às 15h39 Atualizado 17/02/2024 às 16h50

A morte traz consigo uma bipolaridade de sentimentos que se assemelham a uma montanha-russa, deixando a todos, tontos, disse o jornalista José Carlos Fernandes. Faz parte do ciclo da vida, uns nascem e outros morrem. No caso de quem vive a dor da despedida de um ente querido – os familiares – se depara frente a um processo com várias fases: da perda à negação, à dor da ausência e, outrora, às lembranças.

Felizes são aquelas famílias que encontram consolo no legado daquele que partiu. Em 15 de agosto de 2022, o parnanguara Antônio Siqueira, carinhosamente reconhecido por Nizinho, se despediu deste mundo. A causa da morte foi atribuída a uma neoplasia maligna de abdômen.

Mas nem a morte é capaz de ofuscar a brilhante caminhada deste homem. Seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos têm como herança 98 anos de memórias para recordar, reviver e aprender a seguir em frente.

Uma pessoa como Nizinho, o morador mais antigo do bairro Costeira, viu guerras, revoluções, teve dias felizes e, por certo, alguns dissabores nessa longa e rica vida. Um homem querido pela comunidade, atuante, participativo. Exerceu sua cidadania sempre que teve oportunidade. Portuário de profissão, também foi cozinheiro do exército na época da 2ª Guerra Mundial.

Suas inúmeras habilidades e disposição também serviram para ocupar a função de motorista em tempos de guerra. Os familiares dizem que Nizinho foi um dos trabalhadores a colocar a pedra que existe na Capitania dos Portos; temente a Deus e sempre solidário, construiu os degraus da Igrejinha da Cotinha.

Este pai de cinco filhos fez sua passagem na devida paz e justa homenagem de seu filho, Luiz Antônio, da nora Lucicléia e dos netos Luiz Vítor e Luiz Augusto nesta quarta-feira (7), data em que Nizinho completaria 99 anos.

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Se me permitem um parêntese, sempre me comovo com a morte de um pai de família. Penso que esse sentimento me acompanha desde a morte do meu pai – que não tive tempo de enterrar – a distância impediu de chegar para a cerimônia fúnebre. Todo pai deveria ser digno de uma homenagem como a aqui prestada pelos familiares de Nizinho.

Nas idas e vindas desta vida de jornalista, várias vezes presenciei a dor da partida do ente querido de alguém. A pior dor, talvez a maior, é não chegar para o último cortejo da despedida. Eu mesma vivi isso quando o meu pai morreu: era como se ele ainda estivesse lá, na mesma casa, esperando pelo meu abraço.

Nos alegra saber que, apesar da morte, viverá para sempre, o ser amado, através dos filhos e filhas, netos e netas, geração após geração. É tanto amor, que dá para sentir em cada palavra deste singelo texto.

(Texto dedicado ao Nizinho, com lágrimas de quem ficou).