Paranaguá brilhando nas telas: moradores da cidade dão impulso para o cinema local


Por Luiza Rampelotti Publicado 21/11/2023 às 21h44 Atualizado 19/02/2024 às 05h22

Em janeiro deste ano, Paranaguá ganhou o primeiro filme tipicamente “bagrinho”, produzido e estrelado por moradores da cidade. O “Vende-se (tratar direto com o proprietário)” é um curta-metragem que não apenas demonstra o talento local, mas também carrega consigo uma história de superação e paixão pela sétima arte.

O filme conta a trajetória de Alcides, um senhor que, ao decidir vender seu sítio na Ilha dos Valadares, mergulha em uma jornada mágica de autoconhecimento. A venda do terreno desencadeia eventos extraordinários, levando-o a redescobrir a magia da infância e a reconectar-se com si mesmo. O curta, com roteiro e direção de Gilmar Massafera, já conquistou a atenção internacional, sendo selecionado em quatro festivais e premiado com a licença para exibição na Amazon Prime Video, serviço on-line de streaming disponível em mais de 200 países.

Entretanto, para que a obra cinematográfica pudesse ganhar vida, seu idealizador, Gilmar Massafera, enfrentou desafios ao longo de sua caminhada. O jovem talentoso teve sua trajetória marcada por escolhas ousadas e a paixão pelo cinema.

Mudança de rota

A história começou quando, aos 16 anos, ele partiu de Paranaguá rumo a Curitiba para estudar design, impulsionado pela influência da irmã, Grazi Massafera, e do então cunhado à época, Cauã Raymond. Gilmar tinha um talento grande para desenho, era muito criativo, fazia artes no computador e mexia com 3D desde criança.

Aos 16 anos, já havia concluído o ensino médio e estava indo para a faculdade de design. No entanto, ele relembra que algo faltava, e, durante uma viagem ao Rio de Janeiro para visitar a irmã, se encantou com os bastidores das gravações.

Isso me levou a trancar a faculdade de design e começar o curso de cinema. Com influência da Grazi e do Cauã, me mudei para o Rio, onde me encontrei profissionalmente. Passei por todos os departamentos de cinema, como som, fotografia, luz, roteiro, assistência de direção”, conta.

Fazendo o que ama

Apesar do sucesso no Rio, o chamado de sua cidade natal o trouxe de volta a Paranaguá, onde reencontrou seu antigo amor de infância; Maria Luiza Rosnieski, que o deu ainda mais razões para ficar.

Ele sempre se sentiu muito conectado com a cidade, e o sonho dele era fomentar a cultura cinematográfica local”, relembra Malu.

Embora Gilmar tenha ingressado em um veículo de comunicação no município, atuando como diretor artístico, demorou a ter oportunidades na área pela qual era apaixonado. Até que em 2022 conseguiu reunir amigos para gravar o curta-metragem, com o intuito de ter experiência com cinema novamente.

Pode ser uma imagem em preto e branco de 1 pessoa e barba
Gilmar Massafera é diretor artístico na TVCi, em Paranaguá, e atua como cineasta na Tomada Filmes, empreendimento próprio. Foto: Reprodução/Redes sociais

A ideia surgiu numa conversa entre o casal. O cineasta aproveitou as habilidades artísticas de Malu, que é professora de canto, e a ensinou o que podia sobre cinema.

Eu não sou da área, mas tenho uma visão artística. Nos juntamos, ele começou a me ensinar e fiquei fascinada por cinema. Escrevemos o roteiro juntos. Depois, encontramos algumas pessoas que se interessaram, como Ricardo Damasceno, Ronaldo Damasceno, Alessandro Caxambu, juntamos essa galera e falamos: vamos fazer um curta”, diz Malu.

A esposa afirma que Gilmar foi um ótimo diretor. “Ele nos explicou a teoria de maneira clara, nos guiou pelo set e disse: ‘agora vamos trabalhar’. Conseguimos colaborar muito bem juntos. Produzimos um produto de qualidade, mesmo com nossa falta de experiencia. Foi surpreendente bom”, comenta, orgulhosa.

Reconhecimento internacional

O filme foi selecionado em quatro festivais internacionais: Student World Impact Film Festival; Pinus Sessions, do Pinus Internacional Film Fest; Festival del Cinema di Cefalù e no First-Time Filmmaker Sessions 2023, da Lift-off Global Network. Já no Student World Impact Film Festival ele também foi indicado na categoria de melhor filme de 2023.

Nem eu imaginei que o curta teria uma repercussão tão grande, que o produto ficaria tão bom. Nossa equipe não tinha a pretensão de ganhar um festival ou ser indicada, o inscrevemos apenas por inscrever, e aí começaram a chegar os e-mails”, conta Gilmar.

O reconhecimento por parte de profissionais do cinema, diretores, roteiristas e atores trouxe uma validação significativa para a equipe, composta, também, pelos atores Júlio Cristiano, Ricardo Godoy e Arthur Mariano. E a experiência mudou drasticamente a vida de Gilmar, dando um impulso tanto em sua carreira quanto em sua vida pessoal.

O casal Gilmar Massafera e Malu Rosnieski. Foto: Opa Filmes

“Vende-se (tratar direto com o proprietário)” não é apenas um filme para os envolvidos, mas um testemunho do potencial artístico e cinematográfico que pode emergir de Paranaguá. Por isso, eles destacam que o reconhecimento nos festivais internacionais não só elevou o nome da cidade no cenário, mas também provou que, mesmo sem experiência prévia, o talento e a paixão podem gerar obras de destaque.

Desde então, temos buscado profissionais. Estamos instruindo pessoas de outras áreas que podem ser úteis para o cinema. Dessa forma, estamos treinando, assim como o Gilmar fez conosco, com essa primeira equipe. Ele nos ensinou tudo, e através da prática, conseguimos. Agora, com toda a experiência que adquirimos, podemos passar adiante para a nossa equipe, fomentando, assim, o cinema em Paranaguá”, conclui Malu.

Depois do curta-metragem, Gilmar e Malu já produziram a primeira minissérie parnanguara, “Mãe do Rocio e Seus Milagres Profundos“, que foi transmitida pela TVCi e TV Pai Eterno, para todo o Brasil.