Paranaguá tem 4 casos confirmados de Monkeypox; entenda a doença e sua relação com o porto


Por Luiza Rampelotti Publicado 31/08/2022 às 18h10 Atualizado 17/02/2024 às 16h18
Porto de cima,
Leovaldo ressalta que porto pode ser uma porta de entrada para pessoas contaminadas, mas que, até o momento, nenhum caso confirmado teve a ver com a tripulação dos navios. Foto: Porto de Paranaguá

Já são quatro os casos do vírus Monkeypox, ou varíola dos macacos, como é popularmente conhecida, em Paranaguá. O último foi confirmado nesta terça-feira (31), no Informe Epidemiológico Semanal da Secretaria de Estado da Saúde (SESA). Enquanto isso, no Paraná, são 143 infectados.

O diretor da 1ª Regional de Saúde de Paranaguá, Leovaldo Bonfim, explica que outros três casos estão em investigação na cidade. Ele revela que todos os contaminados, até o momento, são do sexo masculino, sendo na faixa de 30 a 49 anos. Os quatro contraíram a doença fora da cidade.

A situação epidemiológica atual com esses casos confirmados não é preocupante, por tratarem-se de casos isolados e não estarmos em transmissão comunitária, embora possa ocorrer caso não sejam tomados os cuidados de higiene e isolamento”, destaca.

Para entender melhor a doença, como ela é transmitida, de que forma se manifesta, como pode ser prevenida e qual é a relação entre a cidade portuária e a quantidade de casos, o JB Litoral conversou com a médica infectologista e intensivista Lúcia Eneida Rodrigues, com grande atuação na área de saúde no Litoral do Paraná.

Sintomas e transmissão


A Monkeypox se trata de uma emergência infecciosa mundial, caracterizada por doença febril, com múltiplas erupções cutâneas e/ou mucosas em todo corpo, podendo ser única em 10% dos casos. “São inicialmente manchas que evoluem com uma pápula e depois crostas (casquinhas) até a cura. Enquanto há lesões na pele, a doença está sendo transmitida, então é necessário o isolamento do paciente”, explica Lúcia Eneida.

A profissional de saúde enfatiza que o caráter da doença é benigno no sentido em que, na maioria das vezes, as pessoas sobrevivem ao contágio. Porém, a população com deficiência de imunidade (pessoas em quimioterapia, imunossupressores e HIV positivo) e com idade avançada tem maior risco para óbito.

A principal forma de contágio é o contato direto com as lesões; contato íntimo, exposição repetitiva, próxima e prolongada sem proteção respiratória; contato físico direto, incluindo contato sexual, mesmo com uso de preservativo; ou contato repetitivo com materiais contaminados, como roupas ou roupas de cama”, explica.

Monkeypox e o porto


A médica destaca que, uma vez que Paranaguá tem um porto extremamente importante para o Estado e de localização estratégica, com área de influência que atinge boa parte do Brasil e América do Sul, é de se esperar que o grande fluxo contínuo de pessoas de diversas procedências possa acelerar o aparecimento e detecção de doenças como a varíola dos macacos. “Por isso, a ação da Vigilância Epidemiológica é fundamental”, comenta.

O diretor da 1ª RS ressalta que o porto pode ser uma porta de entrada para a doença. “Sem dúvidas, pode ser porta de entrada de pessoas contaminadas, embora não tenha relato de nenhum caso suspeito relacionado à tripulação de navios. A Anvisa, juntamente com a autoridade portuária, tem monitorado essa questão e já existe fluxo definido para essas situações, onde a pessoa suspeita ficará em isolamento na própria embarcação”, explica Leovaldo.

Além disso, Lúcia Eneida relembra que a vacina da Smallpox, a varíola, foi suspensa na década de 1980, uma vez que a doença foi erradicada. Ela informa que a Monkeypox é da mesma família de vírus e que existe vacina estudada e pronta para ser usada em casos de surtos, o que já acontece nas regiões da África e Europa.

Adultos vacinados têm proteção


Os adultos que tomaram a vacina da varíola comum, ainda podem ter proteção parcial à varíola dos macacos. Porém, atualmente, não há necessidade de vacinação, pois a doença mais grave – que é a varíola comum, e que pode levar à morte e sequelas – é uma doença erradicada”, diz.

Ela também explica que a Organização Mundial da Saúde (OMS) pretende interromper a transmissão do vírus de pessoa para pessoa, com foco prioritário em comunidades com alto risco de exposição, e usar efetivamente fortes medidas de saúde pública para prevenir o avanço da doença.

O uso criterioso de vacinas pode apoiar essa resposta, mas, no momento, a vacinação em massa não é necessária nem recomendada para varíola. Para contatos de casos, a vacinação preventiva pós-exposição (PEPV) é recomendada idealmente dentro de quatro dias após a primeira exposição para prevenir o aparecimento da doença”, informa.

Tem relação com macacos?


A médica destaca que a prevenção deve ser feita, além da vacina quando disponível e indicada, com todas as medidas que já conhecemos para a prevenção da Covid-19, por exemplo, como lavar as mãos e usar máscara; evitar o contato íntimo (toques, beijos, dançar colado com pouca roupa, ter relações sexuais, estar em aglomerações etc.) com pessoas suspeitas e/ou diagnosticadas com a doença. Além disso, em caso de aglomeração, deve-se usar roupas que protejam a pela dos braços e pernas, e não compartilhar bebidas ou cigarros.

“Historicamente, temos vários surtos de Monkeypox relatados no mundo. Mas é muito importante lembrar que, neste evento de contágio atual, até o momento, não há nenhuma evidência de que a transmissão tenha sido iniciada pelo contato com animais. Também não há nenhuma evidência de que alguma medida com macacos tenha efeito ou relação com a doença; então, nada de judiar ou matar os macacos”, conclui a médica Lúcia Eneida.