Prefeitura de Paranaguá revoga Chamada Pública após pressão dos grupos de Fandango Caiçara


Por Luiza Rampelotti Publicado 04/09/2023 às 13h52 Atualizado 18/02/2024 às 22h22
Chamada Pública contemplava apenas seis grupos, e dois dos credenciados não eram, essencialmente, de Paranaguá; enquanto três grupos parnanguaras ficaram de fora. Foto: Divulgação

Após manifestações e mobilização dos grupos de Fandango caiçara, a Prefeitura de Paranaguá tomou a decisão de revogar a Chamada Pública nº 012/2023, que dizia respeito ao credenciamento de seis projetos de grupos culturais tradicionais para serem desenvolvidos na cidade. A notícia foi dada pela administração municipal nesta segunda-feira (4).

Dentre os projetos credenciados, que visam ações voltadas para a preservação dos costumes e tradições do Fandango caiçara, dois vieram de grupos que não são, essencialmente, de Paranaguá, enquanto três associações parnanguaras ficaram de fora. Os grupos escolhidos também se apresentariam nos tradicionais Bailes de Fandango, que acontece no Mercado do Café.

A situação foi motivo de preocupações e reivindicações das comunidades tradicionais do município. “Estamos vendo nosso espaço de sociabilidade e comunhão, o Baile do Mercado do Café, ser invadido por multiartistas e produtores de fora do território caiçara”, diz a manifestação enviada pelos grupos à ministra da Cultura, Margareth Menezes, na última quinta-feira (31).

De acordo com os grupos Ilha dos Valadares – Mestre Brasílio; Folclórico Mestre Romão; Associação Casa de Fandango Carijós – Mestre Eugênio; Grupo de Fandango Família Domingues; Grupo Pés de Ouro e Associação de Cultura Popular Mandicuera, o Baile do Mercado do Café sempre foi um local de grande importância para os mestres mais antigos do fandango caiçara da Ilha dos Valadares.

Com o resultado do credenciamento, veio a surpresa: os grupos mais tradicionais, antigos e importantes da Ilha dos Valadares ficaram de fora das apresentações, assim como a nova geração de caiçaras que interrompeu o processo de resgate de sua identidade e cultura para dar espaço a artistas de fora. A decisão deixou mestres e aprendizes perplexos, pois parece que, para as políticas culturais, uma vida de dedicação à preservação das práticas tradicionais não preenche os requisitos do ‘currículo’”, afirma a nota.

Vitória do Fandango

Após a notícia da revogação do credenciamento, o mestre Aorélio Domingues, do Grupo Família Domingues e da Associação de Cultura Popular Mandicuera, destaca que o resultado foi “uma vitória para o Fandango”. “A pressão que fizemos resultou em uma vitória para o Fandango, e isso pode abrir espaço para todos os grupos, inclusive, os de fora, pois cabe todo mundo. O problema foi que grupos tradicionais de Paranaguá ficaram de fora do chamamento”, explica.

A revogação da Chamada Pública nº 012/2023 foi o primeiro passo na direção de corrigir essa situação. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secultur) está agora iniciando a elaboração de um novo edital, com maior investimento e abrangência, que contemplará os fazedores da cultura caiçara, mestres e todos os interessados em ampliar, salvaguardar e manter o Fandango caiçara em seu território.

De acordo com a Secultur, o novo edital contemplará 10 grupos ou associações culturais que desenvolvem seus trabalhos referentes ao Fandango caiçara e sua permanência no território, garantindo subsídio municipal para todos.

A secretária da pasta, Maria Plahtyn Torres, destaca o compromisso da secretaria em apoiar a cultura caiçara e preservar o Fandango. “A Secultur permanece atuante nas ações de salvaguarda como referência nacional do território caiçara, comprometida e atuante no suporte institucional e no aporte de recursos para permanência e preservação do Fandango caiçara, bem registrado e valorizado nesse município com total apoio do poder público”, diz.