Presidente da Câmara de Pontal denuncia tentativa de suborno por parte de Dalmora após tragédia no Super Rede


Por Luiza Rampelotti Publicado 28/05/2024 às 20h24 Atualizado 30/05/2024 às 21h24

Mais de dois meses se passaram desde a tragédia que vitimou três funcionárias (Rayssa Batista Santos, de 18 anos, Camille Vitória de Souza Dias, de 19 anos, e Pryscilla Maris Taschek Farro, de 36 anos) e feriu outras 12 em um desabamento de lajes durante a inauguração do Super Rede Atacadista, no balneário Canoas, em Pontal do Paraná. De lá para cá, três pessoas já foram indiciadas pela Polícia Civil por homicídio culposo e lesão corporal.

Apenas quatro dias após o acidente, a Câmara de Vereadores da cidade criou uma Comissão Processante para analisar a denúncia de um morador contra o prefeito Rudão Gimenes (MDB). O morador acusa o prefeito de crime de responsabilidade por ter participado da cerimônia de inauguração do mercado, um dia antes da tragédia. O prédio foi inaugurado de forma irregular, sem alvará de licença de funcionamento e sem alvará do Corpo de Bombeiros, de acordo com a Polícia Civil.  

A Comissão Processante, aprovada por seis votos a quatro, é composta pelos vereadores Marco Rocha (Solidariedade), Marcelo da Saúde (PSB) e Paulo Parada (PDT). Desde o dia 26 de março, a Comissão tinha até 90 dias para concluir seus trabalhos. No entanto, nesta terça-feira (28), a continuação dos trabalhos foi paralisada, uma vez que ela foi arquivada por sete votos a três.

Três foram indiciados

Por outro lado, a Polícia Civil concluiu seu inquérito em 8 de maio, indiciando três pessoas por três homicídios culposos (sem intenção de matar) e 12 lesões corporais: o proprietário da construtora, Carlos Alberto Leal, o proprietário do supermercado, Eduardo Dalmora, e o responsável pela obra, Wilson Ostapechen. O delegado Jader Roberto Ferreira Filho destacou que houve negligência por parte dos responsáveis pela obra.

A perícia científica apontou “falhas construtivas” no estabelecimento, como a falta de espessura mínima de segurança da laje e a ausência de reforços adicionais. “Verificamos também gambiarras. A que mais chamou atenção foi uma viga que deveria encostar no ponto de apoio de um pilar. Existia ali uma tábua para preencher o espaço vazio que ficou. Entendemos que o erro foi cometido pela construtora com relação à execução. Não foram detectadas falhas nas peças estruturais, mas sim na montagem da estrutura”, disse o perito Luis Noboru Marukawa.

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O proprietário do supermercado, Eduardo Dalmora, ex-prefeito de Matinhos, foi um dos indiciados pela Polícia Civil. Foto: Reprodução/Internet

Tentativa de suborno


A situação, que já era grave, ganhou novos contornos com a denúncia pública do presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Pontal do Paraná, Sinedir da Rosa Cardozo (Novo), conhecido como Sene. Em um vídeo ao vivo transmitido pelo Facebook no dia 20 deste mês, ele denunciou uma suposta tentativa de suborno por parte de Eduardo Dalmora. Segundo ele, o proprietário do supermercado o convidou para uma conversa e fez uma oferta indecorosa para que a denúncia do morador não fosse colocada para votação. “Eu estive lá, sim, mas não pedi nada. Gravei o que o Dalmora ofereceu para eu não pôr nada [para votar]. E eu coloquei sim, uma processante”, afirmou.

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Em um vídeo ao vivo transmitido pelo Facebook no dia 20 deste mês, Sene denunciou uma suposta tentativa de suborno por parte de Eduardo Dalmora. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Visivelmente nervoso e sem poupar palavras de baixo calão, Sene afirmou que Dalmora ofereceu diversos benefícios em troca de seu silêncio. “Ele ofereceu funcionário pra mim, ofereceu cesta básica e ofereceu partido, e eu não peguei nada”, berrou Sene.

Na ocasião, o presidente da Câmara afirmou que estava aguardando o resultado da Comissão Processante para realizar a votação que poderá cassar o prefeito Rudão Gimenes. “Eu tô esperando o presidente da Comissão e o relator, estou apenas esperando, pois eles que decidem, para eu votar. Eu não tenho medo disso”. Contudo, como já citado, a Comissão foi arquivada nesta terça-feira (28).

Apesar da denúncia pública, Sene ainda não formalizou a suposta tentativa de suborno aos órgãos competentes, como o Ministério Público. Contudo, deixou claro que “se precisar levar no Ministério Público, eu levo”. Ele também afirmou que não tem nada a perder, já que retiraria seu nome da disputa para a reeleição na Câmara.

Clima tenso entre o Legislativo e Executivo

Sene alegou que o prefeito Rudão estaria realizando “chantagem” com a informação de que ele teria se reunido com Dalmora após a tragédia. “O prefeito vem fazer chantagem, ele que vá para a p*ta que o pariu. Quem tá comigo tá, quem tá com o Rudão tá com ele”, disse.

Outro motivo para o nervosismo do vereador seria a data de pagamento dos salários dos vereadores e funcionários da Câmara, que é dia 20. Contudo, a Prefeitura realizaria os repasses dos valores apenas às 16h. “Os vereadores e funcionários da Câmara recebem o salário dia 20. A prefeitura manda o repasse para a Câmara Municipal dia 20 às 16h. Daí eles querem harmonia com o presidente? Vá tomar no c* prefeito”, esbravejou Sene.

Além disso, ele falou sobre o pedido de urgência feito pelo Executivo para a votação dos projetos de lei que preveem R$ 25 milhões de investimentos em Pontal do Paraná. “Eles querem colocar R$ 25 milhões de crédito para poder passar, para eu botar votar em emergência? Aí vocês querem me tirar para bobo. Não vai me pressionar para botar para votar. Eu vou botar sim para votar na ordinária. O povo não precisa de asfalto, precisa de emprego, saúde, e educação”, finalizou.

O JB Litoral entrou em contato com Sene e com Eduardo Dalmora, no entanto, não obteve retorno até a conclusão desta reportagem. O espaço segue à disposição dos citados caso haja interesse de manifestação.

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