Primeira deputada federal negra eleita pelo Paraná palestrou na Câmara de Paranaguá sobre a representatividade da mulher negra


Por Luiza Rampelotti Publicado 28/11/2022 às 06h57 Atualizado 17/02/2024 às 22h38

Na sexta-feira (25), a Câmara de Paranaguá recebeu o seminário ‘A Representatividade da Mulher Negra’. O evento foi uma celebração ao Dia da Consciência Negra (20), bem como ao Dia Internacional de Eliminação da Violência contra as Mulheres (25).

Promovido pela Procuradoria Especial da Mulher (PEM) da Câmara, o seminário contou com a presença da deputada federal eleita, Carol Dartora (PT), primeira vereadora negra de Curitiba e primeira deputada federal negra eleita pelo Paraná; Roseli dos Santos Freitas, representante do Conselho Municipal de Promoção e Igualdade Racial de Paranaguá; e Matsuko Mori, presidente do Conselho Municipal de Direitos da Mulher de Paranaguá.

Nice é a primeira assessora parlamentar negra da história da Câmara de Paranaguá. Foto: divulgação

Além das palestras que abordaram a temática da representatividade da mulher negra em espaços de poder, o evento teve a apresentação musical da pequena Toia Joia, de 7 anos, cantora de rap. Outro ponto de destaque foi a fala da primeira mulher assessora parlamentar negra na história da Câmara de Paranaguá, Nice Celestino.

Almejamos que toda diversidade brasileira esteja representada em todos os espaços, instituições, em todas as áreas. Só assim atingiremos a democracia. Presenciamos na política poucas mulheres, poucos indígenas, poucas pessoas com deficiência, poucos negros e negras; lutamos por uma democracia representativa e participativa. A democracia precisa de diversas vozes”, disse Nice.


Racismo estrutural


No decorrer do seminário, Roseli de Freitas também fez um discurso no qual retratou sua realidade como uma mulher negra. Relembrou de situações de racismo já vividas e destacou a importância de mulheres negras estarem envolvidas na política.

As mulheres negras precisam estar nas estruturas políticas, mas há obstáculos que impactam negativamente a competitividade de candidaturas negras, apesar de regras de incentivo. A maioria das candidatas negras estão legendadas, frágeis e com poucos recursos; partidos estão postergando a liberação de recursos para as candidaturas negras, ou se recusando a cumprir a determinação do TSE. Somos menos de 2% no Congresso e menos de 1% na Câmara de Deputados. Isso se dá por questões estruturais da nossa sociedade; o machismo e o racismo”, afirmou.

Matsuko Mori levou dados relativos à violência contra a mulher, além de informações acerca do racismo no Brasil. “O Brasil é a sociedade mais racialmente desigual do mundo, mais racialmente violenta. O número de pessoas assassinadas pela polícia no Brasil, sendo que 77% delas são negras, é maior que o número de vítimas de guerras civis”, informou.

Ela ainda afirmou que o racismo no País é estrutural, porque permeia a economia, política e a subjetividade das pessoas. “Está na estrutura do Estado”, disse.


“Precisamos incluir a população negra nos debates importantes”, disse Carol Dartora


A vereadora e deputada federal eleita Carol Dartora foi a principal palestrante do seminário. Ao JB Litoral, ela falou sobre a importância do evento em Paranaguá.

Fico muito feliz de ver que a cidade está fazendo esse movimento para colocar a pauta da mulher negra, a necessidade de representação e representatividade. A gente precisa avançar, incluir a população negra nos debates importantes. Precisamos de políticas públicas para combater esse racismo e esse machismo que impacta e cria tantas barreiras para a vida das mulheres”, comentou.

Carol, que também é professora, ressaltou que, como mulher preta, durante toda sua trajetória e luta pessoal, a temática do racismo e machismo perpassa sua vida. Desta forma, ela tem colocado essa vivência em suas políticas.

Como deputada federal eleita, com 1.148 votos em Paranaguá, ela afirmou que levará para Brasília tudo o que tem acumulado, ouvido, visto e construído junto das mulheres paranaenses. “Tenho a expectativa de que eu possa retornar isso com um trabalho que honre a votação que o Paraná e Paranaguá me deram”, disse.

No mesmo dia do seminário, Carol também teve agenda no porto de Paranaguá, onde conheceu a realidade dos trabalhadores portuários. “Estive na cidade para uma série de agendas, justamente para dar esse retorno à votação, consolidar esse vínculo. Fiz uma escuta da população parnanguara para saber o que podemos levar para Brasília e transformar em política pública”, finalizou.


Missão da Procuradoria Especial da Mulher


A vereadora Vandecy Dutra (PP), procuradora especial da mulher na Câmara, foi a organizadora do seminário. Ela afirmou que a Procuradoria Especial da Mulher tem a missão de trazer pautas que são ‘problemas’ à tona para a sociedade.

Problemas porque há discriminação, há preconceito, há machismo. Essa representatividade da mulher negra é hoje o que mais nos pega, visto que politicamente temos pouca representação da mulher, e muito menos da mulher negra. Essa é a importância de se ter eventos como esse, em que elas falem, tenham voz, mostrem esse valor, essa potência. É a desconstrução de uma sociedade machista e racista que buscamos fazer. A Câmara é a casa do povo e é aqui que se deve discutir todas essas pautas que precisamos resolver dentro da sociedade”, disse.

A vereadora comentou que em janeiro do ano que vem, assim que Carol Dartora assumir a cadeira na Câmara, ela estará em Brasília para levar as demandas da cidade. “A Carol tem uma pauta social que é a mesma que defendemos na Câmara. Estamos estreitando laços para que as políticas que são formadas lá, recursos, venham também trazer benefícios para Paranaguá. Ela conheceu um pouco da nossa realidade e, assim que ela assumir, vamos estar representando nossa cidade e levando nossas demandas para buscar soluções”, concluiu.