Editorial: Mesmo com tantas outras prioridades, governo anuncia que vem aí mais uma engorda de praia

Está dando o que falar – e não é para menos – o anúncio do governo do Estado de que o próximo investimento no Litoral será mais uma polêmica e, ainda sem certezas de consequências a longo prazo, engorda da faixa de areia. Em que pese o fato de custar caro e ser questionável, ambientalmente falando, a notícia que, depois de Matinhos, é a vez de Guaratuba ter a faixa de areia alargada, em pelo menos três praias, soou no mínimo irônica.

Os questionamentos são muitos. A população quer entender por que projetar a destinação de milhões de reais para alargar a faixa de areia, se nem problemas, em tese, mais fáceis de resolver, porém de grande impacto na vida do Litoral, são resolvidos. Começamos a temporada tão esperada por milhares de trabalhadores que sustentam suas famílias com o faturado durante o verão sem ter como as pessoas irem e virem normalmente; enfrentando riscos e muitas horas na estrada, em um problema que completou míseros três meses neste domingo (15) e segue sem solução, com reparo a passos de tartaruga manca na BR-277.

Isso sem falar nas demandas mais antigas, mas tão importantes e que impactariam, e muito, para populações inteiras, a exemplo da própria Guaratuba, que não vê a hora de ter o sonho de gerações concretizado com a ponte. E o que dizer de Guaraqueçaba, com um incrível potencial turístico, cenários paradisíacos, cultura marcante, mas que segue isolada do mundo com uma estrada intrafegável? O Litoral não precisa apenas ficar bonitinho para os veranistas, a necessidade é de qualidade e dignidade de vida para seus moradores, gente desta terra. É de investimentos pesados em saneamento básico, em infraestrutura para que os turistas sejam de fato bem recebidos, mas porque aqui se vive bem, e não porque queremos ser iguais ou melhores do que A, B ou C. Merecemos que quem venha para conhecer, sinta que o nosso Litoral não é de fachada, e sim de verdade, e por esse motivo queira voltar. Não tem como ficar feliz vendo obras que deveriam estar lá embaixo na fila de prioridades serem anunciadas, enquanto tem gente que pode morrer por causa do isolamento, enquanto não pode chover que alaga tudo e o esgoto começa a jorrar pelos bueiros poluindo e afastando quem pode escolher não ficar.

Merecemos e queremos sim o “embelezamento”, mas depois de termos como garantir a nossa comida no prato, o nosso acesso à saúde e o direito de ir e vir.