Requião fala sobre o Porto de Paranaguá, candidatura aos 81 anos e mais


Por Luiza Rampelotti Publicado 27/09/2022 às 14h05 Atualizado 17/02/2024 às 18h10
Requião esteve no JB Litoral na segunda-feira (19) e falou sobre a candidatura e planos para o Litoral. Foto: Eduardo Matysiak

Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para o Governo do Paraná, com 20%, o ex-governador Roberto Requião (PT) esteve no Litoral, na segunda-feira (19), participando de reuniões com movimentos sociais e concedendo entrevistas à imprensa.

Em Paranaguá, Requião esteve na redação do JB Litoral, onde respondeu a questionamentos sobre sua vida política e sobre os projetos para a região em uma possível vitória nas eleições de 2022. Formado em direito pela Universidade Federal do Paraná, em jornalismo pela Pontífice Universidade Católica do Paraná e em Urbanismo pela Fundação Getúlio Vargas, ele está na vida pública desde 1983, quando assumiu como Deputado Estadual na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP).

Depois, em 1986, Requião foi prefeito de Curitiba; também atuou como secretário do Desenvolvimento Urbano do Paraná em 1989; governador do Estado em 1991; senador da República em 1995; novamente governador em 2003 e reeleito em 2007, quando ficou à frente do Poder Executivo estadual até 2010; em 2011 ele entrou no Senado novamente, onde ficou até 2019.

O candidato afirma que tem um “atrativo especial” pelo Litoral. “Quando fui governador, levei o Litoral em consideração e respeito. Construí o Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá; financiei o Hospital Municipal; fiz a biblioteca na antiga Santa Casa. Eu fiz uma modificação profunda no porto, quando assumi, tinham filas intermináveis de caminhão nas estradas, os caminhões atolavam dentro da cidade, e eu pavimentei com concreto isso tudo. Investi pesadamente e o porto foi modernizado. Acabei com a fila, jogando na internet o agendamento dos caminhões. Também moralizei o porto, nós tínhamos um problema aqui: falsificavam os grãos exportados jogando areia, e em cima da areia colocavam urina de vaca, para garantir o teor proteico no exame de laboratório superficial. E estávamos tendo carga rejeitada no mundo inteiro. Eu coloquei uma fiscalização pesada e fiz com que o porto viesse a servir Paranaguá e o Paraná”, diz.

“Esse negócio de idade avançada é bobagem; não tenho idade avançada”, diz o ex-governador do Paraná e atual candidato ao governo. Foto: Eduardo Matysiak
“Esse negócio de idade avançada é bobagem; não tenho idade avançada”, diz o ex-governador do Paraná e atual candidato ao governo. Foto: Eduardo Matysiak

Litoral depois de Requião


Para Requião, após sua saída do governo, o Litoral ficou “esquecido”. Em sua opinião, desde então, não há mais obras na região. “Parece que o Litoral foi esquecido pelos governos que me sucederam. Vejo o porto transformado num cabide de emprego e o pessoal querendo privatizar tudo”, diz.

Entretanto, uma obra aguardada há décadas e que não saiu do papel durante a gestão de Requião – a engorda da orla de Matinhos –, está sendo realizada na atual administração de Ratinho Júnior (PSD). Questionado sobre isso, o candidato diz que já havia feito um orçamento da engorda no fim de seu governo.

Iria custar R$ 50 milhões; eles fizeram uma projeção para R$ 500 milhões. É extraordinariamente mais caro do que o meu projeto. Camboriú terminou recentemente, por R$ 70 milhões. Mas não é só isso; tem sete empresas trabalhando no engordamento. O engordamento é tirar a areia de alto mar, jogar na praia e ampliar a área de lazer. Por que as sete empresas? É um ‘rachide’? É uma maracutaia, segundo as tradições da corrupção pública brasileira? Eu ganho a eleição e abro inquérito para ver o que está acontecendo. E, no mais, o projeto é extraordinariamente inadequado, tanto que está sendo demolido a cada vez que temos uma lua cheia”, destaca.

Sobre o edital para a construção da ponte de Guaratuba, que irá ser aberto nesta quarta-feira (28), pelo governador Ratinho, Requião afirma que o atual candidato à reeleição, seu principal concorrente, é “um especialista em edital, mas na ponte mesmo não”.

Acho que é um edital igual ao do Álvaro Dias, igual ao do Beto Richa (quando foram governadores). Ratinho foi tirar fotografia na Ponte da Integração Brasil-Paraguai, que é paga pelo Paraná e pelo Paraguai através de Itaipu. É uma coisa absolutamente ridícula. Foi tirar fotografia na Estrada da Boaideira, que é paga por Itaipu. Foi tirar fotografia nas obras rodoviárias de Cascavel, que são pagas por Itaipu. Não há uma obra de significação do governo do Rato. Agora, existe isenção de impostos para grandes empresas, secretamente, no valor de R$ 17 bilhões. Isso é uma vergonha, tem que ser investigado. Quebro esse sigilo no dia da posse!”, afirma.

Polêmica no Porto de Paranaguá


Sobre o Porto de Paranaguá, mais especificamente sobre a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA), o JB Litoral questionou a respeito da condenação de Eduardo Requião, irmão do candidato e que foi nomeado por ele para a superintendência da APPA entre 2003 e 2007. Eduardo foi condenado por ato de improbidade administrativa porque, apesar da legislação federal permitir, os portos paranaenses proibiram, naquela época, embarque de soja transgênica nos terminais.

Além disso, a Justiça do Paraná também determinou que o ex-superintendente devolvesse R$ 26 milhões para a APPA. O órgão entendeu que houve irregularidade em contratos com duas empresas, uma de guindaste e outra de dragagem. Ambas teriam recebido valores incompatíveis com o serviço prestado, que foi considerado insuficiente ou incompleto. A Justiça também encontrou divergência entre o saldo do extrato bancário da APPA em 31/12/2004 e o apresentado no balancete da Autoridade Portuária.

Sobre as decisões, Roberto Requião afirma que a polêmica que envolveu o Porto de Paranaguá e Eduardo, na ocasião, aconteceu porque a Assembleia Legislativa do Paraná votou pela proibição de misturar transgênico com soja natural, porque o Brasil estaria perdendo comércio no mundo. “Eu cumpri isso e o Eduardo também. Então eles o condenaram por ter cumprido a lei, por ter impedido que o porto se transformasse num instrumento de uma quadrilha que adulterava a soja com areia, colocava urina em cima e era rejeitada em portos do mundo todo. O Eduardo fez o que o governo mandou fazer, o que ele tinha que fazer. Mas existe essa visão da empresa privada ficar dona do porto, e nós queríamos que o porto fosse do Paraná e de Paranaguá”, comenta.

Luta pelo porto público


Para os tempos atuais, o candidato afirma estar lutando em oposição a um processo de privatização que está sendo iniciado pelo Governo Federal contra o Porto de Paranaguá. “Agora eles estão querendo vender o canal de acesso ao porto, o Canal da Galheta. Eles querem vender o Porto de Paranaguá, e daqui a pouco um grupo de chineses ou de europeus tomam conta do porto e Paranaguá não vai nem entender o que eles falam, porque não falam a nossa língua”, diz.

Ele destaca que sua proposta é a de um porto público, responsável pela entrada de mercadoria de qualquer país. “Um porto múltiplo não pode ser apenas graneleiro e eu o transformei em um, porque nós precisamos ver a nossa indústria, que dá empregos e salários bons ao povo, se desenvolver. E nós estamos lutando por isso. Os Estados Unidos, por exemplo, não têm porto privado e é o país do capitalismo. Agora, aqui, esses imbecis querem ganhar uma comissão em cima de tudo, é uma vergonha. A minha luta é pelo porto público, um porto parnanguara e paranaense, ajudando o desenvolvimento do Estado e do Brasil, não na mão de especuladores internacionais”, afirma.

Não tenho idade avançada”, diz Requião


Apesar da idade avançada, 81 anos, Requião não se reconhece como tal. “Esse negócio de idade avançada é bobagem; não tenho idade avançada. Eu provavelmente tenho mais uns 30 anos de vida útil, depois eu vou me aposentar”, brinca.

Questionado sobre o motivo de enfrentar o desafio de uma campanha política em um ano eleitoral marcado pela polarização, enquanto poderia estar descansando ao lado da família, ele é firme ao responder o motivo. “Porque a vida não deve servir para objetivos pessoais”, diz.

Segundo ele, o sujeito que dedica a vida para ficar rico, pode ser enterrado na avenida principal do cemitério, mas não deixa nada para o futuro, para os netos, para a população e para os contemporâneos. Não deixa melhoria na organização social, justiça e decência. “Eu voltei para o Brasil porque fiquei escandalizado com o que acontece com essa história de valorização absoluta do capital financeiro; com essa degradação dos direitos dos trabalhadores; o fim da aposentadoria dos trabalhadores, uma perseguição sistemática às empresas nacionais, principalmente às pequenas e médias, que são responsáveis por 80% dos empregos em Paranaguá e em qualquer lugar. E esta complacência com a entrega do país às multinacionais. Entregam o petróleo, entregam a água, entregam a dignidade dos trabalhadores, querem um trabalhador sempre escravizado, e o Paraná está rigorosamente sem governo”, comenta.

Para Requião, “não há governo no Paraná” e, por isso, conta que se colocou como candidato para “preencher o vazio”. “Eles só pensam em negócios, não há um governo preocupado com as pessoas, um governo que tenha solidariedade e que tenha identidade com elas”, avalia.