Ansiedade e depressão infanto-juvenil: conheça o tema que virou Projeto de Lei na Câmara de Paranaguá
Com a chegada do Setembro Amarelo, inúmeras oficinas, palestras e rodas de conversa com profissionais da saúde são fomentadas em todo o Brasil, com intuito de dar visibilidade às questões relacionadas à saúde mental e à prevenção ao suicídio.
Em Paranaguá, o Projeto de Lei nº 6.232 voltou o tema para crianças e adolescentes. O PL, aprovado na última semana na Câmara dos Vereadores, estabelece a criação da Semana de Conscientização sobre a Depressão e Ansiedade na Infância e na Adolescência em todas as escolas do município.
De acordo com o propositor, o vereador Manoel Aleixo da Silva (Pode), a ideia é dar visibilidade aos transtornos mentais por meio de seminários, palestras, oficinas, e outras formas de conscientização encabeçadas por profissionais da educação e da saúde. Ele explica que, ao participar de palestras do projeto Connection School, que leva mensagens motivacionais para escolas do Litoral, percebeu muitos jovens com quadros graves de ansiedade e depressão.
“Nós conversamos com muitas crianças e adolescentes da região e vários deles nos contaram que queriam tirar a própria vida”, afirma Aleixo. “São jovens que sentem que não têm perspectiva de futuro, alguns até se mutilam. Foi com essa preocupação que resolvemos criar a campanha nas escolas”, explica o parlamentar.
Agora, o PL aguarda ser sancionado ou descartado pelo prefeito Marcelo Roque (PSD).
Ansiedade e depressão na infância
De acordo com o estudo “Situação atual de saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil”, publicado em janeiro de 2023, de 10 a 12% da população infantil sofre de algum problema de saúde mental, sendo os mais comuns transtornos de ansiedade, problemas de comportamento e depressão.
Para saber mais sobre a incidência dessas patologias, o JB Litoral conversou com a psicóloga clínica, mestre em Educação e especialista em Psicologia Infantil, Mariana Franzoloso.
Mariana explica que a prevalência dos transtornos aumenta com a idade: em torno de 10% são identificados na fase pré-escolar, enquanto na adolescência esse número sobe para 16%. Os quadros de depressão são mais frequentes em meninas, que representam 23% das afetadas, já os casos de ansiedade patológica atingem, ao todo, cerca de 30% do público infanto-juvenil.
“As pesquisas apontam que esses transtornos, juntos, representam 17% da população infanto-juvenil. Embora a maior incidência ocorra entre os 14 e 16 anos de idade, o diagnóstico para ansiedade e depressão em crianças de 6 a 12 anos tem sido cada vez mais comum”, afirma.
Fatores de risco
Segundo a psicóloga, alguns fatores podem favorecer o surgimento desses transtornos, como abuso de álcool e drogas dos genitores; conflitos familiares, em que as tensões e a rigidez das relações acabam criando barreiras na comunicação e no relacionamento entre pais e filho; abuso e violência física, mental ou sexual.
“Além desses cenários, há também a dificuldade de adaptação à escola, conhecida como ‘ansiedade de separação’, rotina com excesso de atividades extracurriculares, superexposição às telas, e a exposição ao bullying, muito frequente na adolescência e associado a sintomas como ansiedade, isolamento, estresse pós-traumático e pensamentos suicidas”, destaca.
Principais sintomas
Nos quadros de depressão em crianças e adolescentes, a psicóloga explica que os sintomas mais comuns são baixa autoestima, sono irregular, desinteresse por atividades rotineiras ou brincadeiras, choro frequente, dificuldade de concentração, introversão e queixas recorrentes de dores físicas.
Já a ansiedade, é caracterizada pelo medo excessivo, dependência extrema dos pais, impaciência, dificuldade para controlar os impulsos, distúrbios do sono, diurese noturna (urinar na cama), mudança brusca de hábito alimentar, preocupação excessiva e pessimismo, que pode fazer as crianças evitarem atividades que acham estressantes ou difíceis.
“É importante salientar que esses sintomas não aparecem isolados. Para ser caracterizado como um transtorno, eles devem ser observados por mais de duas semanas consecutivas e causarem prejuízo funcional ou social”, salienta a especialista.
Importância do acompanhamento
Se não forem corretamente tratados, com o passar do tempo, os transtornos podem levar à diminuição do rendimento no aprendizado, à evasão escolar, ao uso de drogas e à mutilação. Em última instância, ao suicídio. Por isso, a psicóloga alerta: o primeiro passo é reconhecer os sintomas e levar a criança ou adolescente para uma avaliação psicológica.
“A psicoterapia é o tratamento mais indicado nesses casos. Porém, também há casos em que é necessário fazer o encaminhamento ao psiquiatra infantil para uso de medicação psicotrópica”, diz. “Por isso, é importante que pais e professores, que convivem diariamente com eles, estejam atentos aos sintomas. O diagnóstico precoce é essencial para evitar consequências graves”, conclui Mariana.