Ansiedade e depressão infanto-juvenil: conheça o tema que virou Projeto de Lei na Câmara de Paranaguá


Por Amanda Batista Publicado 14/09/2023 às 09h48 Atualizado 18/02/2024 às 23h23
Projeto foi aprovado na última semana na Câmara de Paranaguá e aguarda ser sancionado ou descartado pelo prefeito. Foto: Rafael Pinheiro/ JB Litoral.

Com a chegada do Setembro Amarelo, inúmeras oficinas, palestras e rodas de conversa com profissionais da saúde são fomentadas em todo o Brasil, com intuito de dar visibilidade às questões relacionadas à saúde mental e à prevenção ao suicídio.

Em Paranaguá, o Projeto de Lei nº 6.232 voltou o tema para crianças e adolescentes. O PL, aprovado na última semana na Câmara dos Vereadores, estabelece a criação da Semana de Conscientização sobre a Depressão e Ansiedade na Infância e na Adolescência em todas as escolas do município.

De acordo com o propositor, o vereador Manoel Aleixo da Silva (Pode), a ideia é dar visibilidade aos transtornos mentais por meio de seminários, palestras, oficinas, e outras formas de conscientização encabeçadas por profissionais da educação e da saúde. Ele explica que, ao participar de palestras do projeto Connection School, que leva mensagens motivacionais para escolas do Litoral, percebeu muitos jovens com quadros graves de ansiedade e depressão.

Nós conversamos com muitas crianças e adolescentes da região e vários deles nos contaram que queriam tirar a própria vida”, afirma Aleixo. “São jovens que sentem que não têm perspectiva de futuro, alguns até se mutilam. Foi com essa preocupação que resolvemos criar a campanha nas escolas”, explica o parlamentar.

Agora, o PL aguarda ser sancionado ou descartado pelo prefeito Marcelo Roque (PSD).

Ansiedade e depressão na infância

Mariana Franzoloso é psicóloga clínica, mestre em Educação e especialista em Psicologia Infantil. Foto: Arquivo pessoal.

De acordo com o estudo “Situação atual de saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil”, publicado em janeiro de 2023, de 10 a 12% da população infantil sofre de algum problema de saúde mental, sendo os mais comuns transtornos de ansiedade, problemas de comportamento e depressão.

Para saber mais sobre a incidência dessas patologias, o JB Litoral conversou com a psicóloga clínica, mestre em Educação e especialista em Psicologia Infantil, Mariana Franzoloso.

Mariana explica que a prevalência dos transtornos aumenta com a idade: em torno de 10% são identificados na fase pré-escolar, enquanto na adolescência esse número sobe para 16%. Os quadros de depressão são mais frequentes em meninas, que representam 23% das afetadas, já os casos de ansiedade patológica atingem, ao todo, cerca de 30% do público infanto-juvenil.

As pesquisas apontam que esses transtornos, juntos, representam 17% da população infanto-juvenil. Embora a maior incidência ocorra entre os 14 e 16 anos de idade, o diagnóstico para ansiedade e depressão em crianças de 6 a 12 anos tem sido cada vez mais comum”, afirma.

Fatores de risco

Segundo a psicóloga, alguns fatores podem favorecer o surgimento desses transtornos, como abuso de álcool e drogas dos genitores; conflitos familiares, em que as tensões e a rigidez das relações acabam criando barreiras na comunicação e no relacionamento entre pais e filho; abuso e violência física, mental ou sexual.

Além desses cenários, há também a dificuldade de adaptação à escola, conhecida como ‘ansiedade de separação’, rotina com excesso de atividades extracurriculares, superexposição às telas, e a exposição ao bullying, muito frequente na adolescência e associado a sintomas como ansiedade, isolamento, estresse pós-traumático e pensamentos suicidas”, destaca.

Principais sintomas

Nos quadros de depressão em crianças e adolescentes, a psicóloga explica que os sintomas mais comuns são baixa autoestima, sono irregular, desinteresse por atividades rotineiras ou brincadeiras, choro frequente, dificuldade de concentração, introversão e queixas recorrentes de dores físicas.

Já a ansiedade, é caracterizada pelo medo excessivo, dependência extrema dos pais, impaciência, dificuldade para controlar os impulsos, distúrbios do sono, diurese noturna (urinar na cama), mudança brusca de hábito alimentar, preocupação excessiva e pessimismo, que pode fazer as crianças evitarem atividades que acham estressantes ou difíceis.

É importante salientar que esses sintomas não aparecem isolados. Para ser caracterizado como um transtorno, eles devem ser observados por mais de duas semanas consecutivas e causarem prejuízo funcional ou social”, salienta a especialista.

Importância do acompanhamento

Se não forem corretamente tratados, com o passar do tempo, os transtornos podem levar à diminuição do rendimento no aprendizado, à evasão escolar, ao uso de drogas e à mutilação. Em última instância, ao suicídio. Por isso, a psicóloga alerta: o primeiro passo é reconhecer os sintomas e levar a criança ou adolescente para uma avaliação psicológica.

A psicoterapia é o tratamento mais indicado nesses casos. Porém, também há casos em que é necessário fazer o encaminhamento ao psiquiatra infantil para uso de medicação psicotrópica”, diz. “Por isso, é importante que pais e professores, que convivem diariamente com eles, estejam atentos aos sintomas. O diagnóstico precoce é essencial para evitar consequências graves”, conclui Mariana.