Indígenas do litoral comemoram Dia do Índio com 100% da população vacinada


Por Redação Publicado 19/04/2021 às 12h52 Atualizado 15/02/2024 às 23h51

Por Brayan Valêncio

Comemorado anualmente no dia 19 de abril, o Dia do Índio de 2021 tem um motivo a mais para ser celebrado: 100% da população litorânea já foi vacinada contra o novo coronavírus. Os dados divulgados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) são importantes para garantir a cultura e história dos povos nativos, já que até o dia 17 de abril a plataforma “Covid-19 e os Povos Indígenas” registrou 1039 mortos, 52.494 casos confirmados e 163 povos afetados pela pandemia em todo o território nacional.

Só no litoral sul do país foram computadas 19 mortes devido à infecção da Covid, mas a confirmação da vacinação da totalidade dos indígenas alivia as famílias das sete tribos localizadas em Morretes, Guaraqueçaba, Paranaguá e Pontal do Paraná. Cada tribo conta com população variando entre 10 e 20 famílias e a etnia predominante é o Guarani Mbya, segundo a Funai.

Além dos cuidados e preservação, realizados pelo instituto governamental, as comunidades podem contar com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), responsável por vacinar os 10.816 índios paranaenses em idade adulta e garantir a saúde dos povos locais. Os trabalhos de vacinação das comunidades começaram em janeiro e seguem em regiões mais afastadas no oeste do estado.

A indígena Juliana Kerexu, da etnia Mbya-Guarani, conta que a vacinação foi um sucesso, mas que o começo não foi fácil devido às informações inverídicas que assustou a população de sua aldeia. Pensando em voltar a vida à normalidade, Juliana afirma ter sido um período duro. “[Passamos pela pandemia] com muitas dificuldades. As famílias conseguiram se manter com a venda do artesanato produzido, mas ainda está sendo difícil”, explica a indígena que afirma, também, que a comunidade está se mantendo devido às doações de instituições governamentais e organizações voluntárias.


A indígena Juliana Kerexu pede que todas as pessoas tenham empatia e consciência além do Dia do Índio / Crédito: Arquivo Pessoal
 

Sobre o dia do Indígena, Juliana vê como essencial manter a cultura, já que na própria aldeia eles só falam Guarani e lá se preserva as comidas típicas, a espiritualidade, danças, cantos e rezas. “É muito importante [aproveitar o Dia do Índio] para que as pessoas conheçam e saibam sobre a cultura dos indígenas. Porque existem e resistem vários povos originários nesse país. Cada um com sua língua e riquezas. O dia 19 de abril não é uma comemoração, mas sim uma reflexão de fortalecimento, porque a luta dos povos indígenas deste país é muito difícil e cada dia é uma luta. Estamos firmes em defesa da vida, dos ecossistemas e dos biomas. A natureza pede socorro e os povos indígenas também, afinal, nós somos a natureza”, ressalta Juliana Kerexu.

Histórico de preservação

O Dia do Índio no Brasil foi uma conquista histórica há 78 anos, quando, em plena ditadura, Getúlio Vargas aceitou as reivindicações iniciadas no Congresso Indigenista Interamericano de 1940. Após boicotes das lideranças dos povos nativos, pressão internacional e com a fundação do Instituto Indigenista Interamericano, Vargas enfim sancionou o decreto nº 5540 de 1943 que define o dia 19 de abril como data de reflexão sobre os valores culturais dos povos indígenas e a importância da preservação e respeito a esses valores.

24 anos depois, na gestão do General Costa e Silva, na ditadura militar, foi fundada a Funai, órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública que tem por objetivo proteger e promover os direitos dos povos indígenas, além de identificar, delimitar, demarcar, regularizar e registrar as terras dessas populações. A fundação busca, ainda, promover alternativas para o desenvolvimento sustentável e a redução de impactos ambientais causados por situações externas. Além disso, promove e fiscaliza direitos básicos, como o acesso à educação especializada, infraestrutura e o acompanhamento das necessidades locais.

Entre as diversas atividades de auxílio e proteção no estado, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) se destaca por promover ações como a criação de abelhas sem ferrão, já que as abelhas são consideradas sagradas pelos Guaranis, além de serem responsáveis pela cera utilizada na fabricação de velas dos rituais próprios das culturas regionais.