Morretes reduz atendimentos eletivos e amplia Ala Covid-19


Por Cleverson Teixeira Publicado 23/03/2021 às 18h42 Atualizado 15/02/2024 às 21h18
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A Covid-19 não escolhe cidade, muito menos vítimas. Desde o início da pandemia, que começou em março de 2020, o litoral do Paraná passou a registrar números expressivos de casos do novo coronavírus. De lá para cá, já são mais de 20 mil pessoas infectadas na região, com um saldo de, aproximadamente, 500 mortos.

Diante disso, para tentar frear e conscientizar a população, profissionais da saúde começaram a expor a realidade dos hospitais, a qual é composta por lotação de leitos, falta de medicamentos, profissionais esgotados, além da escassez de mão de obra.

Hospital abrirá mais quatro leitos para atender a demanda. Foto: Venilton Küchler/SESA

Esse cenário, que era comum nas grandes metrópoles, também passou a fazer parte do dia a dia das pequenas cidades. Em Morretes, por exemplo, os atendimentos voltados a outras doenças serão diminuídos e concentrados nas demais unidades, já que a demanda de pacientes infectados pelo vírus cresceu nos últimos meses. O pequeno município, de 16,4 mil habitantes, soma pouco mais de 1.400 casos de Covid-19, com óbitos passando dos 30.

“Nós temos baixa no nosso quadro de funcionários e, por esse motivo, vamos precisar tomar uma atitude, que é reduzir os atendimentos eletivos. Tentaremos centralizar no Núcleo de Atendimento Central, nas unidades da Vila das Palmeiras e Porto de Cima. Então, a ideia é manter esses três postos ativos, para que as pessoas, que têm doenças crônicas ou algum problema emergencial, possam ir até esses três postos de saúde, caso não tenham problema com Covid. Isso tudo porque precisamos dos profissionais dos outros postos de Saúde para fortalecer o trabalho no Hospital”, disse o secretário municipal de Saúde, Vinicius Juliano Uyemura, por meio das redes sociais.

Além disso, o secretário enalteceu o trabalho dos profissionais de linha de frente e aproveitou para mencionar a questão da saúde dessas pessoas envolvidas no combate à infecção viral dentro dos hospitais. Conforme ele, somente quem vivencia de perto a rotina interna das enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), sabe o quanto é difícil a situação que se instaurou por conta da pandemia.

“A nossa equipe está bem preparada, mas todos os profissionais de saúde também estão cansados e exaustos, não podemos deixar de falar sobre isso. Faz um ano que eles estão em linha de frente. Quero dar os parabéns para a nossa equipe de saúde e a todos que estão envolvidos e engajados dentro desse processo. A gente sabe que não é fácil. As pessoas que estão de fora não imaginam a dificuldade que é para estar aqui promovendo saúde e preservando vidas”, afirmou.

Processo de tratamento e custos

O diretor do Hospital Municipal de Morretes, Manoel Medeiros Machado, também expôs a atual situação enfrentada pela unidade médica. Ele traçou um panorama, no dia 18 de março, do que vem ocorrendo com a saúde pública da localidade. “Não podemos alarmar a população, mas também não podemos deixar de citar a realidade que vem acontecendo, não só no nosso município, como em todo o país. Hoje temos sete leitos na ala Covid e mais os cadeirões para observação. De internos, tem dois pacientes entubados que estão na nossa semi-intensiva, e um outro caso que inspira cuidados”, destacou.

Sobre o processo de tratamento dos internos mais graves, Machado explicou que essa fase de cuidados não se resume somente ao trabalho dos médicos, ou seja, toda uma equipe precisa ser mobilizada para manter a vida dessas pessoas. “Não é simplesmente entubar o paciente. Nós precisamos fazer um acompanhamento, que é característico da Unidade de Terapia Intensiva. Portanto, necessitamos de fisioterapeuta e um nutricionista. E nós não demandamos desse quadro 24 horas por dia para lidar com esse tipo de paciente”, contou.

Já com relação aos custos, cada pessoa entubada utiliza, em uma única medicação, mais de 20 ampolas de remédio por dia. Cada um desses fármacos custa cerca de R$ 80. “Usamos uma média de 25 ampolas por dia, que custa R$ 80 cada uma. Em apenas uma dessas medicações, gasta-se R$ 2 mil por paciente. É um custo absurdo”, disse.

Transferência e criação de leitos

Sobre a transferência de pessoas com um quadro mais grave da doença para outras regiões, Machado afirmou que não é uma tarefa fácil. Segundo o profissional, o departamento de Saúde da cidade tem trabalhado de acordo com aquilo que está ao seu alcance. “Nós não conseguimos referenciar esses pacientes, que demandam uma UTI, para nenhum hospital. Não existe vaga para acolher essas pessoas que necessitam de UTI e de um tratamento mais elaborado. A prefeitura tem dado toda a chancela, o secretário de Saúde também, para proporcionarmos aquilo que temos de melhor para os munícipes de Morretes”, complementou.

Por conta disso, ainda de acordo com o diretor, o Hospital Doutor Alcídio Bortolin abrirá quatro novos leitos para tentar abrigar os moradores infectados. Ele também afirmou que o pronto-atendimento da unidade não será fechado, como circulou pela internet. “Nós revitalizamos a ala antiga do hospital. Hoje, por exemplo, estamos aumentando para mais duas enfermarias, ou seja, serão mais quatro leitos, para que nós possamos, pelo menos, acolher as pessoas e darmos o primeiro atendimento a elas. Teremos onze leitos-cama para Covid e cadeiras para observação. E, a outra ala do hospital, continua no pronto-atendimento, que não vai fechar. Essa informação não procede”, salientou.

Respiradores e medicamentos

A respeito de novos respiradores, a direção do hospital informou que não há previsão de chegada ou de compra do equipamento, já que o Brasil enfrenta uma grande crise sanitária. “O prefeito, secretários e diretores têm feito contatos com parlamentares e Secretaria de Estado da Saúde. Infelizmente, neste momento, não temos a perspectiva de receber respiradores. Hoje, a situação ficou de um jeito tão crítico, que mesmo tendo recurso na mão, não conseguimos disponibilidade de determinados equipamentos e insumos, no mercado, para comprar. A situação, realmente, é muito crítica”, pontuou.

Hospital de Campanha

Muitos questionamentos são feitos à prefeitura com relação à criação de um novo hospital de campanha. Sobre essa questão, o responsável por comandar a unidade hospitalar do município explicou que não é possível essa instalação. “Não tem como fazer mais um hospital de campanha por um simples motivo: não adianta a gente criar um hospital gigante se não temos recurso disponível para manter uma equipe trabalhando. Hoje, nós temos um orçamento estrangulado por conta da nossa ala Covid, que tem um gasto muito grande e que consome boa parte da receita da Secretaria Estadual de Saúde”, relatou.

Orientação

O órgão de saúde fez um apelo aos moradores da região, para que cumpram as regras determinadas, tanto pelo decreto municipal quanto estadual. Outro ponto, destacado pelos profissionais dessa área, é a notificação de que possui a doença. “A nossa orientação é que as pessoas se conscientizem cada vez mais. Estamos tendo um problema grande, porque nos últimos vinte e cinco dias, teve um aumento exponencial da transmissão.  O que a gente pede, com bastante apelo a todos, é que as pessoas respeitem as medidas sanitárias, se cuidem bastante em casa. Pelos números, percebemos que o contágio está acontecendo dentro das famílias. O que me deixa triste são pessoas irresponsáveis que estão sendo contaminadas e não estão entrando em contato com a Secretaria de Saúde. Se fizerem exames em outra cidade, notifiquem a Secretaria. Nós precisamos dos dados, dos números, isso é muito importante”, concluiu.