Maio Amarelo em Paranaguá: 3,5 acidentes por dia, tragédias evitáveis e a luta por segurança no trânsito

No ano passado, houve 1.287 ocorrências de trânsito, o que equivale a uma média de 3,5 acidentes por dia


Por Luiza Rampelotti Publicado 22/05/2024 às 15h10

Em maio, a Superintendência de Trânsito da GCM tem promovido blitz educativas nas vias da cidade. Foto: Prefeitura de Paranaguá
Em maio, a Superintendência de Trânsito da GCM tem promovido blitz educativas nas vias da cidade. Foto: Prefeitura de Paranaguá

O mês de maio se veste de amarelo em todo o mundo, para lembrar da importância da segurança no trânsito. Uma cor que, ao mesmo tempo simboliza atenção e sinalização, também reflete a dor de milhares de famílias que perderam entes queridos em acidentes.

O Movimento Maio Amarelo propõe chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito. Com ações coordenadas entre o Poder Público e a sociedade civil, o objetivo é colocar em pauta a segurança viária, mobilizando diversos segmentos como órgãos de governo, empresas, entidades de classe, associações, federações e a sociedade civil organizada para discutir, engajar-se em ações e disseminar conhecimento sobre a amplitude da questão do trânsito.

Em Paranaguá, a campanha Maio Amarelo, promovida pela Superintendência Municipal de Trânsito (SUMTRAN) da Guarda Civil Municipal (GCM), busca conscientizar a população sobre essa realidade e, com ações educativas, reduzir o número de vítimas nas ruas da cidade.

Os dados de 2023 em Paranaguá são alarmantes: houve 1.287 ocorrências de trânsito, o que equivale a uma média de 3,5 acidentes por dia, com um total de 2.830 pessoas e 2.431 veículos envolvidos. A cada número, uma história, um impacto.

As estatísticas são geradas semestralmente e, no próximo mês, a população terá acesso às ocorrências registradas nos primeiros seis meses de 2024. Contudo, a necessidade de agir é urgente.


Blitz educativas e a busca por mudança de comportamento

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A superintendente Renata Lopes de Farias destaca que as principais causas de acidentes em Paranaguá são o uso indevido do celular ao volante, a falta de cinto de segurança e a imprudência dos condutores. Foto: Arquivo pessoal/Marineia Leite

Em busca de uma mudança de comportamento, a Superintendência Municipal de Trânsito (SUMTRAN) da Guarda Civil Municipal (GCM) intensifica as ações educativas durante todo o mês, com blitz em diferentes pontos da cidade. A próxima acontece na sexta-feira (24), no Aeroparque.

A superintendente Renata Lopes Farias destaca que as principais causas de acidentes em Paranaguá são o uso indevido do celular ao volante, a falta de cinto de segurança e a imprudência dos condutores. “As campanhas servem para orientar a população a desenvolver hábitos e atitudes no trânsito, seguindo sempre as leis e sinalizações vigentes”, afirma.

Para Renata, a participação da população na campanha é essencial para disseminar conhecimento. “A comunidade pode contribuir ativamente no Maio Amarelo, atuando como agente multiplicador e espalhando as informações fornecidas pela Superintendência Municipal de Trânsito. Temos alcançado resultados positivos graças ao intenso trabalho de educação para o trânsito, que inclui palestras, campanhas educativas e o projeto ‘Trânsito na Escola’. Além disso, utilizamos todos os mecanismos disponíveis, o que tem resultado na diminuição dos acidentes”, afirma.


Uma tragédia que grita por justiça


Mas a cor do Maio Amarelo também se mistura ao cinza da dor em Paranaguá. No último dia 24 de abril, a enfermeira Marineia Leite, de 42 anos, foi vítima de um acidente que mudou sua vida para sempre.

Era por volta das 13h10 quando a mulher seguia de motocicleta para realizar coletas e foi atingida por um Ford Fiesta preto, no cruzamento da Rua Eribaldo Veloso da Conceição com a Rua Anibela Mantovani, no bairro Porto Seguro. O impacto do acidente foi violento e causou a imediata amputação de seu membro inferior direito. O motorista fugiu sem prestar socorro.

Entrei na rua à esquerda quando o carro surgiu de repente dos fundos da Escola Porto Seguro. Meu pé direito ficou preso na roda do carro, tive que amputar. Capotei, caí no chão e ele fugiu“, relata Marineia ao JB Litoral.

O acidente foi gravado por câmeras e várias testemunhas viram o ocorrido. Com as filmagens, a enfermeira descobriu o proprietário do veículo, que alegou ter vendido o carro e repassou o contato do comprador. No entanto, apesar de ter sido localizado, ele ainda não se manifestou e nem ofereceu qualquer tipo de ajuda.

No dia 24 de abril, a enfermeira Marineia Leite foi atingida por um carro que atravessou o cruzamento entre vias no Porto Seguro; o motorista fugiu sem prestar socorro.
No dia 24 de abril, a enfermeira Marineia Leite foi atingida por um carro que atravessou o cruzamento entre vias no Porto Seguro; o motorista fugiu sem prestar socorro.

Testemunhas viram o acidente


Uma das testemunhas é um morador da região, que havia acabado de sair de casa para levar o filho à escola. Ele, que conversou com o JB Litoral, mas preferiu não ser identificado na reportagem, também foi o primeiro a prestar socorro à Marineia.

O rapaz conta que o motorista, que aparentava ter entre 25 e 30 anos, avançou o cruzamento em alta velocidade, atingindo a motocicleta da enfermeira. “A frente do carro pegou a lateral da motocicleta, onde estava o pé dela. Pedi para ele parar, mas ele não parou e ainda desdenhou da situação. Quando vi que o pé dela havia sido amputado na hora, prestei os primeiros atendimentos, mantive ela na postura, acalmei ela que estava bem nervosa, e pedi para chamarem o SAMU“, relata.

Por conta do impacto, ela teve o pé amputado na hora. Marineia busca justiça, ela ingressará com ação judicial para responsabilizar o proprietário do veículo. Foto: Arquivo pessoal/Marineia Leite
Por conta do impacto, ela teve o pé amputado na hora. Marineia busca justiça, ela ingressará com ação judicial para responsabilizar o proprietário do veículo. Foto: Arquivo pessoal/Marineia Leite

Marineia foi encaminhada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ao Hospital Regional do Litoral, onde permaneceu internada por três dias, mas, segundo ela, precisou continuar o tratamento em um hospital particular devido à insuficiência do atendimento inicial. “Já não tenho mais dinheiro para continuar meu tratamento. Meu filho está me ajudando, mas os gastos são altos com exames, consultas, medicamentos“, lamenta.


Responsabilização


A enfermeira relata que ainda não teve tempo para seguir com os trâmites legais relacionados ao acidente, pois está priorizando sua recuperação. “No entanto, pretendo entrar com uma ação, contratar um advogado e lutar pelos meus direitos. Vou cobrar judicialmente do proprietário do carro, mesmo que não tenha sido ele quem estava dirigindo, pois ele deve responsabilizar a pessoa para a qual vendeu o veículo”, afirma.

Apesar de Marineia não possuir carteira de habilitação para pilotar motocicleta, o sargento Claudinei Tomás, do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) do Paraná, esclarece que o motorista do Fiesta é o único responsável pelo acidente. “Ela não deveria estar conduzindo sem carteira, mas se ela estava na faixa dela e alguém invadiu essa faixa, então o sinistro ocorreu por causa disso. Além disso, dirigir sem habilitação é uma infração, só é um crime quando gera perigo de dano“, explica o sargento ao JB Litoral.

Ele também informa que, devido à gravidade da lesão, a mulher poderá receber uma indenização de R$ 3.500 pelo seguro obrigatório DPVAT. Além disso, ela pode ingressar com uma ação judicial contra o condutor por omissão de socorro, lesão corporal grave, entre outras acusações.

A enfermeira, apesar de tudo, se mostra forte e determinada. “Sempre fui uma mulher guerreira, sempre trabalhei e, de repente, estou na cama, inválida. Mas tenho que continuar o tratamento, porque minha vida continua“, conclui Marineia Leite.

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