Quando moradores de Paranaguá derrotaram a Marinha Britânica: a batalha épica na Ilha do Mel


Por Luiza Rampelotti Publicado 30/10/2023 às 13h08 Atualizado 19/02/2024 às 03h26

No ano de 1850, o Brasil viveu um capítulo importante de sua história, com um evento que desafiou todas as probabilidades e mostrou a determinação de seu povo em defesa de sua soberania. O episódio em questão ocorreu nas águas de Paranaguá, na Ilha do Mel, quando soldados e moradores locais enfrentaram a Marinha Britânica em uma batalha que entrou para a história.

Em busca de desvendar os detalhes desse confronto, o JB Litoral conversou com o doutor em História, o professor da Unespar, Joacir Navarro Borges. Ele compartilhou seu conhecimento sobre os acontecimentos que culminaram na Batalha da Ilha do Mel.

De acordo com o professor, a disputa envolveu dois navios britânicos, o HMS Cormorant e o HMS Rifleman, que enfrentaram a resistência da histórica Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres. Os britânicos não economizaram esforços, disparando bombas de calibre 80 e balas de 36 contra o robusto forte, em uma tentativa de intimidar as forças brasileiras.

No entanto, a fortaleza se manteve firme e continuou a revidar com determinação, apesar de estar em desvantagem numérica. A batalha se desenrolou até que os navios britânicos, desgastados e derrotados, começaram a se retirar, deixando para trás um HMS Cormorant danificado e dois marinheiros ingleses sem vida. Do lado brasileiro, os danos físicos foram mínimos, com apenas alguns feridos leves relatados.

O que motivou a batalha

Contudo, embora a batalha tenha se dado em busca da defesa pela soberania brasileira, o contexto é complexo. Segundo o professor Joacir Navarro, o confronto entre a Marinha Britânica e a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres estava intrinsecamente ligado à questão do tráfico de escravos que afligia o Brasil naquela época.

A Inglaterra estava pressionando o Império do Brasil desde o início do século 19 para encerrar o tráfico negreiro. Em 1831, o governo brasileiro aprovou a ‘Lei Feijó’, que proclamava a liberdade para todos os escravos vindos de fora do Império e impunha sanções aos importadores. No entanto, essa lei acabou sendo apenas “para inglês ver”, sem impacto prático, já que o tráfico de escravos continuou a prosperar nos anos seguintes.

O incidente na Ilha do Mel precipitou a aprovação da “Lei Eusébio de Queirós” pouco tempo depois, que proibiu definitivamente o tráfico negreiro com a África. Foto: Aivan Gomes

Diante das artimanhas brasileiras para driblar as pressões britânicas, a Inglaterra promulgou, em 1845, o “Bill Aberdeen”, concedendo à Marinha Inglesa o poder de apreender navios suspeitos de transportar negros escravizados no Atlântico. O HMS Cormorant foi um desses navios encarregados de reprimir o tráfico de escravos na costa brasileira.

O conflito entre o navio inglês e a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres aconteceu porque o Cormorant invadiu a Baía de Paranaguá em perseguição a quatro navios brasileiros suspeitos de tráfico de escravos, o que representou uma clara afronta à soberania territorial brasileira“, relata Joacir.

Complexidade do tráfico negreiro no Brasil

Ele ainda explica que o incidente na Ilha do Mel precipitou a aprovação da “Lei Eusébio de Queirós” pouco tempo depois, que proibiu definitivamente o tráfico negreiro com a África. Embora o comércio escravista tenha continuado por algum tempo após a aprovação da lei, a repressão aumentou fortemente a partir de 1850, levando ao seu gradual declínio.

A batalha entre o HMS Cormorant e a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres é um testemunho das contradições que o Império do Brasil enfrentava em relação à escravidão. Ao mesmo tempo em que eram aprovadas leis proibindo o tráfico de escravos, o comércio escravista com a África continuava a crescer”, avalia o professor de História.

Agora que você já conhece a história de quando moradores de Paranaguá desafiaram e venceram a Marinha Britânica nas águas da Ilha do Mel, o JB Litoral quer saber: qual outro importante período da História do Litoral você quer conhecer? Conte para nós por meio das nossas redes sociais JB Litoral, no Facebook, e @jblitoral, no Instagram.