Acesso ao porto é incluído em trecho concedido, mas sem nova praça de pedágio
Por Katia Brembatti
Hoje o trecho pedagiado termina a aproximadamente 10 quilômetros do porto. Quem chega ou sai de Paranaguá conta com a rodovia cuidada pela iniciativa privada e os serviços relacionados, como guincho, somente na BR-277. Mas isso deve mudar, se o projeto de novas concessões, que está em fase final de estudos, for aprovado. A proposta em análise pretende incluir a zona urbana no trecho a ser entregue à concessionária escolhida.
Entre as obras previstas, está a duplicação da Ayrton Senna, com inclusão de marginais e ciclovias, e a substituição de rotatórias por viadutos. Tanto a via como a Avenida Bento Rocha passarão a ser cuidadas pela concessionária. O estudo preliminar também indica que a descida e subida da serra devem ser em pista tripla. Algumas obras na região de Curitiba também devem facilitar a vida dos motoristas que se dirigem a Paranaguá. Um desvio na altura de Balsa Nova está sendo previsto, ligando ao Contorno Sul de Curitiba, que também deve ganhar pista tripla. Entre Curitiba e Paranaguá deverá ter apenas uma praça de pedágio, no mesmo lugar em que funciona hoje, em São José dos Pinhais.
João Arthur Mohr, consultor de Logística da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), acompanha as discussões sobre o novo modelo de pedágio desde as fases iniciais. Ele comenta que foram estudadas as necessidades a serem incluídas na modelagem que vai substituir o contrato atual, vigente nos últimos 24 anos, e que o acesso ao Porto de Paranaguá sempre foi uma das prioridades. Ao considerar o tempo de implantação e amortização dos investimentos, as obras para a região de Paranaguá foram estimadas para estarem prontas no ano 7 da concessão. Mas Mohr avalia que, desde o início, os mais de 2 mil caminhoneiros que chegam ao porto, no pico da safra, devem ser beneficiados pelas inclusões da área urbana no trecho concedido.
Estudos e previsões
Renan Brandão, superintendente de Concessões da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), comenta que, diferentemente de outras situações, em que empresas interessadas forneciam dados para os levantamentos, desta vez todo o trabalho de modelagem, visando a nova concessão, foi realizado pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL), em parceria com o IFC, um braço do Banco Mundial. “Foi um estudo bastante robusto, em que se fez contagem de tráfego e identificação de cenários, como matrizes de origens e destino, e se observou quais são os deslocamentos atuais e as estimativas das projeções de futuro”, explica.
A partir disso, foram dimensionadas as necessidades das vias que levam ao porto, “considerando o que tem hoje de capacidade instalada e onde eventualmente esse crescimento de tráfego que a gente está projetando vai encontrar gargalos”, acrescenta o superintendente. Na conta, foram incluídas também as perspectivas de obras ferroviárias, que poderiam alterar a dinâmica na rodovia. “A gente tem em mãos um momento ideal para propor as soluções suficientes para a redução do custo logístico, evitando qualquer tipo de congestionamento na chegada ao porto”, destaca. Ele também afirma que, a partir das audiências públicas, a população vai poder sugerir melhorias.
Sobre a decisão de não incluir novas praças de pedágio no trecho, Brandão explicou que os postos de cobranças são localizados “de uma forma que beneficiem uma ampliação da base e que todo mundo pague um pouco”. As obras mais caras incorporadas ao projeto, considerando a porção Leste do Paraná, são as pistas triplas. A avaliação mostrou que o alto investimento se justificava. “A gente está ampliando a capacidade, o que permite o tráfego com muito mais fluidez e previsibilidade. De um ponto de vista logístico, são dois valores fundamentais: reduz o custo do frete diretamente, você sabe exatamente o horário que o caminhoneiro sai, que horas que ele chega, e também agrega muita segurança”, finaliza.
Visão estatal
O diretor-presidente da empresa pública Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia da Silva, se diz otimista com a inclusão do acesso ao porto de Paranaguá no trecho pedagiado. “A gente está bem animado. É preciso investir para melhorar a chegada das cargas. Se a estrada é ruim, o caminhoneiro leva mais tempo, tem acidente e tudo mais, então é um custo que muitas vezes não é mensurado, mas impacta, sim”, diz. O secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex de Oliveira, afirma que a inclusão do acesso ao porto foi a primeira decisão tomada, quando do início dos debates sobre o novo pedágio. “Não faz sentido alguém pagar a tarifa na decida da serra, e nos 8 principais quilômetros da chegada, aquele trecho não fazer parte da concessão, sendo que é o que mais precisa de recuperação, restauração, serviço de guincho. É inaceitável”, comenta.
Porto pretende entregar projeto para tentar antecipar obra
O diretor-presidente da empresa pública Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia da Silva, conta que já oficiou diversos órgãos públicos, informando sobre a existência de um projeto executivo de obras na Ayrton Senna. O estudo foi contratado logo no início da sua gestão, quando ainda não se sabia quem executaria a obra. Agora, a Portos do Paraná espera que esse levantamento sirva de base para antecipar obras na via, previstas para estarem concluídas no ano 7 da concessão. “Queremos mostrar que temos um projeto executivo da mais alta qualidade, para sensibilizar e levar a começarem logo os investimentos, porque é um trecho sensível, conturbado, onde se confunde o tráfego urbano com o portuário. Por vezes, algum acidente ou quebra de caminhão acaba gerando congestionamentos gigantescos”, diz. “Mas a gente sabe que é difícil [conseguir a antecipação]”, complementa. Renan Brandão, da ANTT, informou que o estudo será avaliado, mas que, nesses casos, a concessionária prefere, ela mesma, realizar os levantamentos, para fazer um cálculo mais aproximado sobre a realidade da execução do projeto. (KB)