Canto da Vó: um lugar de raízes, cultura e surfistas


Por Brisa Teixeira Publicado 29/07/2021 às 16h36 Atualizado 16/02/2024 às 08h42

Muitas pessoas que visitam a paradisíaca Ilha do Mel, em Paranaguá, desconhecem um cantinho chamado Canto da Vó. Fica na Praia Grande, uma área reservada com 1.100 quilômetros de extensão, entre a Praia do Miguel e a Praia do Farol. O acesso também se dá pela trilha do Belo. É muito conhecida pelos surfistas, uma vez que a Praia Grande é um dos melhores picos de surf do Brasil, inclusive local de muitos campeonatos brasileiros.

Vó Maria rodeada pelos amigos surfistas, que se hospedavam no Canto da Vó

Dificilmente, o turista vai encontrar uma placa oficial, direcionando para o Canto da Vó. Guias, mapas e até livros, que contam a vida das comunidades da Ilha do Mel, deixam de fora esse lugar pitoresco, que guarda histórias de uma família que ali se constituiu.

A matriarca é Maria de Paula Gonçalves, chamada de Vó Maria. Daí o nome Canto da Vó (canto direito da Praia Grande). Ela foi uma das primeiras moradoras da Ilha do Mel. Uma de suas virtudes era reconhecer de quem era as pegadas na areia. Nos anos de 1970, a matriarca já hospedava os surfistas, nos campings. Na época, sempre muito generosa, segundo garantem seus clientes e amigos, aceitava o quanto o campista podia pagar ou doar. Foi assim até o final de 1980, depois os campings passaram a ser cobrados.

Vó Maria teve nove filhos. Grande parte dos descendentes mora e trabalha no Canto da Vó, o que se pode considerar uma conquista, uma vez que, no início dos anos 2000, no Governo Requião, conta seu neto Edemar Ferreira Gonçalves, tentaram realocá-los, alegando área de reversão. “Fomos considerados invasores e nos deram doze meses para a gente se retirar da Praia Grande. Resistimos e hoje, graças da Deus, estamos aqui”.

Maria de Paula Gonçalves, a Vó Maria

No ano passado, o local foi reconhecido como vila, com todos os direitos das outras existentes na Ilha do Mel. Uma vila respeitada pela história de uma comunidade agrícola, que supriu por muitos anos a subsistência de diversas famílias. 

Vó Maria viveu até o ano 2001, alguns familiares dizem que beirou os 100 anos, outros que ela chegou aos 105. Seu legado está nas lembranças da família e amigos, assim como a escola de Nova Brasília leva seu nome: Centro Municipal de Educação Infantil do Campo Maria de Paula Gonçalves. Está presente, ainda, na letra da música “Vó Maria”, de Nego Blue, músico que tem como inspiração, em suas composições, a Ilha do Mel.  Na letra, ele conta um pouquinho quem foi ela:

“Na Praia Grande viveu Vó Maria. Com muita luta construiu a sua casa e plantou o que queria. Hoje vive seus filhotes, netos e amigos em harmonia. Cada planta, cada árvore tem o toque de Dona Maria, que com muito amor e alegria criou sua família. Jeito irreverente de falar, uma mulher de fibra. Nunca parava de mudar. Se fosse dizer tudo o que vovó fez, falaria por muitos dias. Mas sou feliz por dizer: Obrigado, vó Maria. Obrigado, vovó”.

Vó Maria na visão da neta Angela Gonçalves

“Falar da Vó Maria implica em falar de uma parte da Ilha do Mel, que foi um marco da resistência pela continuação da sua identidade por meio de todos os seus descendentes que habitam hoje a Praia Grande. A Vó Maria contava que veio pra Ilha, no começo do século 20, acompanhada de seu pai, que segundo ela era o comandante de um navio português. Ele trouxe a menina para ficar sob os cuidados de um nativo da Ponta Oeste, chamado Manoel Vicente. Como o pai jamais voltou, a menina veio a ser adotada por Manoel Vicente, que cuidou dela até a adolescência, quando se casou com o Sr. Olímpio Gonçalves e foi morar, inicialmente, em Encantadas. Olímpio já lavrava a terra na Praia Grande, plantando milho, mandioca, cana de açúcar, batata doce e várias outras hortaliças e frutas, para receber a sua família com muita fartura. A vida transcorria de maneira simples, mas trabalhosa. Havia até uma fábrica de farinha, que em tempos de colheita da mandioca, era a ferramenta que juntava as comunidades da Ilha. Eram tempos em que não havia energia elétrica, mas sobrava disposição para o trabalho manual e a Vó Maria desfrutava de tudo isso junto de sua família”.

Onde se hospedar

Restaurante e Pousada Sossegos, um dos estabelecimentos comerciais mantido pelo neto Edemar Gonçalves


No Canto da Vó, é possível encontrar pousadas, campings, lanchonetes e pequenos restaurantes. Tudo administrado e organizado pelos descendentes da Vó Maria. A dica da família é para que todos conheçam o legado turístico deixado pela vó. “Se você ainda não conhece esse cantinho, quando passar pela Praia Grande ou pelo Belo, não deixe de conhecer o Canto da Vó”.

  • Casa Canto da Vó – (41) 99628-6375 – Douglas
  • Tah na Sombra Quartos e Camping – (41) 3426-9162 / (41) 99915-0275 – Carlos e Juliana
  • Canto Verde Chalés e Camping – (41) 3426-8147 / (41) 99235-3735 – João Marcos e Aline Rafaela
  • Pousada Porto Escondido – (48) 99813-5423 / (41) 98769-1001 – Jimmy
  • Beach House – (41) 3426-8225 / (41) 99963-7067 – Andrei e Elisangela
  • Aloha Pousada e Camping – (41) 3426-8199 / (41) 99763-7800 – Mauro e Creusa
  • Pousada Nascer do Sol – (41) 99106-1977 – Marilene
  • Toka das Feras Quartos e Camping – (41) 99288-1219 – Gabriela
  • Beach Break Chalé – (41) 99757-7325 – Kayna Luís
  • Labirintus Surf Camping – (41) 3426-8015 / (41) 99932-3530 – França e Marlene
  • Pousada e Restaurante Sossegos – (41) 3426-8202 / (41) 99183-3801 – Edemar e Neide
  • Pousada Incanto – (41) 99683-3464 – Juciana
  • Surf House – (41) 99544-6339 – Gustavo e Eduarda