Excepcionais passam por dificuldades sem a aula presencial em meio à pandemia


Por Redação Publicado 29/04/2021 às 19h59 Atualizado 16/02/2024 às 00h54

Por Brayan Valêncio

A educação foi um dos primeiros setores a migrar para o sistema home office durante a pandemia e deve ser um dos últimos a voltar à normalidade. Guaratuba até tentou fazer um ensino híbrido, com parte dos alunos em sala de aula e o restante acompanhando remotamente de casa, durante o início do ano letivo de 2021. Mas o agravamento dos casos provocados pelas variantes do coronavírus, fez com que as ações de integração do ensino fossem adiadas por tempo indeterminado. Seguindo a linha das atividades que passaram a ter dificuldades de acontecerem, há mais de um ano, está a educação de excepcionais, pessoas consideradas incapazes de serem independentes, se tratando especificamente de indivíduos com complicações cognitivas, motoras e mentais.

Para Liziane Costa, mãe de Emmillye Daniel, de 32 anos, o período de pandemia foi uma montanha-russa, já que houve muita dificuldade para cuidar de sua filha, que foi diagnosticada com transtornos do espectro autista com deficiência auditiva. Emmillye frequentou organizações de cuidados especiais durante toda a vida, agora ela realiza atividades na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) de Guaratuba, mas está em casa desde o primeiro semestre de 2020.

No início da pandemia as aulas foram suspensas. Depois de mais ou menos dois meses os professores começaram com a aula on-line”. Diz Liziane, que também garante que mesmo com a tentativa de auxiliar sua filha nas atividades digitais, nem sempre consegue convencer a jovem a realizar as tarefas. “A professora passa exercícios de matemática, português, artes e educação física. Quando ela aceita fazer, eu gravo e envio, mas é muito difícil convencer ela a participar”, explica a caseira de uma associação privada.

Para além das atividades tradicionais de aula, a APAE também disponibiliza atendimento com profissionais de fonoaudiologia, fisioterapia e psicólogos. “Temos o apoio de diversos profissionais sempre que precisamos. Acredito que, semana que vem, vamos poder voltar ao atendimento presencial uma vez por semana, somente com os especialistas. Já a aula presencial acho que vai demorar mais um pouco”, diz Liziane, que mesmo em meio às dificuldades, acredita ser melhor manter a filha em casa. “Eles não sabem se cuidar, então prefiro que as aulas voltem só quando tiver total segurança. É como eu sempre digo, Deus nos dá os filhos para a gente criar para o mundo, mas a Emmillye, não. A Emmillye é minha”, conclui.

Emillye tem 32 anos e foi diagnosticada com autismo com deficiência auditiva. Foto/Rafael Soveral/JB Litoral


APAE faz o possível para atender os alunos

Daniele Garcia Gomes, diretora da Escola Arlete Pereira do Nascimento, a APAE do município, explica que no início do ano passado a instituição passou a trabalhar de modo remoto, principalmente via WhatsApp, com a criação de grupos que simulam as próprias turmas. “Todo atendimento que eles tinham na escola, eles passaram a ter on-line. Os professores interagem com os alunos e seus pais por esses grupos. As aulas também são gravadas e os pais assistem com seus filhos e mandam um retorno dessas atividades para os professores”, explica a diretora, que também ressalta que todo o direcionamento educacional partiu da Secretaria de Estado da Educação e da federação das APAEs.

Mesmo com um contato muito próximo entre professores e alunos, Daniele acredita que há muita dedicação por parte dos docentes. “É um momento difícil para a educação. [Esse formato remoto] não é o ideal. Mas dentro do que é possível, os professores se empenham ao máximo, fazendo as atividades de uma forma com que os alunos gostem de participar e não percam o vínculo com a escola. Nós orientamos sempre que a assistente social visite as famílias para ver as necessidades e de que forma que a escola pode estar colaborando”, diz.

Apesar de não haver aulas presenciais, as atividades por parte da equipe pedagógica nunca pararam, desde a parte administrativa até os responsáveis por manter contato com os pais. Além do cuidado estudantil, a escola também auxilia com envio de cestas básicas às famílias necessitadas e busca, igualmente, participar de projetos sociais que eventualmente cheguem até a casa dos estudantes.

Para manter um bom desenvolvimento motor e qualidade de vida, Liziane se propõe a cumprir todas as tarefas escolares ao lado da filha. Foto/Rafael Soveral/JB Litoral

Perdas significativas

Sobre o atendimento clínico, Daniele afirma que as atividades com os especialistas retornaram há pouco tempo devido à necessidade dos estudantes. “Estamos atendendo os alunos porque é muita necessidade que eles têm. Eles precisam muito desse atendimento. Estamos, infelizmente, com um número reduzido e com intervalo desses atendimentos. Nós procuramos seguir todos os protocolos de distanciamento social”, explica Daniele, que é pós-graduada em educação especial.

Sobre a questão financeira da instituição durante a pandemia, a responsável pela escola explica que, para se manter, a Associação tem um convênio com as secretarias de educação, municipal e estadual, e também com o Sistema Único de Saúde (SUS). “Graças a Deus nenhum desses convênios foram cortados. Para as coisinhas do dia a dia, temos o clube de mães e o bazar. É com isso que a gente vai se segurando. Não sana todas as nossas necessidades, mas é o que a gente tem para o momento. A mensagem que fica é a de superação, tanto da nossa parte, quanto dos alunos e das famílias”, relata a diretora, que vislumbra uma volta o quanto antes, já que são “perdas significativas” que os alunos com mais necessidade sofrem ao não frequentar o espaço de desenvolvimento promovido pela associação sem fins lucrativos.

Paranaguá dá exemplo de cuidado com os alunos

A educação em Paranaguá ganhou destaque no litoral paranaense, durante o período de pandemia, devido à integração entre as instituições e o alcance que as escolas estão tendo no contato com os responsáveis por alunos da rede municipal. Segundo Tenile Cibele do Rocio Xavier, secretária de Educação e Ensino Integral do município, a pasta atuou desde o começo da pandemia sem parar. Mesmo sem aulas presenciais, a secretaria tem indicado como as atividades devem ocorrer e buscado uma aproximação maior com as escolas.

“As aulas para a Educação Infantil têm sido desenvolvidas por meio de propostas de interação e vivências nas quais os pais ou responsáveis são convidados a realizar junto com os estudantes. Já os alunos do Ensino Fundamental realizam as atividades propostas nos livros, atividades impressas ou até mesmo em meios tecnológicos. Nesse período mais crítico das contaminações, todas as atividades são encaminhadas via on-line e as orientações para realização são enviadas por meio de vídeo, áudio ou videoconferência”, explica a secretária.