Acusado de injúria racial contra atleta parnanguara é proibido de frequentar praças e de manter contato com testemunhas do crime


Por Amanda Batista Publicado 29/06/2023 às 13h51 Atualizado 18/02/2024 às 15h22

Thiago Batista de Freitas, de 26 anos, foi preso em flagrante ao final da partida de vôlei entre o Novo Esporte Litoral Paranaense (Nelp), de Paranaguá, e o time de Colombo, nos Jogos Abertos do Paraná, em Campo Largo, que aconteceu no domingo (18). Na ocasião, ele teria imitado um macaco e cometido crime de injúria racial contra a atleta parnanguara Suellen Cordeiro, de 34 anos.

O acusado, morador de Colombo, foi encaminhado para a cadeia pública de Campo Largo, onde permaneceu preso até a última terça-feira (20). No mesmo dia, o Ministério Público do Paraná, por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Campo Largo, o denunciou à Justiça. Desde então, o homem segue em liberdade provisória e foi proibido de frequentar praças esportivas e de manter contato com a vítima ou com testemunhas do caso.

De acordo com o advogado criminalista que defende Suellen, Bruno El Kadri, Thiago deve responder por injúria racial, um crime inafiançável, conforme a Lei 14.532/2023, com pena que varia entre 2 e 5 anos. Contudo, por ser réu primário, é provável que ele não seja condenado à prisão, aponta o advogado.

O Direito Penal prevê alguns benefícios para o réu primário, então, é possível a aplicação de penas alternativas. Provavelmente, o processo deve acarretar numa prestação de serviço comunitário ou no pagamento de pena pecuniária, quando o condenado deve fazer uma compensação em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidades de cunho social”, explica Bruno.

Para o advogado, mesmo que o processo não resulte em prisão, serve como um alerta para que casos de injúria no esporte se tornem menos frequentes. “Ainda que o apenamento seja pequeno inicialmente, serve como um aviso. Caso ele volte a cometer um crime, seja do mesmo gênero ou não, as consequências serão outras. Além disso, a própria repercussão social da ocorrência é um exemplo para a sociedade e uma forma de ressaltar a importância da denúncia”, destaca.

Suellen defende a denúncia como forma de combater os casos de injúria racial sofridos no esporte. Foto: Arquivo pessoal.


Entenda o caso


O caso aconteceu na Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade. A partida acirrada valia a classificação nas semifinais dos Jogos Abertos e cada ponto era comemorado intensamente pelas equipes.

Suellen relembra que toda vez que o time de Colombo marcava, Thiago xingava e debochava da equipe parnanguara. Mas as provocações não pararam por aí; quando a atleta conseguiu marcar, ele fez gestos imitando um macaco e disse “tinha que ser de Paranaguá mesmo essa preta”.

Ao ouvir a injúria, a parnanguara tentou acionar os árbitros e o coordenador da partida, mas foi aconselhada a voltar para o jogo, sem chance de explicar o que havia acontecido. Ela afirma que em nenhum momento os árbitros tiveram interesse em averiguar a situação ou procurar saber quais eram as ofensas proferidas ao time.

Tentei parar o jogo três vezes, tentei falar com o primeiro e com o segundo árbitro, questionei o coordenador e ele falou apenas: ‘vai para o jogo’. No final, eu estava chorando por conta de toda aquela situação e o coordenador veio até mim e disse: ‘Ah, não sabia que era injúria racial, você não me falou’, mas ele não me deu a chance de explicar o que estava acontecendo durante a partida”, conta a atleta ao JB Litoral.

Ao ser ignorada, Suellen decidiu não assinar a súmula (documento de registro da partida) e buscou auxílio junto à Comissão Central Organizadora (CCO), que a orientou a acionar a Polícia Militar se o autor ainda estivesse no local.

Chamei a polícia, daí eles ouviram a situação e levaram o torcedor para a delegacia. Ele ficou preso e ainda quer me processar por calúnia, mas não vou deixar passar batido”, afirma.

Um apelo às vítimas


De acordo com o Sindicato dos Professores do Paraná (APP), este não foi o primeiro caso de injúria registrado em jogos no estado. Em abril, na etapa municipal dos Jogos Escolares em Paranavaí, três alunos foram vítimas de insultos ligados à cor da pele e características dos cabelos em diferentes partidas da competição.

Para lutar contra essa realidade, Suellen faz um apelo para que outras vítimas também não se calem e busquem seus direitos, mesmo que no momento da agressão as autoridades não deem ouvidos. “O que eu quero é que as pessoas tenham coragem de denunciar. Infelizmente, nossa arbitragem não está preparada para lidar com essa questão. Por isso, vou levar o processo adiante, para que as pessoas vejam que temos sim que denunciar”, destaca a vítima.

Além do processo, Suellen também entrou em contato com a Federação Paranaense de Voleibol para cobrar um posicionamento da instituição. “Já enviei uma carta à Federação Paranaense de Voleibol para saber qual a posição deles a respeito do distrato e omissão do coordenador, que em nenhum momento se dispôs a me ajudar. Vou continuar cobrando, porque se não agirmos, nada acontece”, conclui a atleta.