Alunos de projeto social, em Guaraqueçaba, estão prontos para Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu


Por Flávia Barros Publicado 26/04/2023 às 07h32 Atualizado 18/02/2024 às 09h59

Uma comunidade unida, cujos integrantes, grande parte crianças e adolescentes, vão com suas famílias praticar Jiu-Jitsu. A experiência que vem transformando vidas, em Guaraqueçaba, conta, atualmente, com 140 alunos. Os resultados impressionam, principalmente pelo pouco tempo de funcionamento da escola, que começou há quase quatro anos, em agosto de 2019.

A academia faz parte da Gracie Barra, comunidade mundial de instrutores, estudantes e atletas do Jiu-Jitsu, constituída por mais de 700 escolas em seis continentes. Os títulos mais recentes dos guaraqueçabanos são de alunos vencedores do Campeonato Paranaense 2022; Sul Americano, dois vice-campeões no Brasileiro e cinco medalhistas de bronze, além de vários outros títulos em competições internacionais open.

Também fomos vice-campeões por equipe do Brasileiro Compnet, em Florianólopis, com mais de 14 medalhas de ouro“, fala o idealizador da academia em Guaraqueçaba, Silvestre de Oliveira Lopes.

Mestre Silvestre também detalha o empenho para manter o projeto em funcionamento e promover os ensinamentos da arte marcial, sobretudo às crianças. “65% dos nossos alunos são crianças e adolescentes. Dos 140 alunos, 30 são praticamente isentos de custo, 80 auxiliam com uma taxa em média de R$ 75 e 30 nos ajudam com R$ 90. O aluguel do local custa R$ 1.500,00, mais água, luz, internet e material de limpeza, uma média de 750 reais por mês“, detalha o professor, que faz ações e está sempre em busca de apoios e patrocínios para levar os atletas para competirem fora da cidade.


ANTES E DEPOIS DO JIU-JITSU


A técnica de enfermagem Jucimara Freitas veio do interior do estado para recomeçar a vida no Litoral, quando passou pelo que classifica como pior fase da vida. Era auge da pandemia de Covid-19 quando teve que lidar com a distância dos filhos e passar por muitas perdas.

Foi no jiu-jitsu que ela viu a própria vida e a do filho mais velho, diagnosticado com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), melhorar. A família coleciona medalhas de bronze, prata e ouro, em apenas um ano de prática da arte marcial. Além de todos os benefícios do esporte, Jucimara também fez questão de ressaltar a importância da equipe da academia na vida dos filhos Diego, de 11 anos, e Luiz, de apenas 7.

Quando a gente é mãe de um filho especial, nos emocionamos muito em ver a evolução deles. Ele aprendeu a importância da alimentação, da disciplina, de ficar sempre longe de drogas. O jiu-jitsu em minha família é uma bênção, uma porta de entrada para saúde física e mental. Fico sem palavras para agradecer ao Silvestre por tudo o que ele faz pelos meus filhos e pela minha família, por meio desse esporte maravilhoso. Pisar naquele tatame é algo transformador“, conta.

Felicidade compartilhada por Kelly Cristina Lourenço Xavier, mãe de Wallace, 21, e da Isabella Cristina, de 11 anos. A família ficou ainda mais unida em prol da prática de jiu-jitsu dos filhos. O primeiro a entrar na academia foi Wallace, depois a pequena Isabella, há um ano.

A minha filha estava acima do peso, vivia ansiosa, e a motivação hoje é o jiu-jitsu. Antes ela passava o dia inteiro no sofá, vendo TV e comendo salgadinho. Agora se interessou por uma alimentação saudável, pela prática de esportes, ficou mais disciplinada e melhorou até o rendimento na escola“, relata a mãe.

Temos orgulho das conquistas dela. São cinco medalhas de ouro, uma delas no Sulamericano, ocorrido no Rio de Janeiro. Enfim, nas cinco competições que ela participou fora, conquistou o primeiro lugar em todas. Agora iremos para São Paulo, onde ela vai disputar o Brasileiro“, complementa Kelly.


TRANSFORMADOR


Para o pequeno Marcelo, de 9 anos, o jiu-jitsu foi um divisor de águas. “O meu filho era quieto, isolado e o jiu-jistu abriu as portas de um mundo diferente para ele. Mudou nossa família, que agora viaja para os torneios e faz tudo unida“, detalha Renata Pontes, mãe do atleta que também irá a Barueri (SP) para participar do Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu.

Transformador também para a servidora pública municipal Luisa Barcelos, 31 anos. Ela começou a treinar em julho de 2021. Em agosto daquele ano ela conta que abriram as turmas kids da Gacie Barra, quando ela decidiu levar o filho mais velho, Vitor Emanuel, atualmente com 10 anos, e diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista, desde os 6.

“Semana passada graduou; passou da faixa cinza com listras brancas para a cinza. Confesso que, no início, enxergar ele com uma faixa na cintura era impossível. Ele passou de um menino que se recusava a interagir e só queria comer embutidos para uma criança que interage, que pede para ir aos treinos, é focado e tem se alimentado bem melhor. É uma batalha diária, que hoje é mais leve do que no início. Agora, também comecei a levar meu caçula, de quatro anos, para começar a se ambientar com as aulas“, detalha Luisa ao JB Litoral.


CASO ISOLADO


No último dia 16, um ex-aluno da academia, que frequentou os treinos por pouco mais de um ano e não participa mais das aulas desde o ano passado, segundo o mestre Silvestre, envolveu-se em uma discussão, seguida de agressões, com um outro morador da cidade, que ficou com graves lesões na face, de acordo com nota publicada na perfil da academia, no Facebook. Ainda segundo a publicação, a rixa ocorreu em espaço público e é contra toda a filosofia que norteia o Jiu-Jitsu.

O ex-aluno envolvido no episódio sempre seguiu corretamente os preceitos da arte marcial empregados na Gracie Barra, enquanto frequentava a academia. Mesmo sendo um ato externo e sem qualquer ligação com a academia, eu mesmo prestei socorro e auxiliei na condução do cidadão, que ficou ferido, ao hospital, registrei o fato, por meio de Boletim de Ocorrência, e informei aos meus superiores, solicitando providências da Polícia Militar e da justiça comum“, diz Silvestre Lopes, que também é policial militar há 20 anos, em conversa com o JB Litoral.

Estou conversando com o diretor da Gracie Barra Brasil e aguardando apurações da PMPR“, complementa Silvestre, uma vez que postagens em rede social relacionaram o fato de o envolvido na agressão ter sido atleta da academia.