Associação de Cultura Popular Mandicuera é declarada de utilidade pública municipal em Paranaguá


Por Luiza Rampelotti Publicado 11/07/2023 às 14h01 Atualizado 18/02/2024 às 16h28

A Associação de Cultura Popular Mandicuera, sediada na Ilha dos Valadares, em Paranaguá, e com atuação em todo o território caiçara (que inclui o Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina), recebeu uma importante conquista nesta terça-feira (11). O prefeito Marcelo Roque (PSD) sancionou a lei que declara a associação como de utilidade pública municipal, reconhecendo o trabalho realizado pela instituição e sua contribuição para a comunidade.

A utilidade pública municipal é um reconhecimento valioso concedido pela cidade, através da Câmara de Vereadores, evidenciando o impacto positivo do trabalho desenvolvido pela Associação Mandicuera. Além de fortalecer a imagem da instituição, esse título proporciona vantagens práticas, como a redução de taxas e a possibilidade de concorrer a doações e editais de órgãos governamentais e da Receita Federal.

Fundada em 2003, no dia 29 de julho, a Associação Mandicuera é um coletivo de pessoas interessadas em preservar a cultura popular, acolhendo estudantes, pesquisadores, professores e antropólogos em sua sede, que também funciona como uma pousada. A associação, formalmente falando, nasceu diante da necessidade de um respaldo jurídico, conforme relembra o Mestre Aorélio Domingues.

Embora o trabalho da associação seja anterior a 2003, a fundação oficial permitiu ampliar nossas ações, que abrangem quatro manifestações culturais: Folia do Divino Espírito Santo, Terço Cantado, Boi de Mamão e Fandango, além de todo o universo que envolve essas expressões caiçaras, como artesanato e culinária”, explica Mestre Aorélio.

Além disso, a Mandicuera é reconhecida como ponto de cultura pelo Ministério da Cultura, já que produz aulas para as redes municipal e estadual de educação, fornecendo informações audiovisuais relevantes para a educação, cultura, preservação e salvaguarda da cultura caiçara.

Atuação da Associação

A Associação Mandicuera tem se destacado também no âmbito político, como no caso da caxeta, madeira utilizada na fabricação de instrumentos musicais para o Fandango. Através de muita luta, a associação conseguiu criar um grupo de trabalho que permitiu o corte controlado da madeira, através de uma portaria emitida pelo Instituto Água e Terra (IAT).

Agora, conseguimos conciliar a preservação do Fandango, registrado como patrimônio imaterial pelo IPHAN, com as leis de proteção da Mata Atlântica. Atualmente, três pessoas estão cadastradas para realizar o corte da caxeta destinada à confecção de instrumentos”, conta Mestre Aorélio.

As ações da associação abrangem quatro manifestações culturais: Folia do Divino Espírito Santo, Terço Cantado, Boi de Mamão e Fandango. Foto: Divulgação

Outro foco importante da associação é a própria construção de instrumentos, buscando transmitir o ofício a um maior número de pessoas em todo o território caiçara, abrangendo cidades como Cananéia (SP), Ubatuba (SP), Parati (RJ), Itapoá (SC) e Guaraqueçaba (PR). Além disso, a associação tem realizado doações de instrumentos em todo o território, fortalecendo os grupos de cultura popular e proporcionando o surgimento de novos músicos, enriquecendo ainda mais o Fandango.

Mestre Aorélio revela que um projeto que ganha cada vez mais força é a criação da Escola Caiçara. “A Associação Mandicuera está desenvolvendo esse projeto com o objetivo de construir uma escola piloto na Ilha dos Valadares, para posteriormente expandir para outras cidades do território caiçara. A proposta envolve atividades culturais, educacionais, audiovisuais e teatrais, incluindo o Boi de Mamão, bem como aulas de percussão, canto e manipulação de bonecos”, comenta.

A Associação Mandicuera também desempenha um papel relevante nos debates políticos e na criação de políticas públicas para as culturas populares. “Participamos de discussões sobre a Lei Aldir Blanc, a Lei dos Mestres em tramitação no Congresso Nacional, além de estarmos engajados na RIBIR (Rede Integrada dos Bens Imateriais Registrados) e nas reuniões do IPHAN sobre patrimônio imaterial”, conclui o Mestre da associação.

Com o reconhecimento de utilidade pública municipal, a Associação de Cultura Popular Mandicuera busca se fortalecer em sua missão de preservar e promover as manifestações culturais caiçaras, expandindo seu impacto na comunidade e conquistando recursos que possibilitam o avanço de suas ações em prol da cultura, educação e preservação.

A Mandicuera também atua na confecção de instrumentos musicais caiçaras, como a rabeca. Foto: Divulgação