Caso Nado: Encantadas chora um ano da morte de Reinaldo Valentim


Por Brisa Teixeira Publicado 27/12/2021 às 18h49 Atualizado 16/02/2024 às 22h33
Fotografia do rosto de Nado. Ele sorri.

Hoje, 27 de dezembro de 2021, a comunidade de Encantadas, na Ilha do Mel, amanheceu ainda mais triste, relembrando um ano de morte do caso que chocou a tranquila comunidade de Encantadas. Exatamente um ano atrás, por volta das 20 horas, o nativo Reinaldo Valentim, em uma de suas saídas rotineiras para catar latinha na “Praia de Fora”, foi brutalmente golpeado até a morte – provavelmente com socos e chutes – pelo turista, natural de Guarulhos (SP), Ian Matthews Rosano Matiussi. Reinaldo Valentim, carinhosamente chamado de Nado, era um homem de 46 anos com deficiência mental. “Uma criança no corpo de um adulto”, como muitos moradores relatam.

Uma homenagem ao Nado foi realizada, hoje, no restaurante Tia Maria, de propriedade da família da vítima, às 18h30. Familiares, amigos da vítima e a comunidade de Encantadas estiveram reunidos para orar pela vítima e pedir que a justiça seja feita. A sobrinha do Nado, Jhenifer Valentim, fala em nome de todos os familiares da dor que todos estão sentindo pela ausência do ente querido e pela impunidade da justiça brasileira de um réu confesso de um homicídio qualificado. Ela lembra com carinho do tio, que era uma figura querida e presente na vida de todos da Ilha do Mel. “Era uma das primeiras pessoas que a gente via logo cedo. Conviver com essa ausência é muito difícil”, lamenta a sobrinha.

Comunidade de Encantadas pede justiça em faixa no trapiche. Foto: Leticia Teixeira Mulazani

“A família está muito triste. Além de não termos a presença dele, a gente convive com a impunidade na Justiça do Brasil, onde a polícia prende e depois solta”, disse Jhenifer, que não se conforma que ele continua em liberdade e na cidade dele. O clima de revolta da comunidade é grande por não ter havido progresso na questão judicial do caso, assim como da necessidade de um reforço no policiamento para que novos casos de violência possam ser impedidos de ocorrer.

A quantas anda o processo judicial

De acordo com o assistente de acusação, o advogado Giordano Sadday Vilarinho Reinert, em relação à situação processual do réu Ian, verifica-se que os autos estão no Tribunal de Justiça do Paraná para análise de seu recurso interposto em relação à decisão de Pronúncia. O advogado explica que essa decisão é que determinou que Ian fosse submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, por homicídio qualificado.

“No início de dezembro, o Ministério Público requereu a renovação do monitoramento eletrônico do réu, tendo sido prorrogado pelo juiz da Primeira Vara Criminal de Paranaguá, e devidamente mantidas as cautelares relativas ao recolhimento domiciliar, no período noturno e proibição de se ausentar do país”, disse Reinert.

Indagado sobre a previsão de um prazo para realização do julgamento pelo Tribunal do Júri, o advogado respondeu que “enquanto houver recursos legais processuais, o processo pode demorar mais ainda”, disse Reinert, lembrando o famoso caso de Carli Filho, que demorou nove anos e nove meses para o réu ser condenado pelo Júri Popular. “Acredito que a condenação de Ian não levará todo esse tempo”, avaliou.

Policiamento

A comunidade de Encantadas reclama da falta de policiamento e na falta de um reforço policial, desde a morte de Nado Valentim. O JB Litoral entrevistou o sargento João Carlos da Silva, secretário de segurança pública do município de Paranaguá e Coordenador Municipal de Proteção e Defesa Civil. Ele disse que, mesmo antes da Operação Verão – este ano chamada de “Verão Paraná Viva a Vida 2020/2021 e iniciada em 18 de dezembro -, a Ilha do Mel já tinha seis equipes trabalhando 24 horas por dia, sendo três, na região de Encantadas, e a outra metade, em Nova Brasília.

“Para reforçar o efetivo, visando a Operação Verão, solicitei para o comandante da Guarda Civil Municipal, Leônidas Martins, que fizesse uma quarta equipe e assim foi feito, além de um reforço no policiamento com as equipes da Ronda Ostensiva Municipal (ROMU), nos fins de semana”, explicou o sargento.  Segundo ele, hoje a Guarda Civil Municipal possui duas embarcações e dois carrinhos elétricos nas ilhas.

Ele diz ainda que para garantir ainda mais segurança foram implantadas câmeras fixas e PTZ, que são as câmeras de 360° de alta resolução, visando com isso a otimização de policiamento por meio do Centro de Comando Operacional, em que os agentes monitoram a entrada e saída de pessoas que adentram as ilhas. 

Reprodução da tela das câmera no trapiche de Encantadas
Trapiche de Encantadas reproduzido na tela da câmera PTZ de 360º e alta resolução.

Polícia Civil

O Estado também está comprometido com o reforço do policiamento, nas duas localidades da Ilha do Mel, segundo o capitão da Polícia Militar, Wagner de Araújo, Oficial de Planejamento da Operação Verão 2021/2022. “Em Encantadas que há uma movimentação maior, o 9º Batalhão da Polícia Militar disponibilizou bicicletas para que os policiais militares pudessem se deslocar para as localidades mais distantes e onde obtivemos reclamações”.

Ele conta que o efetivo recebeu nivelamento com todas as situações específicas da Ilha do Mel com um policiamento ostensivo desde o embarque, em Pontal do Sul. O policiamento ganha um reforço nos finais de semana com o canil do Batalhão de Polícia de Choque. “Esse vai auxiliar para identificar indivíduos suspeitos, com mandato de prisão em vigor e ainda aqueles que tentam atravessar para a Ilha com substâncias entorpecentes. Todos os suspeitos serão revistados”, garante o capitão.