Com quase 80 homicídios, Paranaguá alavanca números de mortes violentas no Litoral em 2023


Por Flávia Barros Publicado 10/12/2023 às 20h51 Atualizado 19/02/2024 às 07h18

Até a última sexta-feira (8), Paranaguá registrava 77 homicídios dos 116 que ocorreram em todo o Litoral em 2023. Mas os números são extraoficiais, feitos em uma contagem pelos veículos de imprensa que noticiam os casos, dede 1º de janeiro.

No entanto, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) divulgou, na terça-feira (5), o balanço criminal do 3º trimestre do ano e, com isso, uma parcial das mortes violentas no estado, de janeiro a setembro. Segundo o levantamento, durante 9 meses foram registrados 1.499 homicídios dolosos no Paraná, o que representa 10,7% a menos que no mesmo período de 2022, com 1.679 ocorrências do crime. Ainda de acordo com o boletim, dos 399 municípios paranaenses, 153 não registraram homicídios no período, 88 tiveram apenas um e, em 100, aconteceram de 2 a 5 ocorrências do crime.

De acordo com o secretário da Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio Teixeira, a queda está atrelada a um amplo trabalho de combate ao crime em todo o estado, com fiscalização nas ruas, em locais estratégicos e investigações complexas. “Isso demonstra o quanto o Governo do Estado tem investido nessa área. As forças foram reestruturadas, ganharam equipamentos e novos servidores, e estão trabalhando sempre para diminuir ainda mais esses dados”, disse.

No Litoral não


Porém, os dados relativos às mortes violentas no Litoral, que são os casos de homicídios dolosos (quando há a intenção de cometer o crime), feminicídio, latrocínio (roubo seguido de morte) e agressão que resulta na morte da vítima, demonstram que, ao contrário do que ocorreu em diversas regiões, onde houve diminuição nos homicídios, por aqui os casos aumentaram, impulsionados pelo índice registrado em Paranaguá.

Em Curitiba, por exemplo, o índice caiu 26% de janeiro a setembro de 2023, quando comparado com o ano de 2022. Já os municípios da Região Metropolitana de Curitiba tiveram reduções ainda mais expressivas do que a capital. É o caso de São José dos Pinhais (46,6%, de 58 homicídios para 31), Campo Largo (57,5%, de 40 para 17), Fazenda Rio Grande (31%, de 29 para 20) e Pinhais (74%, de 27 para 7).

No entanto, no Litoral, todos os municípios registraram mortes violentas, e os números de 2023 (oficiais, de janeiro a setembro) já superam os de 2022, com 86 casos frente aos 84 contabilizados no mesmo período do ano passado.

Mas, quando os números totais de 2023 forem divulgados, essa diferença deve se tornar ainda maior, uma vez que o número de mortes violentas no Litoral (índice extraoficial contabilizado pela imprensa) já ultrapassa a somatória de casos de todo o ano de 2022: 116 contra 114.

Número de homicídios de janeiro a setembro deste ano já superou os registrados durante todo o ano de 2022. Foto: Arquivo/JB Litoral


A contrapartida


Entre os dados criminais divulgados pelo balanço da Sesp, também estão os de furtos e roubos e os de apreensões de entorpecentes. Nesses quesitos, os números estão mais positivos na região. O Paraná registrou queda de 56% na quantidade de roubos; aqui no Litoral o destaque ficou com Paranaguá, que contou com 56 roubos a menos, uma redução de 11% no período comparativo (de 506 para 450). O número de furtos também caiu de 7,7% em todo o Paraná entre um ano e outro. Em Paranaguá, foram 714 furtos a menos (de 3.161 para 2.447), uma queda de 22,5%.

Já em relação à apreensão de drogas no estado, de janeiro a setembro de 2022, foram apreendidos 321,87 kg de maconha e 2.017,47 kg de cocaína, enquanto neste ano foram pouco mais de 34 kg de maconha e 749 kg de cocaína, reduções expressivas.

Análise dos dados


Para entender o que os números significam, o JB Litoral conversou com o delegado Ivan José da Silva, da 1ª Subdivisão de Polícia Civil de Paranaguá. De acordo com ele, a maioria das ocorrências letais investigadas pela delegacia está vinculada à disputa pelo tráfico de drogas.

Nós temos diversas facções criminosas atuando na região, tendo em vista a importância do porto de Paranaguá para o tráfico internacional. Contudo, o tráfico internacional acaba tendo reflexos também no tráfico doméstico. Aquele que se realiza na própria cidade. E isso fomenta a disputa entre as facções que entram em conflito por ponto de venda e rotas de distribuição, o que acaba escalando a violência”, afirma.

Sobre o que a Polícia Civil tem feito para reprimir os crimes contra a vida, o delegado conta que está sendo intensificada, ao longo do ano, a investigação e o combate aos homicídios. “A vinda de mais um delegado aqui para a 1ª Subdivisão, de papiloscopistas e de investigadores, desde o começo deste ano, já demonstra o reforço da força tarefa de investigação de homicídios e tráfico de drogas. Também a vinda da própria Força Nacional de Segurança Pública, com efetivo especializado para investigação de homicídios. Ainda este mês receberemos mais delegados, assim como mais investigadores”, detalha Ivan José.

Sobre a redução na quantidade de drogas apreendidas, o delegado acredita ser resultado do combate à criminalidade. “A redução pode significar um resultado positivo, tendo em vista que os canais e as vias tradicionalmente utilizadas para o tráfico de drogas na cidade estão sendo reprimidos, eles já não mais têm mais tanta liberdade de ação como outrora”, avalia.

Delegados Ivan José (direita) e Nilson Diniz (esquerda) integram equipe da 1ª Subdivisão Policial de Paranaguá. Foto: Arquivo/JB Litoral


Esforço conjunto


Em relação à queda de ocorrências de furtos e roubos na cidade, o delegado diz que é consequência de várias ações conjuntas. “Nós temos combatido esse tipo de crime, inclusive com representação de prisões, bem como um reforço por parte da Polícia Militar e apoio da Guarda Civil Municipal também. E com certeza isso auxiliou a reduzir o número de ocorrência na cidade. Ainda há muitos defeitos, mas já é um resultado concreto que está sendo demonstrado de 2022 para 2023”, conta.

E para que a segurança pública sempre avance, o papel da polícia e da população estão fortemente ligados, segundo o delegado. “Eu costumo dizer que os olhos da população são os olhos da polícia. Evidentemente que a polícia tem meios de obter informações que a população, em geral, não possui. Mas as informações que a população pode fornecer para a polícia são fundamentais e, dessa forma, toda vez que uma pessoa é ouvida na delegacia, ela traz algum componente, algum elemento, que é útil para a investigação”, diz.

O delegado ainda alerta para os meios seguros e legítimos de colaborar com a polícia. “A população pode fornecer informações de forma totalmente anônima, evitando colocar essas pessoas em risco, pelo telefone 181, ou o disk emergência 197. Ou, então, vindo pessoalmente aqui à delegacia de polícia de Paranaguá para conversar com policiais no sentido de obtermos essas informações, garantindo o anonimato dos colaboradores que trazem esses dados ao conhecimento da Polícia Civil”, explica Ivan José.

É importante destacar que a população procure esses canais. Muitas vezes, parte das pessoas faz as denúncias e envia as informações via redes sociais, e isso acaba tendo um efeito prejudicial às investigações. Evidentemente nos mantemos atentos a essas informações circulando nas redes sociais, porém, elas acabam não chegando com a facilidade e a velocidade que deveriam chegar à Polícia Civil”, finaliza o delegado.