Conheça a história e os desafios da maior produção de palmito do Paraná


Por Amanda Batista Publicado 13/07/2023 às 10h34 Atualizado 18/02/2024 às 16h44

Com o título de Capital Estadual da Pupunha aprovado na última terça-feira (11), na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), inúmeras questões são levantadas pelos produtores rurais de Guaraqueçaba que enfrentam dificuldades para expandir o comércio e desenvolver os subprodutos da palmeira.

Ao longo dos últimos 30 anos, o município se tornou o maior produtor de pupunha do Paraná, com uma produção anual de 4,3 toneladas de palmito, gerando uma arrecadação de R$ 14.663.000,00 em 2022, segundo dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado.

Um dos pioneiros no cultivo foi o agricultor Mauro de Freitas Rosas, morador de Guaraqueçaba há 47 anos. Em 1993, Mauro e seu irmão, Antônio Rosas, receberam 3,5 mil mudas de pupunha do empresário Nelson Wagner, que via na cultura uma grande oportunidade de desenvolvimento econômico para a região.

Na época, o cultivo da pupunha surgiu como alternativa sustentável ao tradicional extrativismo do palmito Jussara, que se tornou ilegal devido ao tempo de crescimento (10 anos) e morte da palmeira ao ser cortada. Em parceria com o antigo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), os irmãos testaram diversas espécies até chegar à palmeira da pupunha.

Iniciamos os testes com a Palmeira Real, mas ela produz pouco palmito, então testamos outras até partirmos para a pupunha. Fomos conhecendo bem o manejo da espécie, vimos que era uma planta perene, então decidimos expandir a produção que serviria como substituto do Jussara”, explica o agricultor.

No início dos anos 2000, Mauro ingressou na carreira política, sendo eleito vereador por dois mandatos. Como parlamentar, apresentou um projeto para a aquisição de mudas de pupunha ao Poder Executivo, que seria levado ao Governo Federal, com o objetivo de incentivar a expansão da atividade. O projeto, aprovado em 2010, beneficiou 210 produtores locais com a distribuição de 150 mil mudas.

Eu mostrei que o produtor rural poderia ter muito mais que um salário mínimo plantando e colhendo na sua propriedade, que não precisaria ir ao centro para conseguir uma fonte de renda, desde que as mudas fossem distribuídas. E deu certo. Hoje isso já é uma realidade e a venda do palmito se tornou uma grande fonte de renda na área rural”, destaca Mauro.

Mauro acredita que a união entre os produtores é a única forma de alcançar o reconhecimento pelo cultivo orgânico da pupunha. Foto: Rafael Pinheiro/ JB Litoral.

Preservação ambiental


Localizada numa região composta, majoritariamente, por área de preservação ambiental, a produção da pupunha ganhou espaço no município por ter uma alta rentabilidade por hectare, é o que explica o chefe do Núcleo Regional de Paranaguá, da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado, Maurício Lunardon.

O Litoral tem quase 90% de área de preservação, então sobra pouco para plantar. Daí precisamos desenvolver culturas que tenham alta rentabilidade por hectare e o palmito é uma delas. Graças às características do solo e do clima, conseguimos unir alta produção à preservação ambiental”, ressalta o gestor.

Maurício Lunardon.
Chefe do Núcleo Regional da SEAB, Maurício Lunardon, fala sobre planos da secretaria. Foto: Rafael Pinheiro/ JB Litoral.


Produtividade


A pupunheira tem capacidade de se reproduzir cerca de sete vezes ao ano. Cada muda é vendida a R$ 12 e o palmito pode ser comercializado cerca de dois anos após o plantio. No corte, realizado a um metro da raiz, é extraído o tolete, a parte nobre do palmito. Os outros dois terços, chamados de parte basal, são utilizados como manteiga, lasanha, purê e até estrogonofe. Cada peça é vendida a R$ 4 à indústria, que limpa, envasa e comercializa o produto.

Em Guaraqueçaba, a cultura fica concentrada nas comunidades de Batuva e Tagaçaba, com cerca de 600 agricultores, mas todos os produtores rurais possuem a palmeira em maior ou menor quantidade, conforme o secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Cassiano Ricardo Lopes.

Temos muitos casos de agricultores que mudaram de vida com a pupunha, então estamos incentivando a plantarem porque isso vai agregar na renda familiar deles. E a expansão do plantio, junto ao título de Capital Estadual, vai colocar Guaraqueçaba no mapa da produção nacional do palmito”, afirma o secretário.

Apesar do alto número de produtores, ainda não há uma associação ou cooperativa voltada para o processamento e desenvolvimento de subprodutos da pupunha. Segundo Mauro, o histórico extrativista, a interferência de atravessadores (pessoas que compram e revendem para a indústria) e, ainda, a falta de consciência dos próprios agricultores são os principais motivos para a categoria não conseguir comercializar a produção em maior escala e por um preço justo mesmo na época de colheita.

O pessoal não tem consciência que não se deve vender com 40% de desconto para um atravessador porque ele paga à vista. Se nós nos uníssemos e investíssemos na indústria teríamos um retorno muito maior. Não se deve leiloar o fruto do próprio trabalho, mas é só surgir uma empresa que paga 10 centavos a mais na peça que já vendem sem pensar no futuro”, diz Mauro.

O “leilão” do palmito acontece principalmente no inverno, quando há uma baixa demanda do mercado e uma alta produção, enquanto no verão os produtores não dão conta de suprir as necessidades do comércio.

No inverno eu prefiro não cortar a palmeira para não vender por um valor qualquer para um atravessador. Mas, o ideal seria processar e estocar o produto, porque todo mundo sabe que no verão vai faltar”, destaca Mauro.

Cassiano e Mauro
Secretário de Meio Ambiente, Cassiano Ricardo Lopes, visita plantação do produtor Mauro de Freitas. Foto: Rafael Pinheiro/ JB Litoral.


Cooperativa é a solução


O técnico agrícola do Instituto de Desenvolvimento Regional (IDR), Mário Rauli, acompanha diariamente o cultivo no município e conhece de perto os desafios do manejo e venda da pupunha. Para ele, a criação de uma cooperativa é a melhor alternativa para que os produtores sejam reconhecidos pelo seu trabalho e não dependam mais dos atravessadores para comercializar o palmito.

Queremos montar uma cooperativa porque ao invés de ganhar R$ 4 com a peça, ao final da produção, o agricultor pode receber R$ 10 ou mais. Também poderia vender o palmito em grande quantidade por um preço justo, além de participar de editais do Governo e ter o nome na embalagem, o que traz reconhecimento para a região”, destaca Mário.

Mauro conta que um grupo pequeno de produtores já está se movimentando para começar a industrializar o palmito, mas que o caminho é longo até que os demais se juntem a eles e unam forças para valorizar a cultura. “Eu acredito muito neste processo que estamos começando rumo à agroindústria. Com essa parceria, vamos mostrar que nós temos um produto forte, e contamos com a consciência do consumidor para que ele opte pelo produto fruto de uma associação que preza pela qualidade sem impactar a preservação ambiental”, conclui o produtor.

palestra: Prefeitura de Guaraqueçaba tem promovido palestras junto ao IDR e demais parceiros para incentivar o cultivo e manejo correto da pupunha no município. Foto: Rafael Pinheiro/ JB Litoral.