Crianças e adolescentes da Unidade de Acolhimento Aníbal Roque conhecem o Beto Carrero


Por Luiza Rampelotti Publicado 23/12/2022 às 15h35 Atualizado 18/02/2024 às 00h39

Os olhos brilhando, sorriso no rosto e emoção contagiante fizeram parte do dia de 14 crianças e adolescentes – entre 0 a 17 anos – da Unidade de Acolhimento Institucional Aníbal Roque, em Paranaguá. No dia 12 de dezembro, eles seguiram viagem até o município de Penha (SC), onde se divertiram muito no Beto Carrero World.

Meninos e meninas acolhidos na unidade já passaram por muitas situações difíceis na vida, apesar da pouca idade. Para chegarem até o novo lar, precisaram ser encaminhados pela Vara de Infância e Adolescência, em conjunto com o Conselho Tutelar, devido às situações de vulnerabilidade em que se encontravam.

Mas neste fim de ano, as lembranças dos dias difíceis puderam ser esquecidas por um momento para dar espaço para a construção de novas – e boas – memórias. “O passeio foi fornecido pela Secretaria Municipal de Assistência Social, que entrou em contato com vários secretários, e conseguiu com que todas as crianças e funcionários fossem adotados por cada um. Então eles tiveram um dia maravilhoso”, conta o coordenador da unidade Aníbal Roque, Alcesar Cardoso Tavares.

As expectativas para a viagem começaram muito antes, semanas atrás. Os internos só conheciam o parque através de propagandas de televisão e internet, então, estavam ansiosos, conforme conta o educador social Ari Patrício da Silva Filho ao JB Litoral.

As crianças foram acompanhadas pelos educadores sociais da unidade e aproveitaram o dia nos brinquedos. Foto: Divulgação

Sonho realizado

Quando a gente entrou na van, às 6h da manhã, eles foram a viagem toda falando sobre os brinquedos. A viagem foi bem tranquila, todos bem agitados, muito felizes. Ao chegarem no parque, os olhos deles brilhavam, estavam radiantes. Foi um sonho realizado pra eles, e para nós funcionários também, porque aprendemos muito com eles”, conta.

Ari conta que todas as crianças e adolescentes se comportaram muito bem, seguindo as orientações. Eles foram em todos os brinquedos possíveis dentro do horário de funcionamento do parque, fizeram os lanches, almoçaram no restaurante e tiveram um dia maravilhoso.

Eles ficaram à vontade, tiveram tudo do bom e do melhor. Foi muito especial para eles. Eu via neles em cada brinquedo um sonho a ser realizado. Saíram de lá muito felizes e realizados”, diz o educador, que acompanhou as crianças junto de outros três educadores da unidade.

Como funciona a unidade de acolhimento?

Enquanto as crianças e adolescentes estão no lar, a equipe técnica atua para que, o quanto antes, elas possam voltar à sua família de origem, ou para uma família acolhedora ou, então, para a adoção. A equipe é formada por 10 educadores sociais, uma psicóloga, uma assistente social e uma pedagoga, além de seis pessoas que fazem a parte de serviços gerais.

O trabalho é desenvolvido 24 horas por dia, sem pausas. O educador social Ari Patrício da Silva Filho atua no lar e comenta sobre a importância da unidade de acolhimento para a vida dessas crianças e adolescentes.

O trabalho do educador social é de alta complexidade, lidamos com aquelas crianças e adolescentes que chegam até nos bem ‘verdes’ sobre a vida, sem entendimento algum desde como colocar um chinelo, escovar os dentes, lavar o rosto, sobre higiene pessoal; tudo acarretado devido a tantos problemas que eles já sofreram devido às famílias estarem sem estrutura alguma, muitas vezes por conta das drogas, álcool, violências. Tudo aquilo que nós vemos na televisão, também temos em Paranaguá”, conta.

Atendendo crianças e adolescentes de zero a 17 anos, o lar não abandona aqueles que completam 18 anos. Pelo contrário, desde antes da maioridade eles já vão sendo preparados para que possam viver suas vidas de forma independente, reinseridos na sociedade e com esperança para o futuro.

Encaminhados ao mercado de trabalho

A partir dos 16 anos a gente já os encaminha ao mercado de trabalho, para uma vida social bem definida. Já procuramos estágios, corremos atrás de cursos, e quando eles precisam sair do lar, devido às questões legais da Justiça, eles já saem com sua kitnet montada, com dinheiro em conta bancária, proveniente de seus próprios trabalhos”, diz Ari.

Ele também fala sobre como é realizado o trabalho do educador social. “Precisamos ter uma visão ampla das crianças e adolescentes que recebemos, pois somos o primeiro contato deles quando o Conselho Tutelar os trazem. Então temos que ter absoluta empatia, não podemos trabalhar sem um olhar clínico para lidar com eles, não podemos imaginá-los através de uma visão pessoal, das nossas próprias vidas, da nossa cultura, porque eles já vêm de uma família desestrutura, com separação familiar”, comenta.

Ari destaca que os educadores sociais têm a missão de proteger, orientar, encaminhar e ensinar as crianças da unidade. O objetivo é que elas consigam olhar para si mesmas com um olhar mais sensível e compreensivo, quebrando a falsa crença de que tudo o que aconteceu em suas vidas foi por culpa delas mesmas.

Nosso trabalho é realizado em todos os setores de suas vidas, especialmente na área de saúde, pois eles chegam ali praticamente em modo de sobrevivência, com condições de vida desumanas. Com muita dedicação, conseguimos reverter esse quadro. Mas, além desse trabalho, também desenvolvemos muitas outras atividades, como na área de cultura, esporte, disciplina, arte, musicalidade, para que eles possam ter as mesmas condições de qualquer outra criança e adolescente”, conclui Ari.