Crianças que fazem parte de Família Acolhedora participam de festa natalina, em Paranaguá


Por Luiza Rampelotti Publicado 25/12/2022 às 11h58 Atualizado 18/02/2024 às 00h48

Apesar de ser um tabu, não é novidade que nem toda família é sinônimo de carinho, amor, afeto e segurança. Existem aquelas que passam por muitos problemas e, com isso, afetam negativamente o desenvolvimento de todo o núcleo familiar, especialmente das crianças.

Em casos extremos, quando crianças e adolescentes vivem em situação de vulnerabilidade ou são vítimas de omissão da própria família ou do Estado, existem formas legais de protegê-las que envolvem sua retirada do ambiente nocivo. Porém, apesar dessa separação com a família biológica, a preocupação é impedir que o convívio familiar se perca – embora em outro ambiente e com outra família.

Em Paranaguá, existe o projeto Família Acolhedora (FA), projeto da Secretaria Municipal de Assistência Social, que funciona há quatro anos e consiste no acolhimento dessas crianças e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade e necessitam de uma medida de proteção. É diferente da adoção, pois funciona como uma guarda temporária – pelo período de 30 dias a dois anos -, depois elas retornam para a família de origem ou, em último caso, seguem para a adoção.

Apesar de provisório, esse convívio promete transformar a vida não só da criança, mas também da família que a acolhe e de sua própria família de origem, pois elas também são acompanhadas pela rede de apoio da Prefeitura. Atualmente, 30 famílias estão habilitadas para o programa e 15 crianças e adolescentes estão acolhidas; eles têm idade entre dias a 17 anos. E todos participaram do “Natal do FA”, que aconteceu no dia 14 de dezembro.

Festa para as crianças e famílias


A coordenadora do Família Acolhedora, Jucelma de Lima Silva, conta que o evento natalino teve o objetivo de reunir todas as pessoas que apoiam a iniciativa ao longo do ano. “Participaram as famílias acolhedoras, crianças que já foram reinseridas em suas famílias de origem, nossos apoiadores, nossas famílias, filhos das famílias acolhedoras, etc. Fizemos um natal que integrou todas as instâncias e foi maravilhoso”, conta.

Além disso, a FA também promoveu um projeto chamado ‘Minha Carta para o Papai Noel’, onde as crianças falaram sobre suas expectativas e, ainda, pediram seus presentes. Aquelas que ainda não sabem escrever, desenharam. As cartas foram distribuídas para amigos dos participantes do Família Acolhedora, os ‘ajudantes de Noel’, que compraram os presentes distribuídos no dia do evento.

Na data, também aconteceu a Cantata de Natal com a chegada do Papai Noel. As crianças adoraram e os adultos também resgataram a magia do Natal. Esse é o objetivo do Família Acolhedora: trabalhar as famílias na sua totalidade, despertando esse sentimento de amor, fraternidade, solidariedade, envolvendo a sociedade como um todo, para que essas crianças sejam contempladas com momentos de fortalecimento de vínculos, de esperança num mundo melhor, cultivando nelas o sentimento de que a vida pode ser boa e que podemos, sim, ter fé, crer que o mundo não é só mal, que há um lugar onde as pessoas são protegidas, são cuidadas e esse lugar chama-se família acolhedora”, conta Jucelma.

Como ser uma Família Acolhedora?


As crianças e adolescentes chegam até uma Família Acolhedora encaminhadas pelo Conselho Tutelar, Vara da Infância ou Ministério Público. O acolhimento permite que elas, mesmo na situação dramática do afastamento de sua família de origem, possam se desenvolver, crescer e aguardar a solução jurídica de seus casos dentro de um ambiente familiar.

No Brasil, existem mais de 33 mil crianças acolhidas por medidas protetivas; apenas 4% delas estão em acolhimento familiar, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O número tão baixo é reflexo do pouco conhecimento da população sobre a possibilidade de contribuir com o acolhimento de uma criança dentro de sua residência.

Em Paranaguá, para fazer parte do projeto, é necessário que a pessoa que deseja se tornar a FA tenha acima de 21 anos e resida a, pelo menos, cinco anos na cidade. Além disso, ela também precisa comprovar renda, ter trabalho fixo, não ser dependente de drogas e nem ter qualquer outra dependência, não ter antecedentes criminais, entre outros requisitos, conforme dispostos na Lei Municipal 3754.

Capacitação


Toda FA passa por uma capacitação para se tornar parte do serviço de acolhimento familiar. Ela também recebe um subsídio do Município, no valor de um salário mínimo federal, atualmente R$ 1.212, para auxiliar no cuidado e necessidades básicas da criança.

O Acolhimento Familiar é sempre preferencial ao Institucional. A rotina de um lar e a presença de figuras que se tornem referências de vínculo e segurança contribuem para o desenvolvimento integral e para os processos de socialização e aprendizagem. O vínculo experimentado em ambiente familiar e o contato com este espaço proporcionam memórias e experiências que são alicerces para criar estratégias e recursos psíquicos necessários para elaborar as violações vividas”, conclui Jucelma.

A secretária municipal de Assistência Social, Ana Paula Falanga, também fala sobre o serviço de acolhimento em Família Acolhedora. “Neste serviço, famílias previamente cadastradas recebem essas crianças e adolescentes em suas casas e cuidam delas enquanto não há o retorno para suas famílias de origem. O destaque do trabalho desenvolvido em Paranaguá é o acolhimento de grupos de irmãos por uma mesma família, dessa forma, as crianças se sentem familiarizadas mesmo estando fora de suas residências e perto dos irmãos”, explica.