Em meio à insegurança, setores ligados à movimentação portuária cobram respostas sobre a BR-277


Por Redação Publicado 10/03/2023 às 00h59 Atualizado 18/02/2024 às 06h25

Em 23 de fevereiro, o Governo do Estado anunciou que as obras nos km 39 e 41 da BR-277 estavam perto de acabar e acendeu a esperança de ter a rodovia quase que totalmente recuperada, uma vez que os dois pontos em que estão sendo realizadas obras pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER/PR) seriam entregues em breve. As obras nesses locais atingidos por deslizamentos em novembro do ano passado começaram em 19 de dezembro. Já a recuperação do km 42, primeiro ponto atingido por deslizamento de barreira, no final de outubro passado, está sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e segue sem previsão de término.

EM VEZ DE OBRAS CONCLUÍDAS, MAIS DANOS

Quando moradores, turistas e, sobretudo, quem usa a rodovia para o transporte de cargas já não viam a hora de poder contar com a BR-277 plenamente disponível, mais uma péssima notícia: dessa vez não foi a barreira que veio abaixo, e sim a pista que começou a ceder, a afundar, há apenas 5,5 km de um dos pontos afetados por deslizamentos. Mais uma vez, bloqueio total da via e caminhoneiros pegos de surpresa formaram longas filas. A rodovia ficou interditada por 20 horas, da meia-noite até às 20h de quarta-feira (8). No final da tarde desta quinta-feira (9), voltou a chover forte provocando acúmulo de água na pista, além de queda de árvores bem próximo ao trecho onde surgiram as trincas expressivas no asfalto. Nova interdição total, mas desta vez, durou menos tempo, das 17h às 17h50, o suficiente para a água baixar e para que os detritos trazidos com a força da água e galhos de árvore pudessem ser retirados das pistas.

SEM CONCESSÃO, SERVIÇOS PÚBLICOS

Procurado pelo JB Litoral, o DER/PR informou, por meio de nota, que atua, em convênios com o DNIT, com duas frentes para melhorar as condições de trafegabilidade e segurança dos usuários da BR-277 na região do Litoral: serviços de recuperação da encosta do km 41, atingido por escorregamento de terra no final do ano passado, em que trabalha, atualmente, na perfuração do sólido rochoso e instalação de tela metálica de alta resistência, já tendo concluído serviços semelhantes no km 39, também atingido por um escorregamento de terra, mas de menor porte. E também disponibiliza os serviços de Operação de Tráfego Rodoviário em todas as rodovias do antigo Lote 06 do Anel de Integração, que inclui a BR-277, entre Curitiba e o Litoral. “São R$ 9,9 milhões investidos para oferecer guinchos mecânicos leves e pesados, veículo de inspeção, veículo de apoio ao Corpo de Bombeiros e veículo boiadeiro para lidar com animais soltos na pista, que podem ser acionados gratuitamente pelo telefone 0800-400-0404“, reforçou o DER/PR.

MAIS DE MIL CAMINHÕES

Já a Portos do Paraná informou que o fluxo dos caminhões que chegam pela BR-277 foi retomado após os bloqueios e as operações seguem sem prejuízos. Tanto o embarque dos navios quanto a descarga dos caminhões ocorrem normalmente desde quarta-feira (8). Ainda segundo a empresa pública, a liberação de novas cotas para descarga foi suspensa por volta das 17h da quarta, quando o bloqueio ainda estava vigente, e foi estratégico para evitar filas e outros transtornos. “Desde às 20h da última quarta-feira, quando a descida dos veículos de carga foi liberada em meia pista, pelo sentido contrário, os caminhões têm chegado aos poucos e de maneira controlada e organizada“, disse a nota.
De acordo com a Portos, a expectativa era receber, até a tarde desta quinta, mais 409 caminhões, entre agendados e com agendamentos perdidos pelas condições da estrada. De meia noite da quarta (8) até 9h30 desta quinta (9), foram recebidos 1.122 caminhões.

TIRO NO PÉ

Mas, se de um lado a Portos do Paraná afirma que está tudo sob controle, o presidente da Federação Empresas Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), Sérgio Luiz Malucelli, deu declarações nada animadoras nesta quinta-feira.

Já tentamos de tudo, pouquíssimo foi feito nesses últimos meses. Lá atrás, ainda no primeiro semestre de 2021, já havíamos alertado o estado do Paraná de que acabar com o pedágio seria um tiro no pé. Que o melhor mesmo seria, após o término dos contratos, fazer um uma extensão com contrato de manutenção. Mas o governo foi teimoso, não nos ouviu. E agora enfrenta o caos nas estradas e não temos como chegar ao porto de Paranaguá“, disse.

PREVENÇÃO E NOVA RODOVIA

O presidente da Fetranspar também afirmou que a entidade vai acompanhar e cobrar do Estado e da União que se faça um trabalho preventivo, de manutenção. “Em especial na Serra do Mar, onde temos dois viadutos que não sabemos como estão. Não podemos deixar que eles caiam para depois arrumar, ou vamos fazer uma prevenção para que o pior não aconteça?“, questionou Malucelli. Ele também levantou a bandeira pela construção de mais uma rodovia para chegar a Paranaguá. “Não podemos arriscar ter uma rodovia só e, a cada ano, suplantarmos nossa produção aqui no estado, em uma estrada de 65 anos. Se faz necessário um novo trecho para chegar ao porto de Paranaguá. Hoje temos tecnologias que furam, fazem túneis nas serras e também de forma sustentável. Se eu quiser melhorar no ranking no país tem que melhorar a chegada ao porto de Paranaguá“, finalizou.


“TEMOS O MELHOR PORTO, MAS EXISTE A POSSIBILIDADE DE DESVIAR CARGA PARA OUTROS PORTOS”

O JB Litoral também conservou com André Maragliano, diretor da Associação dos Terminais do Corredor de Exportação de Paranaguá (ATEXP). Ele defende que a falta de informações concretas pode prejudicar os portos do Paraná.

A gente tem entrado em contato com o DNIT, DER, através da Secretaria de Infraestrutura e Logística, porque somos o 2º maior porto e o melhor porto do Brasil, no que se refere ao agronegócio, mas a gente não consegue chegar nesse porto“, disparou André.


PROMESSAS DESCUMPRIDAS

O diretor da associação também ressaltou que a preocupação ficou ainda pior com o afundamento da pista, nesta semana. “O que nos preocupa é não termos nenhuma resposta por parte do DNIT. Nem tão pouco a gente sabe, exatamente, a gravidade dos problemas. Existia uma promessa, feita diretamente pela superintendência do DNIT, junto com o DER, de que até 25 de fevereiro as pistas estariam completamente liberadas. Esse cronograma já não se realizou“, contou o diretor da ATEXP.

André Maragliano ainda destacou que, com o afundamento, não se sabe ao certo quais são os pontos de vulnerabilidade. “Não sabemos o quão expostos estamos com a rodovia. Todo esse problema mostra a vulnerabilidade que a gente tem, que o nosso porto, tão importante, melhor em gestão, em eficiência, em questões ambientais, em gestão do agronegócio, enfim, quão exposto esse grande e bom porto está com relação a rodovia” questionou.


CRÍTICAS À GESTÃO X RECEIO DE NÃO CONSEGUIR RECEBER CARGAS

Para o diretor da ATEXP, uma empresa especializada, cuidando da rodovia, teria evitado esses transtornos “O que está faltando é uma gestão com expertise, eficiência, e específica de rodovia, coisas que uma concessionária tem. É bom não pagar pedágio, mas a conta chegou. Quando a gente paga o pedágio, com esse valor os estudos são feitos, monitoramentos de solo, das encostas. Hoje, qualquer chuva que cai um pouquinho mais forte a gente já sabe que alguma coisa pode acontecer“, avaliou.


CARGA VAI CONSEGUIR CHEGAR?

Segundo ele, está prevista uma supersafra de soja este ano. “Será para bater recordes de exportação, mas não temos certeza se vamos conseguir exportar esse volume pelo porto de Paranaguá, porque a gente não sabe se vai conseguir trazer essa soja do interior para o porto. Com esses transtornos estamos tendo dificuldades até de encontrar caminhões, com a oferta menor do que a demanda de caminhões, faz o preço elevar“, afirmou.

Para finalizar a conversa, o diretor alertou para os riscos. “Nós somos tomadores de decisões e temos que tomá-las com base nas informações que nós temos. No momento, não são boas, a gente não tem previsibilidade, não sabe quais são as providências, então existe sim a possibilidade de desviar a carga para outros portos“, concluiu André Maragliano.